CFM pede banimento do PMMA no Brasil; quais os riscos da substância?

Representantes do CFM (Conselho Federal de Medicina) apresentarão hoje um pedido à Anvisa para que o PMMA seja banido no Brasil, conforme adiantado pela colunista do UOL Carla Araújo. O aumento nos casos de complicações pelo uso do produto, especialmente por não médicos, gerou o alerta.

O que é PMMA?

O polimetilmetacrilato é um componente plástico. A substância é usada pela indústria da saúde na fabricação de lentes, na odontologia e em procedimentos ortopédicos.

Segundo a Anvisa, o PMMA é "um tipo de preenchedor usado em procedimentos médicos". Em seu site, a agência esclarece que a substância não é indicada para procedimentos com fins estéticos, sendo aprovada para tratamento reparadores ou corretivos, como, por exemplo, em pacientes que apresentam alterações volumétricas decorrentes de sequelas de doenças como a poliomielite (paralisia infantil). A Anvisa reitera, ainda, que "a aplicação do PMMA deve ser feita por profissional médico ou odontólogo habilitado".

Embora não seja indicada para procedimentos estéticos, o PMMA ganhou espaço como uma alternativa de preenchimento. A substância vem sendo utilizada para aumentar o volume, por exemplo, dos glúteos e das coxas. Nestes casos, é utilizado em microesferas, em uma forma semelhante ao gel.

Casos graves após o uso vêm sendo relatados. Em julho de 2024, a influenciadora Aline Ferreira, 33, morreu após apresentar complicações decorrentes da aplicação para aumento dos glúteos. A VivaBem, a influenciadora Erika Alk, 49, relatou que enfrentou infecções, uma úlcera ocular e correu o risco de perder a visão. A influenciadora Maíra Cardi explicou que precisaria passar por cirurgia para remover o PMMA injetado na bochecha.

Maíra Cardi fala do uso de PMMA no rosto. Influenciadora aplicou a substância em 2009 e relatou a necessidade de cirurgia para remoção do produto
Maíra Cardi fala do uso de PMMA no rosto. Influenciadora aplicou a substância em 2009 e relatou a necessidade de cirurgia para remoção do produto Imagem: Reprodução/TikTok/cardinigro

Quais os riscos do componente?

A substância pode causar danos a curto ou longo prazo. As complicações podem acontecer logo após o procedimento ou depois de anos da aplicação, e não necessariamente no local do implante, já que pode haver migração do produto para outras áreas do corpo. O PMMA pode causar, por exemplo, infecções, inflamação crônica e reações alérgicas, além de eventuais deformações no local onde foi aplicado.

Um dos principais riscos do uso é uma eventual insuficiência renal irreversível. Ele provoca a produção de granulomas (reação do sistema imunológico contra infecções), que estimulam a absorção de uma grande quantidade de cálcio pelo corpo, o que pode sobrecarregar e danificar a função dos rins.

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O resultado é permanente, e os especialistas indicam dificuldades para remoção da substância. Uma vez que recebe o PMMA, o organismo do paciente não consegue "expulsar" o componente por conta própria. Em casos de remoção, são necessárias cirurgias, que apresentam riscos como lesão nos nervos. Em situações cirúrgicas, a remoção do produto pode ser somente parcial.

Os riscos da aplicação podem ser agravados caso o procedimento seja realizado por uma pessoa não habilitada. Segundo a Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, órgão oficial de divulgação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o "excesso de propaganda fantasiosa" e a "crescente exposição das mídias sociais" fazem com que o PMMA seja cada vez mais procurado.

A alta demanda atraiu profissionais sem o devido conhecimento para realizar a aplicação do componente. "Isto tudo leva à desinformação da população em geral e à submissão de pacientes a procedimentos sem segurança", afirma a publicação.

[...] A popularização sem regulação da aplicação do PMMA para preenchimentos estéticos e o seu uso em grandes volumes com técnicas inadequadas têm evidenciado o PMMA como substância nociva para essa finalidade. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica

Segundo a Anvisa, o paciente que faz uso do PMMA deve ter acesso à etiqueta de rastreabilidade. O documento de identificação contém os dados do produto e do fabricante, como número de registro, lote, validade, entre outras informações. "Ter acesso a essas informações é importante, especialmente no caso de ocorrer algum problema (evento adverso) após o procedimento", alerta a agência.

*Com informações de matérias publicadas em 04/07/2024, 07/11/2024 e 13/01/2025.

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