Por que crianças jogam ou assistem às mesmas coisas repetidas vezes?

Apesar de muitos pais e mães ficarem com o pé atrás com a questão, especialistas são unânimes em afirmar que esses hábitos de repetição são comuns entre as crianças e que só é preciso procurar ajuda se estiverem levando a danos ou impedindo outras atividades.

Esses comportamentos partem do inconsciente e se relacionam com as emoções e para compreender certos padrões, como um aprendizado sensorial. "Surgem de forma aleatória, de acordo com vivência. Além disso, podem ser alternados com outros, assim como desaparecerem sem nenhuma repercussão", informa a pediatra Narjara Chaves.

Contudo, a atenção dos pais deve se voltar à forma como agem para não realizarem o reforço negativo, que significa chamar a atenção, associar o hábito a características pejorativas ou ameaças. A melhor forma de lidar é transformar o hábito em algo mais saudável, mas que ainda garanta interesse, conforto e bem-estar.

Se a situação representar prejuízo ou sofrimento, como não ir à escola por causa de determinado jogo ou programa, ou queixas (de visão, motores etc.) por conta da frequência, é fundamental conversar com o pediatra, o neuropediatra ou um psiquiatra infantil para avaliar se tudo está bem com a criança.

"O importante é não ter dúvidas e não ficar com a preocupação de que aquela postura possa ser um transtorno e não estar sendo tratado", fala Marcone Oliveira, pediatra com especialização em neurologia infantil.

Quando a repetição liga o alerta

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Imagem: iStock

Os rituais constituem padrões repetitivos de comportamento. "Por exemplo, só tomar água no copinho azul, só usar meia branca ou repetir a mesma sequência de ações para dormir. Essas situações demonstram que a criança é rígida e tem dificuldade em se adaptar. É muito comum nas com o espectro do autismo ou, então, ansiosas", esclarece a pediatra Ana Márcia Guimarães Alves.

Apresentar descontroles emocionais, irritação, desorganização e fazer birras ao serem impedidas de realizar o ritual, segundo a pediatra, indicam algum transtorno do neurodesenvolvimento que precisa ser identificado para que se aplique o tratamento precoce adequado.

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É muito comum as crianças terem fixações mentais ou rituais temporários. "O que determina se há um quadro que necessita de avaliação profissional é a frequência do sintoma. Por exemplo, ocorrerem muitas vezes ao dia e se prolongarem ao longo de meses. As mais inseguras ou tímidas costumam apresentar manias como um comportamento de enfrentamento", afirma Cristina Borsari, psicóloga clínica hospitalar e neuropsicóloga.

Sinais que devem preocupar os pais, de acordo com a neuropsicóloga: arrancar fios de cabelo, machucar a pele com frequência e organizar de maneira excessiva os brinquedos ou materiais escolares.

Muitas vezes, a criança possui algum transtorno e por conta dele intensifica os trejeitos. Nessa situação, não são o único sinal e estarão associados a outros. Oliveira explica que as que possuem alguma deficiência intelectual com desenvolvimentos cognitivos e emocionais mais atrasados podem manter algum costume por um tempo cronologicamente maior que outras. "No transtorno do espectro autista, o TEA, muitas estereotipias — comportamentos motores ou verbais repetidos — são confundidas com manias, levando a alguns prejuízos devido ao diagnóstico tardio."

*Com informações de reportagem publicada em 08/06/2022

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