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Opinião

Só milagre salva TikTok de ser banido dos EUA

Os Estados Unidos marcaram para este domingo (19) o banimento do TikTok e só um milagre pode impedir isso. Reverter o processo será outro problema.

Lojas de aplicativos e serviços de nuvem deixarão de atender o serviço, mas a rede social não sumirá dos celulares em que já está instalado. O serviço vai deixar de funcionar gradualmente à medida que novas versões de sistemas operacionais exigirem aplicativos atualizados.

Isso atingirá os 170 milhões de usuários norte-americanos do TikTok. É mais gente do que toda a internet brasileira, que, segundo a TIC Domicílios, reúne 141 milhões. O TikTok só evita ir de "arrasta para cima" se alguma empresa não-chinesa topar comprar a plataforma. Improvável que aconteça hoje. E para lá de complicado que o negócio saia. O motivo? Depende da autorização da China.

Nos 270 dias entre o Ok de Joe Biden à lei para banir o TikTok e este domingo, foram escassos os sinais de venda. A plataforma apostou tudo em contestar a decisão na Suprema Corte dos Estados Unidos e em cortejar Donald Trump, que assume a Casa Branca em dois dias.

Perdeu na Justiça e teve mais sorte com o presidente eleito.

Trump apelou aos juízes em nome do aplicativo chinês. Sem sucesso. Em resposta, sinalizou que revisará a lei responsável pelo banimento.

Ele pode fazer isso, afinal essa lei deu ao presidente o poder de definir quais países são considerados "ameaças à segurança nacional" e, portanto, podem ter suas empresas barradas nos EUA.

Mas ele quer comprar essa briga? Se sim, precisaria dizer a democratas e também aos seus colegas republicanos que ele não considera a China uma ameaça.

Não combina com o discurso protecionista que ele imprime desde a campanha.

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Nem tem a ver com o humor dos congressistas. Em uma rara união, democratas e republicanos deixaram as diferenças de lado e aprovaram a lei para banir o TikTok em apenas sete semanas.

Notícia sobre venda mesmo só a especulação de que Elon Musk poderia comprar a plataforma —algo que porta-vozes do TikTok classificaram como "ficção"— e a proposta de Kevin O'Leary, criador do Shark Tank, e do bilionário Frank McCourt, ex-dono do time de basebol Dodgers.

Antes disso, naufragaram as movimentações de Microsoft, Oracle e Walmart. Muito porque as negociações foram motivadas pela primeira tentativa dos EUA de proibir o TikTok. Foi com Trump em 2021. Com a decisão derrubada na Justiça, não havia mais por que vender.

Fechar um acordo com a Bytedance é complicado.

Primeiro porque depende de uma autorização expressa de exportação da China.

Desde 2020, algoritmos de distribuição de vídeos curtos entraram na lista de tecnologias restritas que precisam ser autorizadas pelo governo chinês antes de serem vendidas a estrangeiros.

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Segundo, porque a China é dona de ações preferencias na empresa, algo como uma "golden share", que dá direito de vetar qualquer decisão. E não é como se os chineses em algum momento já tivessem sinalizado algum apreço pelo negócio. Pelo contrário.

O projeto de lei adotado pela Câmara dos Representantes dos EUA coloca os EUA no lado errado dos princípios da concorrência leal e das regras do comércio internacional. Se a "segurança nacional" pudesse ser utilizada de forma abusiva para derrubar empresas competitivas de outros países, não haveria qualquer imparcialidade ou justiça. É lógica dos ladrões tentar todos os meios para tirar dos outros as coisas boas que eles têm. A forma como os EUA lidaram com o TikTok permite ao mundo ver claramente se as "regras" e a "ordem" dos EUA servem o mundo inteiro ou apenas os EUA.
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério do Exterior da China

Com esse estado de coisas, não à toa parte dos norte-americanos está migrando para outros serviços —um deles curiosamente é o outro app chinês, o Red Note.

E outra ala está aprendendo a usar VPN —algo em que nós, brasileiros, ficamos craques. Ironicamente muitos deles estão recorrendo justamente ao TikTok para isso. É melhor correrem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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