Sepultura prova em SP que está mesmo na hora de se despedir da música
Sepultura é a maior banda de metal da história do Brasil, e no primeiro show da turnê de despedida em São Paulo a tristeza do adeus pairava no ar. A mistura de sentimentos ao ver a banda ao vivo, ainda com lenha pra queimar, indica uma despedida quase que forçada, mas necessária.
Muitas bandas adiam o término e seguem no palco fazendo shows mornos, vivendo o brilho de outrora enquanto rodam o mundo em turnês que mais parecem caça-níqueis. O Sepultura decidiu colocar um ponto final em um bom momento: longe do auge dos anos 90, sim, mas com um quarteto sólido, técnico e que sabe como entregar um show.
Que os últimos momentos ao vivo sejam exatamente esses: um quarteto em sintonia, uma banda de 40 anos de história com vigor, potência e que deixará saudade não só pelas músicas, mas também pela presença de palco. Tem hora melhor para se "aposentar"?
É inegável que a banda que subiu ao palco do Espaço Unimed na sexta (6), às 21h30, não é mais aquele Sepultura que cravou no metal a mistura da música brasileira, a percussão tribal e os acordes dissonantes pesados. Os irmãos Cavalera — o guitarrista/vocalista Max e o baterista Iggor — fazem muita falta dentro da comemoração de 40 anos do grupo, mas viver do passado, ainda mais depois de tanta rusga, é dramático para uma banda.
O grupo conta com o vocalista Derrick Green desde 1997 e tá cansado de falar sobre o "antigo" Sepultura. Ainda mais agora: por que ficar no passado se o presente já é o fim?
O vocalista americano é estrondoso no palco. Simpático, conversa com o público e fala português com um sotaque carregado, dividindo a atenção com o guitar hero Andreas Kisser e a segurança do baixista Paulo Xisto. Para completar o quarteto, o novato Greyson Nekrutman sua a camisa para seguir o ritmo e as quebras de compasso nas baquetas — com pequenas falhas, mas que não atrapalham o vigor da performance.
É bonito de se ver como a banda estava ansiosa para o trio de shows em São Paulo, sendo que o primeiro teve os ingressos esgotados em minutos, assim que anunciaram a turnê "Celebrating Life Through Death". Foi um show especial, gravado para a posteridade, e com a marca Sepultura.
Os hits sempre serão os mais celebrados, evidentemente. As quatro décadas da banda são relembradas com um setlist longo, tentando abraçar as diversas fases — o que é feito com maestria. Estão lá o thrash metal de "Arise", a velocidade de "Schizophrenia" e o groove de "Roots" e "Chaos A.D.", que depois deram lugar a mais nove álbuns.
A porradaria sonora abre com a dobradinha "Refuse/Resist" e "Territory" antes de caminhar por "Propaganda", "Attitude", "Dead Embryonic Cells", "Troops of Doom", "Kaiowas" e mais. O encerramento é "Ratamahatta" emendando "Roots Bloody Roots".
Adeus
O Sepultura convive com as dúvidas há quase 30 anos. É a briga com a saída dos Cavalera, o vocalista que precisa se provar a cada álbum ou turnê, a saída do ex-baterista Eloy Casagrande para o Slipknot semanas antes da turnê de despedida, o peso do sucesso de "Roots" que nunca se repetiu, a falta que faz um segundo guitarrista no grupo...
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Quero receberSim, o Sepultura não repetiu o impacto de "Roots" desde então, por outro lado, lançou álbuns sólidos nos anos seguinte como "Against", "Machine Messiah" e "Quadra", mantendo presença nos principais festivais do gênero na Europa e Estados Unidos.
E ao vivo a banda se garante, tecnicamente segura e com fãs que sempre estão dispostos a celebrar a aura das canções que revolucionaram o metal. Por isso esse é o momento perfeito para o adeus. Ninguém quer ver uma banda se arrastando no palco, com o vocalista sofrendo para alcançar as notas ou o guitarrista desleixado por não conseguir mais solar como nos velhos tempos.
Seguindo o cântico ouvido pelas 8.000 vozes que lotaram o primeiro show em São Paulo, devemos sempre respeitar e lembrar: Sepultura é Brasil, porra! E isso nos enche de orgulho, mesmo que seja em tom de despedida.
O Sepultura volta a se apresentar no Espaço Unimed neste sábado (7) e domingo (8). Ainda há ingressos para a última apresentação.
Veja o setlist do show
- Refuse/Resist
- Territory
- Propaganda
- Phantom Self
- Dusted
- Attitude
- Spit
- Kairos
- Means to an End
- Convicted in Life
- Guardians of Earth
- Mind War
- False
- Choke
- Escape to the Void
- Intermission
- Kaiowas
- Dead Embryonic Cells
- Biotech Is Godzilla
- Agony of Defeat
- Orgasmatron (Motörhead cover)
- Troops of Doom
- Inner Self
- Arise
- Ratamahatta
- Roots Bloody Roots
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