Topo

Depressão pós-parto: quais são as causas e os sintomas? Existe tratamento?

depressão pós-parto - Sharon McCutcheon/Unsplash
depressão pós-parto Imagem: Sharon McCutcheon/Unsplash

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

24/03/2021 04h00Atualizada em 17/05/2022 18h48

Existe uma expectativa social de que o momento da gravidez e do pós-parto seja marcado apenas por sentimentos de felicidade e excitação. E, bom, não existe uma regra para isso, até porque cada mulher pode vivenciar esse período de uma forma. Algumas tendem a ficar mais cansadas, deprimidas e irritadas, o que é normal durante os primeiros dias após o parto. Agora, quando os sintomas ficam mais intensos e duram mais do que duas semanas, aproximadamente, é preciso atenção, pois pode ser a depressão pós-parto —também conhecida pela sigla DPP.

No Brasil, estima-se que 25% das mulheres tenham depressão pós-parto, segundo um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Ou seja, uma em cada quatro mães apresenta sintomas após o nascimento do bebê. A doença, inclusive, gera muitas dúvidas entre as pessoas: o que é a DPP, quais os sintomas, é o mesmo que baby blues, homens também podem ter? Abaixo, confira o que dizem os especialistas consultados pelo VivaBem.

Tire suas dúvidas sobre a depressão pós-parto

O que é depressão pós-parto?

A depressão pós-parto é uma doença que aparece após a gestação e pode surgir até o primeiro ano de vida do bebê. É caracterizada como um quadro depressivo que envolve o sentimento de tristeza, pessimismo, diminuição da disposição, tendência a olhar para as coisas de uma forma negativa, sem saída, além da falta de vontade de cuidar do bebê ou excesso de proteção, entre outros. Raramente, a situação pode se complicar e evoluir para uma forma mais grave, conhecida como psicose pós-parto.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da depressão pós-parto são parecidos como os de qualquer quadro depressivo, a diferença é que esta doença também envolve o vínculo com um recém-nascido. São eles:

  • Tristeza;
  • Pessimismo;
  • Alterações na alimentação (falta de apetite ou excesso de fome);
  • Anedonia (perda de prazer em fazer atividades diárias);
  • Alterações no sono (insônia ou dormir demais);
  • Visão negativa da vida, as coisas parecem "sem saída";
  • Cansaço;
  • Insegurança;
  • Irritabilidade;
  • Fadiga;
  • Choro frequente;
  • Inquietação;
  • Ansiedade;
  • Sentimentos de desvalia ou culpa inapropriada;
  • Dificuldade em se concentrar;
  • Em casos graves, pensamentos suicidas, delírios e alucinações;
  • Falta de vontade de cuidar do bebê ou apresentar cuidado excessivo.

O que causa a depressão pós-parto?

As causas da depressão pós-parto envolvem diversos fatores físicos, emocionais, estilo e qualidade de vida, além do histórico de doenças e/ou transtornos mentais e também as alterações hormonais, comuns no puerpério. Os principais são:

  • Quadros depressivos antes ou durante a gravidez;
  • Histórico de depressão (inclusive pós-parto) na família;
  • Ansiedade, estresse ou outros transtornos mentais;
  • Gravidez indesejada;
  • Contexto social no qual está inserida;
  • Falta de rede de apoio;
  • Alimentação inadequada;
  • Sedentarismo;
  • Privação de sono;
  • Isolamento;
  • Alterações hormonais após o parto (normal e mais comuns em baby blues).

O que é depressão gestacional ou pré-parto?

O termo "depressão pré-parto" é como ela é popularmente conhecida e chamada pelas pessoas, porém, em termos médicos, o certo é depressão gestacional, isso é, que ocorre durante a gravidez. Os sintomas também são os mesmos: tristeza, pessimismo, falta de apetite, alterações no sono, olhar negativo para as coisas, entre outros sintomas.

"Muitos dos quadros de depressão pós-parto já eram depressões gestacionais que não foram reconhecidas. Isso porque os sintomas de cansaço, alteração de sono e apetite, insegurança, por exemplo, são vistos como normais da gravidez e, assim, passam despercebidos", explica Renata Azevedo, chefe do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e supervisora do ambulatório de transtornos mentais do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher).

Qual a diferença entre depressão pós-parto e baby blues?

Durante o puerpério, fase pós-parto que dura 40 dias, a mulher experimenta algumas modificações no corpo, principalmente pela variação hormonal, que apresenta uma queda depois do parto. Neste período, pode surgir o baby blues, que é um momento temporário de maior sensibilidade, fragilidade, cansaço, e que desaparece em algumas semanas.

A grande diferença da depressão pós-parto para o baby blues é o tempo e a intensidade, conforme explica Layla Campagnaro, psiquiatra perinatal do Centro de Medicina Integrativa da Pro Matre (SP): "O baby blues tende a desaparecer após umas duas semanas depois do parto. Se passar uns 15 dias e essa mulher ainda apresentar um choro frequente, desânimo, fadiga, tristeza, ausência de prazer, e ainda um aumento de intensidade desses sintomas, já é um sinal de alerta."

Quanto tempo depois do parto pode surgir a depressão?

A depressão pós-parto pode aparecer até o primeiro ano de vida do bebê.

Existe a depressão pós-parto tardia?

Sim. Na verdade, é quando a mulher apresenta os sintomas da depressão pós-parto em meses mais "avançados", como seis, oito e em até um ano após o nascimento do bebê.

Quais os níveis de depressão pós-parto?

