Estômago vazio, refluxo biliar, vesícula: o que causa vômito amarelo?

Visualize a cena: você está passando mal, corre para o banheiro, vomita e vê sair um líquido amarelo ou esverdeado. Sintoma de alerta? Sim. Incomum? Nem tanto.

Essa coloração costuma indicar a presença de bile, uma substância digestiva que deveria estar no intestino, ajudando na quebra das gorduras, mas que às vezes pode aparecer no estômago. Quando surge no vômito, ela pode vir em tons amarelados (mais comuns) ou esverdeados (quando está mais concentrada ou passou mais tempo no trato digestivo).

Entender o motivo dessa "visita inesperada" pode ajudar você a identificar quando o sintoma é passageiro... e quando é hora de procurar ajuda médica. Confira a seguir.

Por que o vômito sai amarelo?

Quando o estômago está vazio ou quando ocorrem distúrbios digestivos, a bile, que é produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, sendo liberada no duodeno (primeira porção do intestino delgado), pode retornar e ser expelida pelo vômito.

Ao refluir, ela deixa um gosto amargo e alcalino na boca, bastante característico. É diferente do vômito ácido típico, que é mais azedo e vem do conteúdo gástrico.

Entre as principais causas para esse fenômeno, destacam-se:

Estômago vazio ou jejum prolongado: se a pessoa vomita repetidamente ou está há muito tempo sem comer, os conteúdos sólido e líquido do estômago já foram eliminados. O que resta é a bile, conferindo ao vômito uma coloração amarela (mais diluída) ou esverdeada. Esse tipo de vômito também pode acontecer logo ao acordar, sobretudo em decorrência de muitas horas em jejum.

Refluxo biliar e gastrite: ao contrário do refluxo ácido comum, o refluxo biliar ocorre quando a bile, em vez de seguir seu caminho normal do fígado para o intestino delgado, sobe para o estômago, irritando sua mucosa. Com isso, pode causar dor abdominal, azia, náusea e vômito amarelado. Muitas vezes, esse tipo de refluxo ocorre após cirurgias no estômago ou vesícula, como a gastrectomia ou colecistectomia.

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Obstruções intestinais: quando há bloqueios no duodeno ou em outras partes do intestino delgado (causados por hérnias, aderências, tumores ou outras condições), o conteúdo intestinal não consegue seguir seu curso normal. Como consequência, o corpo tenta eliminar esse acúmulo pela via inversa, levando ao vômito, que pode conter bile, ainda mais se o bloqueio estiver próximo ao estômago.

Doenças do fígado e da vesícula: distúrbios hepáticos ou biliares, como hepatite, cálculos ou inflamações, podem interferir na produção ou no fluxo da bile. Causam ainda vômitos amarelados, além de sintomas como dor abdominal à direita, pele amarelada (icterícia) e fezes mais claras.

Uso de medicamentos irritantes: certos remédios (como anti-inflamatórios, antibióticos ou mesmo alguns suplementos) podem irritar a parede do estômago, principalmente se tomados com ele vazio. Dessa maneira, podem desencadear náuseas e vômitos com presença de bile.

Mas nem sempre o vômito amarelo tem relação direta com a bile. Em algumas situações, a cor pode vir de outros fatores:

Alimentos ou corantes: cenoura, manga, pimentão amarelo, além de temperos como cúrcuma, açafrão, colorau, ou corantes artificiais, podem deixar resíduos amarelados no estômago, alterando a cor do vômito, especialmente se a digestão estiver incompleta. Mas esse vômito não costuma vir acompanhado de sintomas gastrointestinais intensos.

Suplementos e medicamentos coloridos: vitaminas com riboflavina (vitamina B2) e remédios com corantes químicos podem dar a coloração amarela ao vômito, já que nem tudo é absorvido pelo organismo.

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Infecções gastrointestinais: algumas infecções virais ou bacterianas aumentam a produção de secreções gástricas e muco, que podem ter tom esbranquiçado ou amarelecido, mesmo sem presença de bile.

Muco estomacal: em casos de náusea intensa, o estômago pode produzir e liberar maior quantidade de muco gástrico, que é viscoso e espesso. Quando esse muco é expelido pelo vômito, ele pode ter aspecto esbranquiçado ou levemente amarelado, especialmente se estiver misturado com sucos gástricos e restos alimentares.

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Imagem: iStock

Quando é preciso investigar?

