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Contra Covid-19, marca de brinquedos da Galinha Pintadinha produz máscara

Modelo Oto: máscara diminui descarte de máscaras no ambiente e é de fácil higienização, promete fabricante - Divulgação/Nanox
Modelo Oto: máscara diminui descarte de máscaras no ambiente e é de fácil higienização, promete fabricante Imagem: Divulgação/Nanox

Marcos Candido

De Ecoa, em São Paulo

07/05/2020 04h00

Uma marca conhecida por brinquedos, como os da Galinha Pintadinha, vai enfrentar um desafio bem adulto nos próximos meses: produzir um novo modelo de máscara contra o novo coronavírus.

A primeira peça sairá da fábrica da Elka, instalada na zona norte de São Paulo, no dia 15 de maio. A máscara promete ter proteção semelhante aos modelos utilizados em hospitais. Como diferencial, é mais barata, tem melhor durabilidade e é mais fácil de ser higienizada.

A empresa estima produzir 200 mil peças até o fim deste mês, mas afirma ter capacidade para produzir até 600 mil caso a procura aumente. Profissionais de saúde serão os primeiros a receber os modelos.

Hospitais em Belém e Manaus, onde as mortes por coronavírus tem causado caos no sistema de saúde, demonstram interesse no projeto e já reservaram parte dos produtos para uma futura análise. Mas dez por cento da produção será doado, justamente, para instituições de saúde no país.

Como funciona a máscara

A máscara é feita de um polímero flexível similar à borracha. Nas regiões de bochecha, instalam-se filtros, similares ao de máscaras do tipo N95. Os filtros são protegidos por tampas para impedir o contágio pelo toque da mão, por exemplo.

Modelo de protótipo que será fabricado a partir de maio - Divulgação - Divulgação
Modelo de protótipo que será fabricado a partir de maio
Imagem: Divulgação

Segundo a empresa que assina o protótipo da marca, Nanox, testes registraram 95% de eficiência na filtragem bacteriana determinada pela BFE, tabela que define a resistência do material à infiltração de micropartículas. A porcentagem de proteção é igual ao modelo N95 convencional, tecido que desde a década de 70 é utilizada na construção civil e desde os anos 90 em hospitais.

A Nanox afirma que os novos modelos vão custar entre R$ 20 a R$ 30, mas que não precisarão ser descartados a cada turno de trabalho. O material pode ser higienizado com água e sabão e utilizado novamente com segurança — evitando investimento com novas compras.

O produto também vai com um kit com filtros de refil. Basta trocá-los e a máscara continuará pronta para uso, após higienização. O material também pode ser reciclado, o que ajuda a reduzir o descarte de produtos na natureza.

Inicialmente, a venda e o uso estarão concentrados apenas em hospitais, que têm enfrentado dificuldades com a falta de EPIs durante a pandemia.

Na composição da máscara também vai prata, material apontado como antiviral em alguns estudos. A própria Nanox reconhece que ainda falta a comprovação da eficácia do metal para este fim, mas afirma que o uso na produção da peça é seguro.

Como o projeto saiu do papel

O desenvolvimento da máscara só foi possível por um esforço conjunto entre setor público e privado para encontrar soluções no atual momento de crise.

A Nanox recebe auxílio de um fundo da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para pequenas empresas desde 2004. O valor inicial do investimento oferecido pelo órgão começa em R$ 200 mil reais e vai até R$ 1 milhão nas etapas seguintes de desenvolvimento.

"A primeira palavra que me vem na cabeça é colaboração. O brasileiro costumava pensar em fazer as coisas sozinho, mas o que vemos é que empresas entre si, ou com o Estado, estão mais colaborativas entre elas. Esse tipo de atitude deve permanecer nos próximos anos, com o fim da pandemia"

Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox

Em 2019, a empresa de São Carlos foi indicada e escolhida para ser acelerada pelo Plug And Play, programa de aceleração de projetos no Vale do Silício, reduto das "big techs" nos Estados Unidos. Empresas como Dropbox e PayPal já participaram do mesmo programa.

A participação da startup especializada em nanotecnologia fez o nome da empresa circular entre consultorias de negócios nos Estados Unidos. Uma dessas consultorias norte-americanas trabalhava com a fabricante de brinquedos no Brasil e fez a aproximação.

A Elka buscava por um produto para ajudar a sociedade e também como tentativa de diversificar os negócios em um momento de crise econômica. A venda de brinquedos em março caiu 48% em março, se comparado ao mesmo mês em 2019. Entre fevereiro e março, a queda foi de 25% no Brasil, de acordo com a consultoria de mercado NPD.

Exemplo de brinquedo produzido pela Elka; empresa continuará produzindo brinquedos, mas vai se dedicar a fabricar máscaras contra novo coronavírus

Fundada em 1955, a marca tem 350 funcionários e possui licença para produzir brinquedos da marca Frozen, Toy Story, Galinha Pintadinha, Peppa Pig e de youtubers infantis como Luccas Neto.

A união entre as empresas é o mais espetacular. Em um momento de adversidade, cada grupo traz seu conhecimento à mesa. Temos o know how da indústria e a Nanox sobre polímeros, micropartículas e proximidade à pesquisa. É como se a universidade e as empresas validassem cada processo juntas

Eduardo Kapáz Jr., diretor comercial e marketing da Elka

Anvisa flexibilizou regras para ajudar na pandemia

Com a crise provocada pelo novo coronavírus, a Anvisa liberou que empresas fora do ramo médico fizessem a produção de materiais para auxiliar e vender a hospitais sem a habitual autorização específica emitida pela instituição.

A flexibilização pode ser estendida pelo Ministério da Saúde até o fim da pandemia, o que ainda não tem prazo definido.

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