Dá para parar o envelhecimento? Um estudo com ratos se mostrou promissor

Cientistas chineses injetaram uma molécula de RNA presente no corpo humano em ratos idosos e conseguiram reverter parcialmente o seu envelhecimento —ajudando-os a viver mais, recuperar parte de sua pelagem e manter habilidades físicas e mentais.

Os resultados deste trabalho foram publicados no último dia 15 na revista científica Cell Metabolism por um time liderado por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências.

Como surgiu a ideia?

O ponto de partida foram os cinco pilares do envelhecimento. São eles: senescência celular; alterações das expressões dos genes; perda de capacidade de produção e degradação de proteínas; exaustão de células-tronco; e inflamação crônica e comunicação entre as células alterada.

A senescência celular era o elemento-chave para os cientistas. Ela indica o ponto exato em que as células param de vez de se dividirem e replicarem, o que sinaliza o início do envelhecimento.

Quanto mais células entram em senescência, mais tecidos perdem suas funções normais. Ou seja, elas passam a liberar substâncias chamadas citocinas, que levam a inflamações, capacidade reduzida do corpo de combater doenças e o desenvolvimento de câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e perda de capacidade cognitiva —como em casos de demência.

O objetivo era a "volta no tempo": fazer com que as células retornassem a um período anterior ao seu processo de senescência. Era conhecimento comum, obtido de pesquisas anteriores, que algumas moléculas de microRNA (pequenas sequências de ácido ribonucleico envolvidas na regulação dos genes) participavam de mecanismos de defesa do corpo e até combatiam células cancerígenas.

O experimento

Pesquisadores identificaram uma molécula específica de RNA, chamada miR-302b, que tinha estas capacidades. Então, eles utilizaram exossomos —"pacotes" de células-tronco embrionárias que carregavam RNA entre elas— para restaurar a habilidade de células e tecidos que já tinham atingido o ponto de senescência a se proliferarem novamente.

Experimentos utilizaram ratos de idade entre 20 e 25 meses, o equivalente a 60 a 70 anos "humanos". Em alguns deles, os pesquisadores injetaram exossomos "normais" e em outros os pacotes com quantidades extras da miR-302b, que é capaz de afetar dois genes envolvidos na divisão celular. Um terceiro grupo recebeu apenas uma solução salina.

Continua após a publicidade

Ratos que receberam os tratamentos viveram, em média, quatro meses e meio mais do que os que tinham ganhado apenas solução salina. Eles recuperaram a pelagem que já estava falha, mantiveram peso mais saudável, voltaram a conseguir se equilibrar em uma roda giratória por mais tempo e obtiveram maior força para pinçar objetos. Enquanto isso, os ratos do grupo de controle seguiram envelhecendo e, com isso, perdendo habilidades.

Estes resultados coletivamente demonstraram que o tratamento miR-302b não apenas estendeu o tempo de vida dos ratos, mas também melhorou significativamente suas funções físicas e cognitivas enquanto reduziu marcadores do envelhecimento.
Guangju Ji, biofísico da Academia Chinesa de Ciências, e um dos autores do estudo, à revista Nature

Os animais tratados pelo time de Ji também registraram menores níveis de proteínas inflamatórias em seu sangue e conseguiram navegar um labirinto de água mais rápido. Os pesquisadores esperam que esta descoberta possa avançar o desenvolvimento de medicações que combatam o envelhecimento, embora tenham reconhecido que ainda é preciso estudar melhor qual seria o impacto deste tipo de manipulação celular em humanos —que vivem mais tempo que os ratos.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.