Não é só birra: o que medo de dormir sozinho pode esconder sobre seu filho

Seu filho tem medo de dormir sozinho na própria cama? O comportamento de correr à noite para o quarto dos adultos é especialmente comum entre os dois e seis anos, devido ao desenvolvimento emocional e à busca por segurança oferecida pela presença dos pais ou cuidadores. Mas crianças mais velhas ou pré-adolescentes também podem agir igual, sobretudo quando são muito ansiosos ou inseguros emocionalmente.

Algumas crianças ainda têm dificuldades em lidar com a separação física dos pais, especialmente se passam muito tempo juntos; e a imaginação fértil dos pequenos também pode intensificar alguns medos. "Se envolver o escuro, imaginam de tudo, o que torna o quarto vazio um local com uma sensação de perigo iminente", explica Andrezza Fontes, psicóloga pela UMESP (Universidade Metodista de São Paulo) e do Instituto Perin.

Além disso, mudanças na rotina, causadas por situações novas e desafiadoras, como mudar de casa, começar a escola; ou enfrentar eventos estressantes, como a perda de um ente querido ou a lembrança de um acidente, podem aumentar a ansiedade e também levar as crianças a buscarem conforto e segurança com os pais.

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Impactos no sono, físico e emocional

Mesmo buscando conforto e segurança e agindo de forma comum para a idade, quando uma criança vai até a cama dos pais à noite, o seu ciclo de sono acaba interrompido, impedindo que ela atinja as fases mais profundas do sono, necessárias para o reparo físico e emocional, informa Mariana Lombardi Novello, pediatra pós-graduada pela PUC-RS. Com o tempo e a persistência desse comportamento, a criança pode apresentar:

  • Cansaço excessivo;
  • Dificuldades de concentração e de aprendizado durante o dia;
  • Desenvolvimento de distúrbios no sono, como insônia, terror noturno, pesadelos, ou despertares frequentes;
  • Comprometimento do crescimento (pois é durante o sono profundo que ocorre a maior parte da liberação de hormônios envolvidos nesse processo), da regeneração celular e da manutenção do corpo saudável;
  • Diminuição da imunidade, tornando a criança mais vulnerável a doenças.

"Além disso, a dependência contínua dos pais para dormir pode interferir no desenvolvimento da autonomia e da confiança da criança." Mariana Lombardi Novello, pediatra pós-graduada pela PUC-RS

Esse tipo de apego dificulta ainda a construção de uma autoestima sólida e a capacidade de enfrentar desafios, dificultando aprendizados sociais importantes, como por exemplo a lidar com emoções como ansiedade, frustração ou medo.

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Pais também enfrentam prejuízos

Não são apenas as crianças que têm o sono prejudicado quando elas vão para a cama dos pais: eles também têm a noite de descanso interrompida e, muitas vezes, precisam estar acordados e dispostos na manhã seguinte para irem trabalhar.

Além disso, a presença da criança na cama pode, por exemplo, forçar um dos cônjuges a ir dormir no sofá. Logo, a qualidade do sono desse adulto fica comprometida, gerando além de cansaço e estresse, muita impaciência, explica o pediatra Bruno Leandro de Souza, professor do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).

"Nesse processo, é necessário ter paciência combinada com firmeza afetuosa, evitando punições ou reforço negativo exagerado." Bruno Leandro de Souza, pediatra e professor do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa)

No entanto, no auge do cansaço, muitos pais agem de forma impaciente e depois, ao se arrependerem, cedem, não mantém os limites e a criança se acostuma com a situação, associando o pedir para dormir com eles a algo recompensador. Cria-se, assim, o ciclo vicioso.

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Como fazer criança dormir sozinha?

Primeiro, é preciso que os pais se alinhem e estabeleçam horários regulares para ir dormir e acordar. Depois, que providenciem o quarto da criança e cuidem dele, para que seja um ambiente calmo, seguro e organizado, com iluminação suave, decoração lúdica e objetos familiares. Para relaxar, os pais também podem criar um "ritual do sono", com atividades como um banho morno, ler historinhas ou colocar uma música suave na hora de ir para a cama. Filmes de terror, excesso de telas e assuntos pesados devem ser evitados.

Entretanto, é bom ressaltar que, quando os pais começam a ensinar os filhos a dormirem sozinhos, os resultados não são imediatos. É preciso persistir, mas sempre com muita paciência e carinho, respeitando os limites tanto da criança como do adulto que irá conduzir o processo. É importante que os pais diminuam gradualmente a presença física no quarto, sentem-se ao lado da cama em vez de deitar, para que a criança se acostume a adormecer sozinha mas sem se sentir abandonada.

Agora, se ela apresenta dificuldades significativas ou demonstra medo excessivo, os pais devem considerar buscar ajuda profissional, de terapeuta ou especialista em sono infantil, para avaliar os motivos. "Muitas vezes, o pai e a mãe também precisam de ajuda, especialmente se forem ansiosos ou estiverem enfrentando problemas pessoais. Essas coisas podem repercutir no comportamento na criança", avalia Wimer Bottura, psiquiatra e presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina.

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