Mulheres na menopausa perdem massa cinzenta, como afirmou Fernanda Lima?
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Recentemente, a apresentadora Fernanda Lima afirmou em uma entrevista que as mulheres perdem massa cinzenta na menopausa. Centenas de mulheres compartilharam o vídeo e recebi muitas mensagens questionando: "É verdade?".
Sim, é verdade, mas uma informação como essa colocada fora de contexto pode gerar medo desnecessário. É preciso dar uma perspectiva mais ampla.
Mas o que isso realmente significa? Será que estamos diante de um processo de deterioração cognitiva ou há nuances nessa afirmação?
Para esclarecer essa questão, entrevistei a neurocientista Lisa Mosconi, uma das maiores especialistas do mundo em cérebro feminino e menopausa. Reconhecida pelo The Times como uma das 17 cientistas vivas mais influentes, Mosconi é professora associada de neurociência e radiologia, e diretora do Programa de Prevenção de Alzheimer no Centro Médico Weill Cornell, em Nova York.
Mosconi explica como os hormônios afetam o cérebro feminino de forma diferente do cérebro masculino. Segundo ela, o que a mulher passa na menopausa não é tão diferente do que podemos viver na puberdade e na gravidez, mas, como a menopausa é cercada de estigma, não falamos do assunto, não acolhemos as mulheres e nem são dadas a elas explicações sobre o que está acontecendo. "O silêncio faz com que a gente se sinta sozinha e, muitas vezes, enlouquecendo."
De fato, perdemos massa cinzenta em cada fase de transição —puberdade, gravidez, perimenopausa. Mas isso não significa atrofia, que é um processo patológico. Perder massa cinzenta não indica necessariamente uma doença. Lisa Mosconi
Ou seja, a perda de massa cinzenta durante a menopausa não deve ser encarada como algo alarmante ou definitivo. O cérebro passa por uma reorganização natural, assim como acontece em outras fases hormonais da vida.
E mais importante: as mulheres continuam a ter um desempenho em testes cognitivos igual ou superior ao dos homens antes, durante e depois da menopausa. Sim, mesmo com toda a transição hormonal, nosso cérebro performa melhor que o dos homens.
Cuidado com o estigma
Lisa Mosconi, que também é autora do livro "O Cérebro e a Menopausa", inicia a obra relatando uma situação que muitas mulheres entre 40 e 60 anos já passaram: acordar um dia pela manhã e se perguntar: "Será que estou perdendo a cabeça?"
Pode ser que você esteja vivendo situações como entrar em um cômodo da casa e esquecer o que foi fazer lá; guardar os óculos na geladeira ou o celular no armário de mantimentos; ou ainda esquecer o nome de um conhecido. Pode estar sentindo uma espécie de nevoeiro mental, uma falta de clareza no pensamento —e isso pode ser assustador. Mas o fato é que é uma transição.
O que Mosconi nos assegura em seu livro é que não, não estamos loucas. Nem sozinhas. E vamos melhorar. O que está mudando agora é que estamos começando a entender o que acontece com nosso corpo e como podemos viver com isso.

Durante a menopausa, a neurocientista explica que nosso cérebro passa por uma espécie de "reforma". Ao mesmo tempo em que estamos com a sensação de estar "perdendo" capacidades, na verdade, o que está em curso é uma reorganização dos circuitos cerebrais.
"O cérebro passa por uma transição porque faz sentido fazê-la. Após a menopausa, todos aqueles neurônios e conexões entre neurônios que eram necessários para apoiar a ovulação e possibilitar uma gravidez não são mais necessários e podem ser descartados. É a chance de o cérebro ficar 'mais enxuto e eficiente', se quiserem dizer assim —isso pode levar a alguns problemas, mas também tem algumas vantagens", explica a cientista.
Ou seja, é uma fase que causa solavancos na transição, mas depois há uma acomodação.
Se você está passando por isso, saiba que não está só. Pelo menos 80% das mulheres passam por sintomas cerebrais durante a menopausa, segundo Mosconi.
A ciência mostra que, mesmo passando por transformações hormonais, as mulheres seguem plenamente capazes, produtivas e cognitivamente afiadas.
O desafio não é a menopausa em si, mas sim a forma como a sociedade encara essa fase da vida.
Se queremos mudar essa narrativa, precisamos de mais conhecimento e menos medo. Afinal, menopausa não é o fim —é apenas mais uma fase de adaptação e evolução do nosso corpo e mente.
Já enfrentamos uma sociedade que marginaliza mulheres nessa fase, e uma informação fora de contexto como essa pode reforçar preconceitos que prejudicam até mesmo as oportunidades no mercado de trabalho.
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