'Until Dawn' é terror rasteiro que estreia com algumas décadas de atraso
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"Jovens reunidos em lugar ermo com motivação trágica e/ou sexual são mortos um a um por uma força sobrenatural." Essa frase, que define dezenas de filmes de terror desde os anos 1980, resume uma das tramas mais batidas do gênero. Uma história usada e abusada em uma dúzia de "Sexta-Feira 13", revolucionada com "A Morte do Demônio", parodiada em "Tucker e Dale Contra o Mal" e desconstruída em "O Mistério da Cabana".
Trilhar este caminho em pleno 2025, ainda por cima sem um pingo de ironia, é atestado de a) total falta de talento, ou de b) executivos malandros atrás de lucro rápido. Como "Until Dawn - Noite de Terror" é adaptação de um videogame premiado, aposto na segunda alternativa. O que não alivia, de forma alguma, a cara de pau da simples existência do filme.
Com um elenco que deve ter custado uma paçoca e o troco do ônibus - à exceção de Peter Stormare, que assume o papel de "homem mau misterioso" -, "Until Dawn" parte de uma premissa trágica (olha aí), quando a irmã de Clover (Ella Rubin) desaparece ao cair na estrada após a morte de sua mãe. Cabe à jovem refazer seus passos, acompanhada de Max (Michael Cimino, o sensível), Nina (Odessa A'zion, a cética), Abe (Belmont Cameli, o namorado brucutu da cética) e Megan (Ji-young Yoo, a sensitiva).
A turma chega em um hotel ermo e não demora para serem atacados por um psicopata mascarado, que os mata um a um de forma cruel. Não importa. Quando o relógio/ampulheta tomba seu último grão de areia pouco antes do amanhecer, os cinco reaparecem, vivos e confusos, destinados a repetir a noite de carnificina até que todos consigam sobreviver até o raiar do Sol.

Espanta a velocidade com que eles descobrem a peculiaridade de sua situação. Espanta mais ainda quando os personagens estabelecem regras - "a cada noite um novo terror vai nos assombrar" - para em seguida serem atingidos pelas mesmas criaturas do dia anterior. Pistas de uma suposta diversidade maligna são deixadas ao longo do filme, mas o diretor David F. Sanberg (que até anteontem parecia promissor com "Quando as Luzes se Apagam" e, vá lá, "Shazam!") dá de ombros e segue com o mesmo psicopata até o final.
Até que dava para passar aquele pano esperto em "Until Dawn" se ele fosse, sei lá, assustador - afinal, é um filme de terror. Nem isso. Sanberg gosta de barulhos óbvios e de todos os clichês que já eram motivo de deboche quando "Pânico" estreou em 1996 - sim, temos vários "eu volto já" ao longo da metragem. Como no game, existe a sugestão de que todos os jovens, caso fracassem em sobreviver por mais de duas semanas, se tornarão monstros para sempre. Essa premissa, como todo o resto, também não sai do lugar.
Some a essa inanição narrativa uma geografia cinematográfica confusa (em nenhum momento sabemos nossa localização no espaço do filme) e um design de criaturas absolutamente preguiçoso e derivativo, e o resultado é essa bobagem sonolenta e esquecível, trazida à vida unicamente pela sanha em usar mais e mais propriedades intelectuais como base para roteiros. Uma dica: não funciona. Pelo menos a água explosiva é legal - a única ideia de "Until Dawn" que não parece feijão frio.
2 comentários
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Ricardo Afonso da Pinheira
Eu não sei se o filme é tão ruim assim. Parei antes da metade por que estava sem paciência para tanto absurdo e preferi assistir novamente Invocação do Mal.
Fernanda Aparecida Borges Batista
Assisti no cinema e é muito bom, foge bastante do jogo, mais no final dá a entender que são acontecimentos antes do jogo, loop temporal lembra a forma como jogamos, quando perdemos e voltamos para jogar novamente, boa sacada.