Vive estressado ou sozinho? Isso pode aumentar risco de ter demência cedo

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O risco de desenvolver alguma forma de demência que atinge pacientes jovens — com menos de 65 anos — pode ser minimizado com mudanças de hábitos, concluiu um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, e de Exeter, no Reino Unido. A pesquisa foi publicada no periódico JAMA Neurology em dezembro de 2023.
Como o estudo foi feito?
Cientistas identificaram 39 fatores de risco para demência. Eles revisaram casos da condição em pessoas mais velhas e mais jovens no Biobank UK (Banco de Dados Biológicos do Reino Unido). Entre os fatores estavam os sociodemográficos, genéticos, ambientais, cardiometabólicos, psiquiátricos, hábitos e estilo de vida, marcadores sanguíneos e outras questões de saúde associadas em grandes números a pacientes que adoeceram com demência.
Os pesquisadores então acompanharam a saúde de mais jovens. Eram 356.052 pessoas com menos de 65 anos que não haviam recebido um diagnóstico de demência na primeira avaliação. O acompanhamento foi entre 2006 e 2010. Cada um forneceu amostras de material biológico, respondeu a questionários e passou por exame físico.
Os moradores da Inglaterra e da Escócia passaram por um retorno em março de 2021 e os do País de Gales em fevereiro de 2018. Ao retornarem, foi avaliado se eles haviam desenvolvido demência, quais foram os hábitos mantidos no período entre as duas avaliações e quais eram os seus estados de saúde em geral.
Lista dos fatores que estão relacionados aos pacientes que desenvolveram demência antes dos 65 anos foi "enxugada". Isso após análise estatística dos progressos dos pacientes. De 39 possíveis fatores de risco, estudiosos encontraram 15 realmente associados aos casos.
Os fatores de risco associados à demência nos mais jovens
- Fatores sociodemográficos: baixo nível educacional formal e baixo status socioeconômico;
- Fatores genéticos: presença do alelo E4 da apolipoproteína E (grande fator de risco para a doença de Alzheimer);
- Estilo de vida: abstinência completa de álcool*, alcoolismo e isolamento social;
- Fatores ambientais: contato com óxido de nitrogênio, material particulado, pesticida e diesel;
- Marcadores sanguíneos: deficiência de vitamina D, altos níveis de proteína C-reativa (encontradas no corpo quando ele passa por processos inflamatórios ou infecciosos);
- Fatores cardiometabólicos: histórico de derrame, hipotensão ortostática (queda excessiva de pressão que ocorre quando a pessoa se levanta), diabetes e doenças do coração;
- Fatores psiquiátricos: depressão;
- Outros fatores: perda de audição e força de preensão palmar (capacidade dos dedos e da mão de pinçarem objetos) reduzida.
*A abstinência total de álcool poderia estar relacionada a pacientes que tiveram que abandonar o consumo de bebida por outros problemas de saúde. Por isso, os pesquisadores teorizaram no trabalho que estas pessoas já apresentariam maiores riscos relacionados à demência, enquanto aqueles que se sentem à vontade para beber mais não teriam dependência de medicações ou problemas preocupantes, possivelmente.
Nem toda demência é inevitável
Boa parte dos 15 fatores está ligada a hábitos de vida do paciente — ou às consequências deles. Portanto, a grande lição que os pesquisadores tiraram do maior estudo do tipo já realizado é ser possível minimizar os riscos de desenvolver a demência, especialmente antes dos 65 anos. Resumindo: uma pessoa pode não ser capaz de controlar quais genes carrega, mas pode se alimentar bem, se exercitar, ler e cultivar uma vida social estimulante.
Nossa pesquisa abre novos caminhos para identificar que o risco de ter demência precoce pode ser reduzido. Nós acreditamos que isso possa introduzir uma nova era de intervenções que reduzem novos casos da doença. Comemorou a pesquisadora sênior da Universidade de Exeter, Janice Ranson, em comunicado à imprensa
Saúde mental em dia é importante ferramenta de prevenção da demência. Reduzir o estresse crônico, a solidão e a depressão pode evitar a perda de funções cognitivas, seja antes ou depois dos 65 anos, salientou o professor de neuroepidemiologia da Universidade de Maastricht, Sebastian Köhler.
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