Casos de infecção genital por bactéria que 'come carne' chocam médicos

Médicos do Shrewsbury and Telford Hospital, do sistema público de saúde da Inglaterra, descreveram três novos casos de fasciíte necrosante —a infecção pela bactéria que "come a carne" do corpo humano, incluindo pele e músculos —na região genital de mulheres, em um novo artigo publicado em 8 de abril no periódico tradicional BMJ Case Reports.

O intuito dos profissionais é fazer um alerta para o número crescente destes casos no hospital, que também têm sido relatados na Europa e nos EUA.

O que aconteceu

Ginecologistas relatam três casos recentes no estudo, mas salientam que o número vem aumentando. O hospital teria tido um salto nos diagnósticos deste tipo, com 20 casos entre 2022 e 2024, quando apenas 18 haviam sido encontrados nos 10 anos anteriores. Segundo o site Live Science, diversos países da União Europeia e os EUA têm relatado aumento das infecções.

Duas das pacientes descritas pelos médicos chegaram ao pronto-socorro com queixas de dor na região da vulva. Já a terceira desenvolveu a infecção após uma cirurgia na área.

A primeira paciente procurou atendimento após notar uma pequena mancha no monte de Vênus, a região sobre o osso púbico. Seu médico particular prescreveu antibióticos, mas ela apresentou piora nos cinco dias seguintes —o que levou a infecção a se espalhar pelos grandes lábios, quadril esquerdo e porção inferior do abdome.

O caso foi fatal, apesar dos esforços da equipe do hospital. A mulher teve de passar por uma cirurgia inicialmente, em que o tecido infectado foi removido. Mas, apesar de cuidados pós-operatórios na UTI por 28 dias, acabou morrendo de sepse, infecção generalizada.

A segunda paciente chegou ao pronto-socorro com um caroço de uma semana em um dos grandes lábios. Tratava-se de um abcesso infeccionado que, nas 12 horas seguintes, comprometeu um terço do lábio. Ela precisou passar por três debridamentos —remoção do tecido morto— e depois passou por uma cirurgia para reconstruir a genitália. Os médicos afirmaram que a ferida acabou cicatrizando bem.

A terceira paciente desenvolveu fasciíte necrosante após uma cicatriz cirúrgica que acabou infectada pela bactéria. Ela havia passado por uma histerectomia para combater miomas. A mulher sobreviveu após a retirada do tecido infectado cirurgicamente, além de tratamento com antibióticos.

Que doença é essa?

A fasciíte necrosante pode ser causada por diferentes bactérias. Entre elas estão a E. coli (Escherichia coli), Klebsiella, Staphylococcus e Streptococcus (do grupo A, tipo invasivo).

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Quando ela atinge a região perineal ou genital, também é conhecida pelo nome de Gangrena (ou Síndrome) de Fournier. A bactéria infiltra a fáscia, um tecido conjuntivo ao redor dos músculos, nervos, gordura e vasos sanguíneos, e causa a morte dele. Ela se espalha muito rapidamente.

É uma infecção extremamente agressiva que pode avançar para uma situação com risco de morte em 24 a 48 horas. Após estas bactérias entrarem na pele, elas liberam toxinas potentes que podem levar à destruição rápida do tecido, liquefazendo músculos, nervos e vasos sanguíneos.
Bill Sullivan, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Indiana, ao Live Science (ele não está envolvido no estudo)

A falta de circulação de sangue nas áreas afetadas pode dificultar o tratamento com antibióticos. Apesar de rara —cerca de 0,4 a 0,53 casos são identificados a cada 100 mil pessoas no Reino Unido anualmente, segundo o estudo—, até 50% das pessoas com esta gangrena morrem.

Ela pode afetar mais facilmente pessoas com sistema imunológico já comprometido, como aquelas que têm diabetes ou câncer. Este também é o caso para quem sofre de alcoolismo ou desnutrição grave, segundo o Hospital Israelita Albert Einstein.

O diagnóstico pode ser difícil de realizar. A infecção pode ser confundida com outras ou o paciente pode se sentir inibido de procurar o médico por questões na região íntima. E o tempo é precioso neste tipo de caso.

Sintomas

  • Vermelhidão
  • Dor
  • Sensibilidade e inchaço nos órgãos genitais ou região do períneo;
  • Febre
  • Forte odor
  • Mal-estar
  • Lesão que pode ficar roxo-avermelhada, depois passa para uma tonalidade cinza-azulada e, por fim, preta (e se espalha)
  • Anemia
  • Taquicardia
  • Pressão baixa
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Possíveis causas

  • Abscesso;
  • Fístula anal e diverticulite;
  • Perfuração genital (como piercing, procedimentos cosméticos ou cirúrgicos);
  • Infecção da bexiga ou trato urinário;
  • Lesão que causa arranhão ou queimadura;
  • Picada de inseto;
  • Câncer retal;
  • Falta de higiene íntima;
  • Relação sexual;
  • Úlcera.

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