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Como Kimi Raikkonen quase quebrou a Lotus por ser rápido demais

Não é incomum que o contrato de um piloto de Fórmula 1 tenha algum pagamento de bonificação por vitória, por pódio ou mesmo por ponto, dependendo do objetivo de cada equipe. Os próprios mecânicos também costumam ganhar um extra se a equipe é campeã ou atinge seus objetivos, mas é claro que tem está fazendo esses contratos tem que tomar cuidado para que o sucesso não custe caro demais para o time.

Foi o que aconteceu com Kimi Raikkonen na época de Lotus. Nem a equipe, nem ele mesmo, acreditavam que teriam tanto sucesso. E, com ele, veio uma conta milionária que, dizem, nunca foi paga pela equipe.

Raikkonen tinha perdido a vaga na Ferrari para Fernando Alonso em 2010 e foi curtir a vida com o motocross e a NASCAR, mas resolveu voltar. Negociou com a Williams mas acabou fechando um contrato de risco com a Lotus.

50 mil euros por ponto

Seu salário era definido em grande parte pelos pontos que ele viesse a fazer. O chefe da equipe na época, Gerard Lopez, não parecia acreditar muito no sucesso da parceria, pois fechou um acordo que daria 50 mil euros por ponto.

Imagine a apreensão do empresário de Luxemburgo quando Raikkonen foi segundo colocado logo em sua quarta aparição pela Lotus, no GP do Bahrein de 2012. Ele foi simplesmente terceiro colocado na temporada daquele ano, com direito a vitória em Abu Dhabi (aquela corrida em que ele falou para o engenheiro deixá-lo em paz porque ele sabia o que estava fazendo).

Se antes havia a desconfiança de que o finlandês tinha perdido a motivação depois do título de 2007 - o que explica em parte a decisão de Lopez - essas dúvidas rapidamente se mostraram infundadas.

Raikkonen sofreu para receber esse dinheiro desde o início. "Nós ficamos devendo dinheiro para ele, mas no final do ano nós pagamos", contou depois o chefe de Raikkonen na época, Eric Boullier. Naquela primeira temporada, ele ganhou, somente na bonificação pelos pontos, mais de 10 milhões de euros.

Raikkonen sofreu para receber desde o início

Kimi Raikkonen pilota a Lotus no GP do Japão de 2012
Kimi Raikkonen pilota a Lotus no GP do Japão de 2012 Imagem: Mark Thompson/Getty Images

O problema era que, mesmo com os bons resultados, a Lotus ia mal das pernas. Segundo Boullier, o problema era "fluxo de caixa", mas depois ficou claro que a questão era mais complicada do que isso.

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Raikkonen começou 2013 vencendo novamente e fez mais seis segundos lugares naquele ano, mesmo sofrendo novamente para receber o que a equipe lhe devia. O problema veio a público durante o final de semana do GP da Bélgica, quando Raikkonen era vice-líder do mundial. Boullier confirmou que a equipe estava devendo para seu piloto. "Infelizmente, não somos tão ricos quanto outras equipes do grid."

Neste segundo ano, o próprio Raikkonen admitiu que estava correndo de graça. Tendo demonstrado que ainda era rápido e com essa informação da falta de pagamento correndo o paddock, não demorou para ele receber ofertas, e o finlandês surpreendeu a todos quando fechou seu retorno à Ferrari em 2014. "O motivo para eu sair foi realmente o dinheiro", admitiu o finlandês depois. "Com as coisas do jeito que estavam, eu não estava recebendo meu salário."

Equipe acabou sendo vendida por 1 libra

Sem receber, sabendo que o futuro estava garantido, e precisando de uma cirurgia nas costas, Raikkonen quase não apareceu para correr em Abu Dhabi naquele ano. E ele era terceiro na tabela! Bem ao seu estilo, dizia que preferia não ficar no top 3 para não ter que ir na cerimônia de premiação oficial da FIA, que acontece depois do final da temporada.

Ele apareceu em Abu Dhabi, mas não correu as duas últimas etapas por conta da operação. Segundo o jornalista finlandês Heikki Kulta, que acompanhou toda a carreira de Raikkonen de perto, essa bonificação por pontos foi o que quase levou a Lotus à falência. No total, a dívida ficou em 19.500 euros e até hoje não se sabe se o piloto recebeu todo o montante.

Especula-se que ele tenha desistido de receber os valores de 2013 até pelo que aconteceria com a equipe nos anos seguintes.

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A Genii, empresa que tinha comprado o time da Renault em 2010, vendeu parte das ações no começo de 2014 e apostou nos petrodólares de Pastor Maldonado para tentar melhorar a situação financeira do time, sem sucesso.

Eles acabaram vendendo a equipe de vez para a própria Renault no final de 2015. As finanças do time iam tão mal que a venda foi feita por uma quantia simbólica de 1 libra esterlina. O time é hoje conhecido como Alpine.

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