Embora o vômito amarelo, em muitos casos, seja resultado de situações simples como jejum prolongado ou episódios isolados e passageiros de enjoo, é importante ficar atento a outros sintomas que possam indicar algo mais sério. Procure orientação médica se:

O vômito amarelo ocorrer com frequência;

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Houver dor abdominal leve a moderada persistente;

Surgir febre baixa, mal-estar ou diarreia;

O vômito acontecer após o uso de medicamentos (como antibióticos ou anti-inflamatórios);

O vômito ocorrer após cirurgias abdominais recentes;

O vômito tiver cheiro forte ou aparência incomum;

O episódio vier acompanhado de perda de peso não explicada;

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Ocorra em crianças, idosos ou pessoas com doenças crônicas, mesmo que sem outros sinais graves.

Sinais que exigem avaliação urgente:

Presença de sangue no vômito (cor vermelha viva ou aspecto de "borra de café");

Vômito persistente por mais de 24 a 48 horas;

Dor abdominal intensa ou contínua;

Febre alta (acima de 38,5°C) associada ao vômito;

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Confusão mental, sonolência excessiva ou episódios de desmaio;

Sinais de desidratação: boca seca, sede intensa, fraqueza, tontura, urina escura ou pouca produção de urina;

Vômitos matinais recorrentes (podem indicar refluxo grave, gravidez ou pressão intracraniana aumentada);

Vômitos após trauma na cabeça;

Em bebês e crianças pequenas, qualquer vômito frequente ou associado a sinais de mal-estar deve ser avaliado imediatamente.

Diagnóstico e tratamento

A investigação para detectar a causa do vômito amarelo começa com uma avaliação clínica detalhada. O médico (se for um especialista, como um gastroenterologista) faz perguntas sobre quando o sintoma começou, com que frequência acontece, se está associado a outros sinais como dor abdominal, náuseas, febre, diarreia ou perda de apetite, e se o paciente tem histórico de doenças digestivas, uso de medicamentos ou consumo excessivo de álcool. Todas essas informações ajudam a identificar padrões importantes —o vômito em jejum, por exemplo, é comum em casos de refluxo biliar.

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Na sequência, o médico realiza um exame físico para avaliar sinais de desidratação, sensibilidade abdominal, febre ou alterações visíveis, como icterícia (pele ou olhos amarelados).

Se houver suspeita de condições mais específicas ou graves, podem ser solicitados exames laboratoriais, como de sangue (para checar infecções, inflamações ou funcionamento do fígado);

Complementarmente, o médico pode pedir exames de imagem, como ultrassom abdominal, e em alguns casos, uma endoscopia digestiva alta, que permite visualizar diretamente o estômago e o esôfago —tubo muscular que liga a garganta (faringe) ao estômago, conduzindo os alimentos durante a digestão.

Já o tratamento depende diretamente da causa identificada:

De forma geral, a primeira recomendação é manter o organismo bem hidratado, com água, soro caseiro ou soluções de reidratação oral;

Também é indicado fazer pausas na alimentação e consumir refeições leves em pequenas porções, evitando alimentos gordurosos, ácidos ou muito temperados;

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Medicamentos como antieméticos (para controlar enjoo e vômito), protetores gástricos (como omeprazol ou pantoprazol) e, em alguns casos, antibióticos ou medicamentos específicos para doenças biliares, podem ser prescritos pelo médico. Atenção: a automedicação não é recomendada;

Em situações mais graves, como vômito persistente, sinais de infecção ou desidratação intensa, pode ser necessária internação hospitalar para hidratação venosa e monitoramento;

Quando há suspeita de obstruções intestinais, o tratamento pode incluir jejum, sonda nasogástrica para descompressão (um tubo fino inserido pelo nariz até o estômago, usado para remover líquidos e gases acumulados) ou, em alguns casos, cirurgia;

Nas doenças do fígado e da vesícula biliar, o manejo pode envolver medicamentos específicos, alimentação controlada ou, em alguns casos, intervenção cirúrgica, como a retirada da própria vesícula.

Fontes: Flávio Feitosa, gastroenterologista do Hospital Aliança, de Salvador; Igor Lepski Calil, médico pela USP e cirurgião geral e do aparelho digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein; Rodrigo Barbosa, médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba e cirurgião do aparelho digestivo dos hospitais Sírio-Libanês e Nove de Julho.

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