Roberto Sadovski

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'Star Wars tem espaço para todo tipo de história', diz produtor de 'Andor'

"Não existem mais fãs de 'Star Wars'." Um amigo cravou essa pérola num papo há algumas semanas, pouco depois de a LucasFilm anunciar o futuro da saga em todas as mídias durante sua Celebration, evento realizado este ano em Tóquio. Enquanto a velha guarda segue chorando o "fim" deste universo depois de "O Retorno de Jedi", lançado num jurássico 1983, a marca segue mais viva - e capilarizada - do que nunca.

A segunda temporada de "Andor", contudo, vai além. Sob o comando do showrunner Tony Gilroy, a nova série consegue um feito há muito apenas sugerido por um derivado de "Star Wars": sob o prisma da fantasia, a gênese da Aliança Rebelde ante a dominação do Império deixa a pirotecnia em segundo plano para se concentrar nas pessoas que tem suas vidas profundamente marcadas por uma ditadura cruel que se apresenta cinicamente como uma "democracia". Nunca houve tanto em jogo.

A cronologia não linear de "Star Wars" faz com que "Andor" se torne ainda mais contundente. Seu protagonista, afinal, teve o fim de sua jornada mostrado nos cinemas em 2016 no espetacular "Rogue One", um recorte da saga longe das agruras da família Skywalker. Todos os caminhos em "Andor" levam a um clímax que já conhecemos, o que estranhamente deixa a série ainda mais impactante.

Diego Luna volta na segunda temporada de 'Andor'
Diego Luna volta na segunda temporada de 'Andor' Imagem: LucasFilm

"Saber o fim da jornada foi essencial", diz Tony Gilroy, que conversou comigo dias antes da estreia da segunda temporada de "Andor" na plataforma Disney+. "Diego Luna percebeu isso quando a gente tentava emplacar a primeira temporada", continua. "Se a série é boa, se ela foi possível, o motivo é que sabemos exatamente para onde estamos indo. Tínhamos um lugar para alcançar, e essa foi nossa última chance para fazer isso."

Diego Luna interpreta Cassian Andor, órfão que cresceu nas entrelinhas da ascensão do Império. Ladrão habilidoso, ele é convertido para a causa e se torna sabotador e espião a serviço de uma Aliança Rebelde que ainda não descobriu a melhor forma de quebrar seus opressores. A primeira temporada, exibida em 2022, trouxe as origens e as motivações de Andor em empreender sua jornada. Já a nova temporada cobre quatro anos antes dos eventos de "Rogue One", cada um representado por um conjunto de três episódios.

Essa estrutura ajudou a remover parte dos elementos fantásticos para se concentrar na relação complexa entre os personagens desse mundo. "O que 'Andor' fez melhor foi remover o gênero da equação", explica a atriz Genevieve O'Reilly, que interpreta Mon Mothma, senadora da República que fatalmente abraça seu papel como uma das líderes da Aliança rebelde.

"Nessa segunda temporada essa relação entre personagens fica mais clara porque saltamos um ano a cada três episódios", continua. "Ou seja, mostramos 3 ou 4 dias desse ano, uma semana no máximo, o que remove toda influência externa, o trabalho é muito mais preciso, já que podemos ver o que está acontecendo com aquela mulher naquele momento específico."

Genevieve O'Reilly como Mon Mothma em 'Andor'
Genevieve O'Reilly como Mon Mothma em 'Andor' Imagem: LucasFilm
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Tony Gilroy entrou no mundo de "Star Wars" quando o diretor Gareth Edwards finalizada "Rogue One". Roteirista da trilogia "Bourne", Gilroy lapidou as conexões do filme com a trilogia clássica e aumentou o volume em suas consequências políticas - sem nunca deixar de lado o fator entretenimento. Ainda assim, ele se diz incapaz de vencer qualquer jogo de trívia sobre o universo criado por George Lucas.

"Minha vida nos últimos cinco anos foi só 'Andor'", conta, ressaltando que é um pedaço muito específico da tapeçaria da série, abraçando os 5 anos do momento em que conhecemos Cassian Andor na primeira temporada até o clímax de "Rogue One".

"Eu perderia em um quiz de 'Star Wars', menos nas coisas relacionadas a este recorte", ressalta. "Esse meio que é o trabalho do showrunner, porque gravamos fora da ordem com diversos diretores e eu conspirava com os atores, que são os verdadeiros xerifes da consistência, para manter tudo na linha."

Genevieve O'Reilly e o produtor Tony Gilroy falam sobre a nova temporada de 'Andor'
Genevieve O'Reilly e o produtor Tony Gilroy falam sobre a nova temporada de 'Andor' Imagem: Reprodução

Se responsabilizar por um pedaço de cultura pop tão valioso como "Star Wars" exige respeito e responsabilidade, especialmente quando nos aproximamos da celebração dos 50 anos do filme original, que acontece em 2027. "O que Star Wars faz muito bem e de maneira muito bonita é unir o universal com o íntimo", reflete Genevieve sobre a longevidade da série.

"Temos as guerras, as lutas interplanetárias, mas o núcleo do filme original é uma família", continua. "'Andor' usa esse modelo ao navegar por relacionamentos, é sobre amor, sobre perda, sobre dor, comunidade e sacrifício. São qualidades profundamente humanas."

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Tony Gilroy acena com a cabeça e completa, amarrando essa jornada de quase cinco décadas com as ideias originais de seu criador. "Quando George fez 'Star Wars' ele se dispôs a falar sobre política, ou sobre destino messiânico, sobre isolamento, sobre fascismo, ele mostrou o preço da coragem", crava.

"O tom é sempre muito diferente ao longo do caminho, e claramente 'Andor' ressalta essa mudança, mas as cores e os pincéis são as ferramentas gregas essenciais para contar uma história." O produtor pausa e logo completa: "Talvez seja por isso que 'Star Wars' mantenha sua integridade até o fim".

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