Vínculo demora, mas não tanto: como saber se terapeuta não é bom para você?
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Terapia é um recurso valioso para quem busca autoconhecimento, saúde mental e bem-estar emocional. Mas, para que ela funcione de verdade, um ingrediente essencial precisa estar presente: a relação de confiança entre paciente e terapeuta. Quando isso falha, todo o processo pode ser comprometido —e, muitas vezes, o problema não é a terapia em si, mas o profissional escolhido.
"A relação entre psicólogo e paciente é um aspecto essencial para o processo de psicoterapia", diz Deisy Emerich, doutora em psicologia clínica pela USP (Universidade de São Paulo). Portanto, é preciso se certificar de que está confortável com o profissional escolhido. É fundamental se sentir seguro, não julgado, compreendido e respeitado.
Se você começou a fazer terapia e está se sentindo mais confuso, invisível ou até mesmo invalidado, vale ligar o alerta. Ainda que algumas sessões sejam naturalmente desafiadoras —mexer em emoções e memórias não é nada fácil—, o ambiente precisa ser acolhedor. Uma boa escuta, empatia e postura ética são pilares fundamentais da prática clínica.
Mas vale lembrar que ter um bom papo ou se sentir ouvido não significa, necessariamente, que o profissional está atuando com técnica. Um bom terapeuta conduz o processo com base em uma abordagem teórica —como psicanálise, TCC (terapia cognitivo-comportamental), gestalt-terapia, entre outras—, respeitando a ética e os limites da profissão. Comentários pessoais, conselhos rasos ou julgamentos são sinais de que algo pode estar fora do lugar.

"O paciente tem que se identificar com a forma como está sendo guiado e cuidado", diz a psicóloga Thaís Martins, do Hospital Israelita Albert Einstein. Por isso, a conexão inicial pode ser um indicativo importante sobre a eficácia do processo terapêutico e se faz sentido continuar. No entanto, vale lembrar que esse vínculo vai sendo desenvolvido aos poucos, encontro após encontro. "É difícil que ele se estabeleça em uma só sessão", diz.
Ou seja: desconforto nas primeiras sessões é comum —especialmente se você nunca fez terapia antes. Abrir a própria intimidade diante de um desconhecido pode causar estranheza ou resistência. Mas, com o tempo, deve haver progresso. E esse avanço não significa sair da consulta feliz ou leve toda semana, mas perceber que existe espaço para ser você mesmo, sentir o que sente e elaborar questões profundas com apoio profissional.
Uma boa forma de avaliar se a terapia está funcionando é observar mudanças sutis no cotidiano: novas formas de olhar para os problemas, maior consciência sobre seus sentimentos, mais clareza nas escolhas e um fortalecimento da autoestima.
"Ao longo do processo percebemos que as queixas iniciais já não incomodam como antes e, a partir da tomada de consciência, o paciente desenvolve autonomia para lidar e resolver as questões que vão surgindo em sua vida", diz a psicóloga Poliana Reis, da Attento Consultórios, em Aracaju (SE). Quando esses sinais não aparecem ao longo do tempo —e, pior, dão lugar a sentimentos de desconexão ou frustração—, pode ser hora de refletir sobre a qualidade do vínculo terapêutico.
Sinais de que a terapia pode não estar funcionando
Você sente que precisa se explicar demais ou que está sendo julgado.
O terapeuta compartilha experiências pessoais sem necessidade ou faz muitos comentários fora de contexto.
Com frequência, você sai da sessão mais confuso do que entrou.
Há uma sensação constante de estagnação, sem nenhum tipo de reflexão ou movimento interno.
O profissional oferece conselhos do tipo "faça isso", em vez de te ajudar a encontrar suas próprias respostas.
Você sente que não está sendo levado a sério ou que suas dores são minimizadas.
É importante destacar que cada pessoa tem um tempo e um ritmo no processo terapêutico, e o efeito da terapia nem sempre é imediato. Mas há uma diferença entre respeitar esse tempo e permanecer em um espaço que causa mais desconforto do que ajuda.
Além disso, há condutas que ferem diretamente o código de ética da profissão. De acordo com o CFP (Conselho Federal de Psicologia), o psicólogo deve manter uma postura profissional que garanta a integridade do paciente e o bom andamento do processo terapêutico. Isso significa, por exemplo, respeitar os limites da relação, manter sigilo sobre tudo o que é dito em sessão e evitar qualquer comportamento que possa configurar abuso emocional ou psicológico.
Por isso, atitudes como responder mensagens constantemente fora do horário das sessões, compartilhar problemas pessoais como se o paciente fosse um amigo ou, ainda mais grave, desenvolver uma relação afetiva ou sexual com o paciente, são violações éticas sérias. Outros comportamentos inadequados —como atrasos recorrentes, falta de preparo, comer ou usar o celular durante a sessão— também sinalizam desrespeito e comprometem a qualidade do atendimento.
Se você identificar algo assim, vale considerar a troca de profissional e, em casos mais graves, fazer uma denúncia ao CRP (Conselho Regional de Psicologia) da sua região. A denúncia pode ser feita de forma anônima e está prevista como um direito do paciente.
1 comentário
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Jose Renato de Moraes
Muitas das psicologas dão opiniao na sua vida o que voce deve e nao fazer...um absurdo