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Opinião

Proposta da ANS pode comprometer diagnóstico de câncer de mama antes dos 50

Uma nova proposta da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) sugere que os planos de saúde passem a adotar, como critério de certificação de boas práticas, o rastreamento do câncer de mama nos mesmos moldes do SUS: mamografias a cada dois anos somente para mulheres entre 50 e 69 anos.

No entanto, essa diretriz está causando protesto de entidades médicas, pois vai na contramão da realidade brasileira, onde 40% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres com menos de 50 anos, e 22% das mortes pela doença estão nessa faixa etária.

Embora a ANS reforce que a proposta não altera o direito das mulheres de realizarem mamografias antes dos 50 anos, conforme recomendação médica, especialistas alertam que a medida pode desestimular operadoras a oferecerem o rastreamento anual a partir dos 40 anos, prática já consolidada e recomendada por diversas sociedades médicas.

"Nós sabemos que os casos de câncer estão ocorrendo cada vez em mulheres mais jovens, por isso essa faixa etária precisa ser rastreada a partir dos 40 anos", alerta Daniel Buttros, mastologista especialista em câncer de mama e médico docente da pós-graduação da Unesp.

As entidades médicas especializadas compartilham a mesma visão de protocolo do médico, como a Femama, a Sociedade Brasileira de Mastologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia, que argumentam que a proposta da ANS não reflete as características epidemiológicas do Brasil, onde o câncer de mama apresenta comportamento mais agressivo e uma idade média de diagnóstico mais baixa.

Buttros explica que o debate sobre a indicação da mamografia após os 50 como quer a ANS se dá por causa de uma questão da eficiência do exame em detectar lesões precocemente. "A mamografia para pacientes mais jovens oferece mais limites. Isso porque as mamas têm um tecido mais denso. Quando mais velha vai ficando a mulher, mais gordura a mama passa a ter, o que facilita e visualização de lesões. Se você me perguntar: 'a mamografia é tão eficiente aos 50 quanto aos 40?', a resposta é não. Mas ela é necessária? A resposta é: sim", diz o médico.

Segundo ele, mesmo com menos eficiência, o rastreamento é fundamental dos 40 aos 50 e que o cenário epidemiológico brasileiro exige uma abordagem diferente.

A idade média do câncer de mama no Brasil é de 52, 53 anos, enquanto em países da Europa é de 60, 63. Isso quer dizer que com a média mais baixa, muitos casos ocorrem bem antes dos 50.

Além disso, tumores diagnosticados em mulheres mais jovens são mais agressivos e têm maior risco de metástase, o que justifica o rastreamento precoce.

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Como a proposta pode afetar você?

Embora a certificação da ANS não seja obrigatória, ela pode levar operadoras a seguirem o mínimo exigido, comprometendo o acesso de muitas mulheres ao rastreamento anual entre 40 e 49 anos.

A ANS abriu consulta pública (que foi encerrada em 23 de janeiro) e deve prosseguir agora com a evolução da discussão das medidas, a depender dos resultados dessa escuta. Mas, caso aprovada, a orientação reforça a importância de estar informada e proativa:

Converse com seu médico: Se você tem mais de 40 anos ou histórico familiar, discuta a necessidade de exames regulares.

Observe sinais de alerta: Nódulos, alterações na pele e secreções mamárias devem ser investigados imediatamente.

Rastreamento precoce salva vidas: Garantir que políticas de saúde reflitam a realidade brasileira é um passo essencial para proteger milhares de mulheres.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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