Histórias do Mar

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Reportagem

Caçador de naufrágios quer resgatar tesouro de navio irmão do Titanic

Na manhã de 23 de janeiro de 1909, três anos antes do naufrágio do Titanic, o Republic - um navio da mesma empresa, projetado pelo mesmo engenheiro e quase irmão gêmeo do mais famoso transatlântico da história - também afundou, após bater em outro navio nas proximidades da ilha de Nantucket, na costa leste dos Estados Unidos, quando transportava 742 pessoas.

Mas, ao contrário da tragédia do Titanic, o infortúnio do Republic resultou na morte de apenas cinco das quase 2000 pessoas envolvidas no acidente, somando-se os ocupantes dos dois navios. Todas as demais foram resgatadas por outros navios.

Teria sido um final quase feliz para o que poderia ter sido uma tragédia tão intensa quanto a do Titanic (quando morrerem mais de 1500 pessoas), não fosse também por um detalhe que até hoje mexe com a cabeça dos caçadores de naufrágios: a suposta valiosa carga, composta por moedas de ouro, dinheiro de bancos franceses e bens dos passageiros, que o Republic transportava - e que nunca foi recuperada, embora os escombros do navio, ao contrário do Titanic, estejam em um local de relativo fácil acesso, a apenas 80 metros de profundidade.

Mas isso pode mudar em breve.

Será a segunda tentativa

Recentemente, o americano Martin Bayerle, um caçador profissional de naufrágios e dono de uma empresa de resgates marítimos criada exclusivamente para explorar os destroços submersos do Republic, anunciou que fará uma nova tentativa para recuperar itens valiosos que ainda estejam dentro do navio naufragado, cujos direitos legais de exploração ele comprou anos atrás.

Segundo ele, a nova investida acontecerá no próximo verão americano, entre os meses de julho e agosto, e será a segunda tentativa de Bayerle de tentar pôr as mãos em um tesouro que, em valores de hoje, ele avalia valer "milhões de dólares".

Achou a adega em vez do cofre

A primeira tentativa foi em 1987, seis anos após o próprio Bayerle ter descoberto os restos do Republic no fundo do mar, a cerca de 80 quilômetros da ilha de Nantucket.

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Imagem: Reprodução

Na ocasião, após levantar recursos com uma série de investidores privados, Bayerle, que desde a infância usa um tapa-olhos, como os piratas, por conta de um acidente com explosivos - e anos atrás, matou o amante de sua esposa, mas acabou sendo praticamente inocentado pelo júri -, montou uma grande operação de resgate, mas o máximo que conseguiu extrair do interior do navio foram algumas garrafas de vinho e champanhe, todas anteriores a 1900, que embora valessem um bom dinheiro no mercado de colecionadores, nem de longe se aproximavam do que ele buscava.

O fracasso da operação foi creditado às limitações impostas pela profundidade, que impedia que os mergulhadores passassem mais do que apenas alguns minutos dentro do transatlântico, e à ausência de plantas do interior do navio, o que levou os exploradores da equipe de Bayerle a penetrar na parte errada do casco - em vez do cofre, eles foram parar na adega.

Robôs submarinos?

Não se sabe quais recursos Bayerle terá agora, em sua nova tentativa - muito possivelmente, robôs submarinos em vez de mergulhadores.

Mas ele está otimista de que finalmente conseguirá pôr as mãos em pelo menos parte das riquezas que o Republic supostamente transportava, quando afundou, após colidir do outro navio, o SS Florida, 116 anos atrás.

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Como foi o naufrágio

O acidente aconteceu por causa de um denso nevoeiro, que impediu que os dois navios enxergassem um ao outro.

O Republic, um transatlântico de alto luxo que seguia de Nova York para a Europa com 212 tripulantes e 530 passageiros - boa parte deles, ricos americanos, como era habitual em suas viagens, o que rendeu ao navio o apelido de "Navio dos Milionários" -, bem que tentou evitar o choque, navegando a baixa velocidade e apitando seguidamente no nevoeiro.

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Imagem: Reprodução

Mas foi impossível desviar a tempo: o SS Florida bateu de frente na lateral do Republic, matando dois dos seus passageiros em suas próprias cabines - as outras vítimas fatais estavam no SS Florida e morreram por conta da colisão, não pelo naufrágio dele, que nem ocorreu.

