Por que 'The White Lotus' deveria acabar nesta terceira temporada

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"The White Lotus" é uma das séries mais festejadas do streaming contemporâneo. Tendo como ponto de partida um mistério de assassinato em um local paradisíaco —no caso, a rede de hotéis que batiza a trama—, seu criador, Mike White, expandiu o escopo ao elencar hóspedes como suspeitos e desenvolver cada personagem como pessoas fragmentadas muito antes de o crime dominar a história.
Com o fim da terceira temporada, White poderia pisar no freio e reconsiderar a própria fórmula. Apesar de alguns personagens extremamente complexos, e de arcos dramáticos verdadeiramente emocionantes, "The White Lotus" não esconde sua fadiga, traduzida em linhas narrativas que não vão a lugar nenhum, personagens que perdem suas características no meio da trama e um final abrupto e, sinto dizer, óbvio.
Desta vez, as "férias" foram na Tailândia, com paisagens de tirar o fôlego e dose farta de elementos exóticos, abusando sem dó dos estereótipos da cultura local. A trama é dividida em três núcleos distintos: a família abastada que só é feliz na superfície, as três amigas de infância que viajam para se reconectar, e o sujeito de objetivos misteriosos que aliena a namorada para acertar as contas com o passado.
Como nas temporadas anteriores, a série abre com as evidências de um crime —só que, em vez da descoberta de um corpo (ou "corpos"), dessa vez acompanhamos um tiroteio distante sem saber quais seriam as vítimas. A partir daí, o relógio retrocede em uma semana para que Mike White possa desenvolver seus personagens disfuncionais com diálogos sardônicos e sem economizar no humor ácido.
O problema aqui é a repetição. A família encabeçada por Jason Isaacs e Parker Posey (excepcional como dondoca chapada) traz dúzias de paralelos com o núcleo protagonizado por Connie Britton e Steve Zahn na primeira temporada. As amizades fragmentadas vistas nos casais da segunda temporada espelham os conflitos do trio Carrie Coon, Michelle Monaghan e Leslie Bibb. O ponteiro dos "problemas de gente branca e rica" encosta no 11.
Se o texto não foi lá uma maravilha, os bons personagens mais do que compensam nessa nova rodada. Tudo que eu falar sobre Parker Posey será pouco. Sua dobradinha com Jason Isaacs, mesmo dolorosa, vai muito além do estereótipo do "americano idiota". A maior surpresa é Patrick Schwarzenegger, que consegue alguma simpatia e evolução dramática no papel infeliz de filho playboy e emocionalmente raso.
"The White Lotus", contudo, vale cada segundo de seu tempo —e pode agradecer a Walton Goggins. Veteraníssimo da TV ("Fallout") e do cinema ("Os Oito Odiados"), aqui ele interpreta Rick, sujeito complexo e melancólico que chega ao White Lotus com sua namorada, Chelsea (a adorável Aimee Lou Wood), mas não esconde a raiva por trás de seu olhar, fixado no plano que pode desencadear todo o caos que conduz a trama. Rick e Chelsea são o pulso agridoce que eleva a série.
Apresentar novos personagens a cada temporada é o desafio autoimposto por Mike White. Embora exista uma continuidade tênue, aqui representada pelos personagens de Natasha Rothwell e Jon Gries, a série é refém de um eterno reset de seu elenco. Se existe o conforto de trazer tramas fechadas, perde-se tempo considerável em posicionar mais uma vez todas as peças no tabuleiro. Como resultado, o jogo parece viciado.
White já deixou claro que, depois de visitar o Havaí, a Itália e a Tailândia —sempre usando um hotel da rede Four Seasons como locação—, a próxima trama trocará praias de cartão postal por um cenário radicalmente diferente —eu chuto algo nos Alpes europeus, com neve, muito frio e uma dezena de suspeitos congelando os ossos. Seria a chance perfeita para "The White Lotus" chacoalhar seu próprio status quo e voltar a surpreender. Só não se animem com uma temporada no Brasil: sem nenhum Four Seasons em solo pátrio para abrigar a produção, a série morreria, desabrigada, na praia.
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