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Como identificar e tratar depressão pós-parto?

A depressão pós-parto (DPP) acomete cerca de 25% das mulheres que acabaram de dar à luz. Diferente do que muita gente acredita, ela não é uma doença exclusiva dos primeiros meses do puerpério. Na verdade, hoje se sabe que a mulher está sob risco de desenvolver DPP nos primeiros dois anos de vida da criança.

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Por isso, é preciso considerar a depressão pós-parto quando a mulher é avaliada pela sua rede de cuidados. Pediatras que avaliam o bebê, ginecologistas, médicos de família, enfermeiros, agentes de saúde, todos devem estar atentos aos sintomas e ao fato de que é uma doença que pode surgir depois do início da maternidade.

A DPP tem alguns fatores de risco conhecidos (ou seja, mulheres nesta situação tem maior risco de desenvolver DPP):

  • Instabilidade econômica;
  • Gestação não planejada | indesejada | dificuldade de aceitar o bebê;
  • Falta de rede de apoio;
  • Falta de apoio de uma parceria;
  • História pessoal ou familiar de depressão ou outros transtornos de humor;
  • Ter sofrido violência obstétrica no nascimento do bebê;
  • Bebê com alguma patologia | necessidade de internação hospitalar.

Para ficar alerta, saiba que os sintomas mais comuns são:

  • Tristeza profunda;
  • Falta de vontade de viver;
  • Dificuldade de fazer planos;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldade de se cuidar;
  • Dificuldade de se conectar com o bebê;
  • Medo extremo de sair de casa;
  • Sensação de fazer tudo errado ou de não ser capaz de cuidar do bebê.

Os sintomas são bastante perturbadores para a mulher, e geralmente duram muitos dias ou semanas. Uma das formas de diferenciar a depressão pós-parto do baby blues, por exemplo (que pode acometer cerca de 70% das mulheres após o nascimento do bebê) é que a intensidade dos sintomas é muito maior na DPP - e estes também acabam prejudicando verdadeiramente o dia a dia da mulher. Não é como uma pequena flutuação emocional que melhora com o passar das horas. É um fundo do poço - do qual pode ser muito difícil sair sozinha.

Você não precisa passar por isso sozinha. Não é frescura, não é culpa sua. Você não é uma mãe pior ou incompetente por se sentir mal. Procure ajuda, caso tenha se identificado com algum dos sintomas citados. Tem muita gente boa e disponível para te ajudar. Eu sei que pode parecer que estamos sozinhas nesta, mas não estamos.

É preciso parar de amamentar para tratar a depressão pós parto?

Uma dúvida muito comum das mulheres - e de alguns profissionais de saúde - é sobre o uso de medicamentos e a amamentação. Devemos salientar que há uma ampla gama de medicamentos para tratar a DPP que são compatíveis com a amamentação. Não é preciso desmamar o bebê para tratar a DPP. E também vale lembrar que nem sempre o medicamento será a primeira escolha. O tratamento muitas vezes pode começar com psicoterapia, psicoeducação e mudanças de estilo de vida, com avaliação constante para perceber se há melhora e evolução. Quando a medicação se faz necessária, ela é muito bem-vinda, e sempre deverá ser associada às medidas citadas anteriormente, para um resultado mais duradouro e mais rápido.

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Quais são, além dos medicamentos e psicoterapias, outras medidas para tratar depressão pós-parto?

1. Praticar exercícios físicos

Um dos pilares para uma saúde mental bacana, fazer exercício ativa neurotransmissores que se relacionam com o nosso bem-estar no momento e também no longo prazo. Uma pessoa com depressão pós parto provavelmente vai ter dificuldade de iniciar o movimento de se exercitar sozinha (pode ser difícil até sair da cama), e aqui entra toda a importância de uma rede de apoio e cuidado. No meu caso, eu nunca abri mão do exercício físico - e tenho consciência da importância disso na minha vida. Ia malhar na academia do prédio sem nenhuma vontade, mas ia todos os dias. Às vezes ficava apenas vinte minutos por lá. Mas tenho certeza de que teria sido muito pior sem este exercício diário.

2. Alimentação balanceada

Além de se alimentar corretamente, ter atenção a estes pequenos lanchinhos /prazeres com algo índice glicêmico ao longo do dia é fundamental. Conforme explicado, eles fazem a glicemia subir e trazem bem-estar no momento. Pode parecer uma boa, até que meia hora depois você está ainda pior, deitada no sofá, por conta do rebote. E só consegue sair de lá com outro lanchinho cheio de açúcar.

3. Autocuidado

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Olhar para si é fundamental em qualquer situação. Isso fica, muitas vezes, deixado de lado após o nascimento do bebê. E diante de um episódio depressivo, este auto abandono é ainda maior. Eu me forçava a trocar de roupa e colocar um brinco todo dia de manhã. Nos dias que eu conseguia, me sentia imediatamente melhor. Nos dias que esquecia ou simplesmente não tinha forças, me sentia pior. Ajudava muito deixar a roupa separada no dia anterior. Novamente, o olhar amoroso de quem está de fora pode ajudar muito neste momento.

4. Tomar sol e sair de casa

Principalmente depois do grande boom do home office, sair de casa se tornou um evento ainda mais raro. Resolvemos todas as nossas coisas da mesa da cozinha - e nem sempre isso é uma coisa boa. Sair de casa, tomar sol, ver gente, olhar a vida acontecendo, a realidade ao nosso redor... isso tudo é muito importante.

5. Ter atenção a redes sociais

Redes sociais podem te ensinar muito - e, ao mesmo tempo, podem drenar sua energia. O uso que você faz delas é o que vai diferenciar o impacto. Elas são projetadas para gerar pequenas doses de dopamina o tempo todo, fortalecendo o vício e fazendo você ficar ali, rolando o feed para baixo, sem hora para acabar. Isso é péssimo para a saúde mental. Além disso, é um ambiente com baixo potencial de estabelecer relações verdadeiramente significativas - sim, eu sei que há exceções - e de alto potencial de comparação. Imagine uma mãe deprimida observando a vida recortada de tantas outras mães, que parecem estar perfeitas, com o corpo e a vida organizados? Não é nada fácil para o nosso cérebro dar conta disso.

6. Dormir

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Sei que dormir com um bebê pode ser um desafio, mas é necessário ter um mínimo de qualidade de sono. Além de organizar a rotina e o sono do seu bebê, cuide também do seu sono: não leve celular para a cama, deite cedo, cuidado com a cafeína após às 16h, desligue a televisão de casa à noite, prefira ler um livro na cama, tire a TV do quarto, não ligue o celular de madrugada? essas são medidas fundamentais para que as oportunidades de descanso se tornem verdadeiramente um descanso.

A depressão pós-parto tem saída. Há luz no fim do túnel. Se cuide.

*Ana Jannuzzi é médica formada na UFRJ, pós-graduada em Pediatria e Sono na Infância e Adolescência. Fundadora da Jannuzzi Educação, empresa de cursos que já ajudou mais de 40 mil famílias na maternidade e primeiros anos de vida do bebê. Autora dos livros sobre Maternidade O Ano de Ouro, 9 Meses e Travessia.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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