Roberto Sadovski

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Opinião

Ligeiro e descomplicado, 'Karatê Kid: Lendas' é puro suco dos anos 1980

"Karatê Kid: Lendas" é uma verdadeira máquina do tempo. A ambientação pode ser contemporânea, mas o filme é herdeiro direto de aventuras infantojuvenis de outrora. São heróis e vilões com motivações claras e sem nenhum tom de cinza, saindo no braço para resolver problemas adolescentes como se estivessem lutando pelo futuro do planeta. É exagerado, é cafona e, de alguma forma, funciona.

O motor de "Lendas" é, por óbvio, "Cobra Kai", novelão que, entre 2018 e 2025, retomou os personagens do filme original em seis temporadas no streaming. O sucesso da série colocou seu protagonista, o ator Ralph Macchio, novamente no radar, e sua volta ao cinema fecha um círculo ao abraçar o remake de 2010, protagonizado por Jaden Smith e Jackie Chan, como parte do mesmo universo.

Assim como nos filmes originais, na nova versão e na série, a trama de "Karatê Kid: Lendas" é de simplicidade espartana. O adolescente Li Fong (Ben Wang) vive em Pequim e treina kung fu na academia do mestre Han (Jackie Chan). Sua mãe (Ming-Na Wen), uma médica, recebe uma oferta de emprego e os dois se mudam para Nova York — sair da China é a chance de eles colocarem para trás a morte do irmão de Li, uma tragédia que fez o jovem prometer nunca mais lutar.

Daí para frente é livro para colorir com números. Li se interessa pela jovem Mia (Sadie Stanley) e vira alvo do ex-namorado (Aramis Knight), convenientemente o campeão de algo chamado "Batalha dos Cinco Bairros", torneio de artes marciais espalhado por Nova York. De forma relutante, Li ensina artes marciais para o pai de Mia (Joshua Jackson), ex-boxeador que precisa voltar ao ringue para pagar uma dívida.

Jackie Chan e Ralph Macchio com Ben Wang em 'Karatê Kid: Lendas'
Jackie Chan e Ralph Macchio com Ben Wang em 'Karatê Kid: Lendas' Imagem: Sony

O filme já passa da metade quando Han chega em Nova York direto da China e convence Li a lutar no torneio — para superar o trauma e o medo. O treinamento conta com uma surpresa: Daniel LaRusso (Macchio), que conhece o histórico do mestre chinês com seu próprio sensei, o Sr. Miyagi. Convocado por Han, o Karatê Kid original ajuda a "juntar as duas casas" e fazer com que Li mescle caratê e kung fu em sua luta final.

Claro que nada disso faz sentido — Nova York como uma cidade entregue às artes marciais, a reunião improvável e supersônica dos dois mestres, a velocidade com que LaRusso ensina caratê a Li. Tudo acontece rápido demais e de forma simplista. Não há conflito real além dos traumas do passado, o vilão é só um moleque agressivo sem o charme de Johhny Lawrence, o romance de Li e Mia não tem nenhum tempero.

Com tudo misturado, no entanto, o filme é agradável e até empolgante — o trampo do diretor Jonathan Entwistle é simplesmente não mexer em time vencedor. "Karatê Kid: Lendas" é propositalmente anacrônico porque é isso que, como comprovado pelo sucesso de "Cobra Kai", funciona: a boa e velha batalha do bem contra o mal, versão Geração Alpha, com uma pitada de nostalgia para fazer a coisa engrenar. Com seis filmes e uma série na manga, é certo que "Karatê Kid" não vai parar por aí.

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