Nem toda mentira é igual: como reconhecer alguém que não é verdadeiro?

Mentir é mais comum do que parece. Às vezes, a gente mente por impulso, outras vezes por estratégia. Tem mentira que machuca, tem mentira que salva do constrangimento. Algumas são pequenas omissões que evitam climões; outras, grandes encenações com consequências sérias.

E entre esses extremos existe um leque inteiro de nuances mostrando que, sim, nem toda mentira nasce do mesmo lugar — e nem deveria ser tratada da mesma forma.

Mentiras pró-sociais: são as clássicas mentirinhas do bem. Dizer que o jantar estava ótimo para não magoar quem cozinhou. Elogiar o novo corte de cabelo do colega, mesmo achando estranho. Ou ainda, afirmar que está tudo bem só para não preocupar alguém que já está sobrecarregado. Chamadas de mentiras pró-sociais, elas têm função prática: suavizar interações, preservar vínculos e evitar desgastes desnecessários.

Mentiras defensivas: aqui entram aquelas distorções da realidade feitas para evitar punições, julgamentos ou situações desconfortáveis. Um adolescente que finge estar gripado para faltar à aula, alguém que floreia a experiência profissional numa entrevista de emprego ou que esconde o nervosismo com um ar confiante. Nesse caso, a mentira funciona como uma armadura, não necessariamente maldosa, mas voltada à autopreservação.

Mentiras manipuladoras: a coisa muda de figura quando a mentira vira uma arma. Nesse caso, ela deixa de servir à convivência e passa a ser uma forma de enganar, controlar ou tirar vantagem. É o tipo de falsidade que mina a confiança, desgasta relações e pode ter impacto duradouro. Aqui, o prejuízo raramente é pequeno e quase nunca é só de quem acredita.

Como identificar uma mentira

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Imagem: Moyo Studio/Getty Images

Abaixo, alguns sinais que podem sugerir que alguém está escondendo a verdade; mas lembre-se: nenhum deles funciona como detector universal.

Ansiedade incomum: suor frio, mãos geladas, inquietação. Esses sintomas podem indicar que a pessoa está sob tensão, algo comum em quem teme ser desmascarado. Porém, eles também aparecem em situações de pressão ou diante de pessoas naturalmente ansiosas. Tudo depende do contexto.

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Mudança no jeito habitual: um amigo extrovertido que de repente se fecha? Ou alguém tímido que, do nada, está falante demais? Alterações no comportamento padrão podem indicar que a pessoa está tentando forçar uma atitude para parecer mais natural? e disfarçar a mentira.

Discurso desengonçado: mentir exige raciocínio rápido e constante criatividade. Por isso, quem está mentindo pode tropeçar nas próprias palavras, contradizer informações ou travar diante de perguntas inesperadas. Por outro lado, uma mentira ensaiada pode soar fluida, o que mostra que até o silêncio pode mentir.

Gestos exagerados ou ausentes: alguns mentirosos tentam parecer confiantes e naturais, o que pode resultar em gestos forçados demais, ou em uma estranha rigidez. A discrepância entre o discurso verbal e a linguagem corporal pode ser um alerta sutil, mas poderoso.

Lidando com mentirosos

Quando o hábito de mentir se torna constante e compulsivo, pode estar relacionado à mitomania, um quadro psicológico em que a pessoa constrói realidades alternativas para fugir de verdades difíceis ou reforçar uma imagem idealizada de si mesma.

Nesse caso, não adianta apenas apontar a mentira. O mais eficaz é estimular a busca por ajuda psicológica. A psicoterapia contribui para que o indivíduo entenda a raiz desse comportamento e comece a enfrentá-lo com mais consciência e responsabilidade.

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Mas nem todo mentiroso é crônico. Veja como lidar com os outros tipos:

Mentiroso defensivo: mente para evitar punições ou julgamentos. Tente criar um ambiente de diálogo aberto, onde a pessoa sinta menos necessidade de se proteger com mentiras;

Mentiroso social: dissimula para manter as aparências ou evitar conflitos. Avalie se a mentira tem impacto real ou se é inofensiva. Às vezes, confrontar diretamente só cria mais desconforto;

Mentiroso manipulador: usa a mentira como ferramenta para obter vantagens. Nesse caso, é importante impor limites claros e, se necessário, se afastar para preservar sua integridade emocional.

Fontes: Nathalya Lima, psicóloga; Kayo Barboza, psiquiatra; e Hélio Deliberador, professor de psicologia social.

*Com informações de reportagem publicada em 24/12/2024

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