Embora bastante avariado, o SS Florida ainda ajudou a resgatar os ocupantes do Republic.

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Imagem: Reprodução

Já o requintado transatlântico começou a encher bem lentamente de água, o que permitiu que a evacuação dos passageiros fosse feita de forma segura e ordenada, com todos sendo resgatados por outros navios - ao contrário do Titanic, cujo primeiro socorro só chegou no dia seguinte.

Primeiro a ter telégrafo sem fio

Contribuiu muito para o sucesso da operação de resgate o fato de o Republic ter sido o primeiro navio de passageiros a ser equipado com um sistema de telégrafo sem fio, e de ter se tornado o primeiro a usá-lo para transmitir um pedido de socorro - que foi rapidamente captado por outros navios. Foi o que salvou os ocupantes do Republic.

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Imagem: Reprodução

Na época, os navios que operavam a rota entre Europa e Estados Unidos não eram obrigados a ter botes salva-vidas em quantidade suficiente para todos os seus passageiros, porque acreditava-se que por ser uma rota bastante movimentada, sempre haveriam outros navios por perto para socorrê-los, o que seria tristemente contestado pela tragédia do Titanic, três anos mais tarde.

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Naufrágio duplamente famoso

Embora praticamente sem vítimas, o naufrágio do Republic se tornou duplamente famoso, por dois motivos: com quase 200 metros de comprimento, foi o maior navio de passageiros a afundar até então, e porque, ao fazer isso, levou para o fundo do mar as supostas riquezas que transportava - as mesmas que, agora, o caçador de naufrágios Martin Bayerle quer resgatar.

Entre elas, estaria um grande volume de moedas de ouro, parte de um empréstimo que o governo americano estaria fazendo ao Czar da Rússia, Nicolau II, tese que serviu de inspiração para Bayerle escrever um livro sobre o assunto.

É isso - entre outras coisas mais - que Bayerle agora quer encontrar, já que ele possui os direitos legais e exclusivos de exploração do naufrágio, algo não tão comum assim.

Um caso histórico

Sem os direitos legais de exploração de um naufrágio, os caçadores de tesouros submersos sempre acabam ficando à mercê das regras de cada país, já que também os governantes querem sua parte no que foi encontrado, quando não tudo, como no caso do Brasil.

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Isso costuma gerar discussões que se arrastam por anos nos tribunais, com cada lado defendendo argumentos, a fim de provar seus direitos sobre os achados.
Um dos casos mais polêmicos está em curso há 11 anos, e envolve o caçador de naufrágios inglês Ross Hyett e o governo da África do Sul, na disputa por um carregamento de prata que o navio inglês SS Tilawa transportava daquele país para a Inglaterra, quando foi afundado por um submarino japonês, na Segunda Guerra Mundial, na costa sul-africana.

Hyett localizou o naufrágio, retirou a prata e a levou secretamente para a Inglaterra.

Mas o governo sul-africano ficou sabendo e recorreu às cortes inglesas, alegando roubo e contrabando, em uma história repleta de manobras digna de filmes de ação, que incluiu até o esconderijo da prata resgatada em outro local, também no fundo do mar, a fim de despistar as autoridades, como pode ser conferido clicando aqui.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

7 comentários

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Silvério Del Fiaco

Eis uma manchete desonesta: "... navio irmão do Titanic". A duas embarcações não são da mesma classe, não são de projetos similares, e tampouco de são de porte semelhantes (a capacidade de passageiros da embarcação da reportagem é menos de 1/3 a do Titanic). Dizer "quase irmão gêmeo" é duvidar da inteligência do leitor. Por esta lógica, um Fusca e um Porsche 356 são gêmeos (afinal foram projetados pelo mesmo engenheiro e fabricados pela mesma empresa). 

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Mario Gandra Perelman

HISTÓRIAS DO MAR SEMPRE EMPOLGANTES, ESCRITAS DE FORMA SIMPLES E CONCISA.PARABÉNS

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Marcos Teixeira de Souza

ELES NÃO SABEM. MAS  ESTIVE NA ÉPOCA POR LÁ E ENCONTREI TESOURO TÃO FALADO. E, DESTE ENTÃO COLOQUERI TUDO EM UM BANCO NA EUROPA.

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