A depressão pós-parto pode ser leve, moderada e grave. Nos mais leves e moderados, a mulher fica mais sensível e não há grande comprometimento das atividades dela. Com a medicação e terapia, ela já apresenta melhora. Os casos graves, mais raros, podem vir com sintomas psicóticos e, em algumas situações, é necessária a internação da mulher. Os principais sintomas de quadros graves são:

  • Delírios;
  • Alteração do pensamento e julgamento;
  • Alucinações que podem ser visuais, olfativas ou auditivas (ouvir vozes, por exemplo);
  • Vontade extrema de fazer mal ao o bebê, a si mesma ou a qualquer pessoa;
  • Sono perturbado, mesmo quando o bebê está dormindo;
  • Desconexão com o bebê e pessoas ao redor.

Qual diferença entre uma depressão comum?

Os sintomas são semelhantes, mas a diferença é que a depressão pós-parto, como o nome diz, ocorre logo após a gestação, e envolve também o vínculo da mãe com o bebê. Por vezes, a mulher pode ter dificuldades em cuidar do recém-nascido ou apresentar uma proteção excessiva com ele.

Como identificar a depressão pós-parto?

Para identificar que a mulher está com depressão pós-parto, é preciso se atentar aos sinais e também à intensidade deles. Seria uma dificuldade de se alegrar com o momento, uma tristeza profunda, cansaço, alteração no sono e no apetite, falta de prazer nas atividades diárias, dificuldades em criar vínculos com o bebê ou excesso de cuidados com ele.

Vale lembrar que nos primeiros dias de puerpério é normal a mulher sentir todas as mudanças no corpo e também na rotina. Ela pode ficar mais cansada e irritada no começo, mas o esperado é que passe. Caso os sintomas fiquem mais intensos e se prolonguem muito, é importante que ela procure ajuda de profissionais da saúde.

Como é feito o diagnóstico?

São utilizados os mesmos critérios de uma depressão "comum". O diagnóstico, basicamente clínico, é definido pela persistência e intensidade de alguns sintomas no período mínimo de duas semanas. A mulher também deve apresentar humor depressivo ou anedonia (diminuição ou perda do interesse nas atividades diárias), além de, pelos menos, outros quatro sintomas, como alteração do apetite, com ganho ou perda de peso, alteração do sono, fadiga, agitação, sentimentos de culpa inapropriada, capacidade diminuída de pensar ou se concentrar, entre outros.

O profissional de saúde especializado, o psiquiatra, também pode pedir que a mulher preencha um questionário de triagem de depressão, além de exames de sangue para determinar se há disfunção da tireoide ou outros tipos de hormônios no organismo.

Como tratar a depressão pós-parto?

O tratamento da depressão pós-parto vai depender do nível da doença e orientação do médico. Pode envolver o uso de medicamentos, sempre com prescrição médica, além de psicoterapias e/ou grupos de apoio, que são benéficos para a mulher.

Hoje em dia existem medicações seguras tanto para a gestação como durante a amamentação. A ausência de tratamento, inclusive, pode ser prejudicial para o bebê.

Depressão pós-parto tem cura?

Sim, se a paciente fizer o tratamento corretamente, seguindo as orientações médicas, é possível curar a depressão pós-parto.

Como prevenir a depressão pós-parto?

Prevenir a depressão pós-parto envolve, basicamente, a detecção precoce da doença. Ou seja, mulheres que já tratam uma depressão ou outra doença psiquiátrica, ou quem já teve a condição em outra gravidez devem avisar ao médico durante o pré-natal. Essas informações devem ser passadas ao profissional de saúde para que ele e a gestante fiquem mais atentos.

Outra coisa que pode ajudar é conversar com outras mães, famílias, pediatras, obstetras, para pegar dicas de como se preparar para a gestação. Tendo em mente que a família passará por uma série de mudanças, principalmente no sono, para definir qual será o papel de cada um.

Como ajudar uma pessoa com depressão pós-parto?

Uma forma de ajudar essa mulher é oferecendo auxílio para ela, seja com as atividades diárias ou até mesmo com os cuidados do bebê. "É um apoio para o lado emocional e também para os afazeres. A mulher se cobra muito e às vezes isso pode ajudar a causar o transtorno", diz Rita Géssia Patriani Rodrigues, ginecologista, obstetra e uroginecologista, com especialização em saúde da mulher pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

É importante também que essa mulher possa contar com o apoio de amigos e familiares. E que essas pessoas deem abertura, em um ambiente seguro, para que ela fale sobre o que quiser: desde o cansaço neste período até possíveis dificuldades com a criança. Por exemplo: dizer que está tudo bem não se sentir 100% feliz neste momento.

O tipo de parto influencia na depressão pós-parto?

Não, seja ele normal ou uma cesária. O que pode acontecer é que a paciente sonhava com um parto normal e, no momento, não foi possível realizá-lo. Isso pode desencadear um estresse e frustração, mas que também não justificaria uma depressão pós-parto.

Existe "depressão pós-parto masculina"?

Há uma certa divergência no tema. As especialistas consultadas explicam que a depressão pós-parto masculina não existe, pois os homens não passam pela experiência do parto, e sim as mulheres. O que pode acontecer, muitas vezes, é o pai se sentir mais excluído ou carente de atenção, triste, cansado, irritado, mas não se configura como uma depressão pós-parto, e sim como um quadro depressivo "comum", dependendo do caso.

Já o Ministério da Saúde diz que, até então, entendia-se que apenas as mulheres eram atingidas pela depressão pós-parto. No entanto, os avanços nos estudos têm comprovado que homens também podem desenvolver o problema.

Ter um bebê prematuro também pode influenciar?

Não. Mães que tiveram bebês prematuros podem passar por um nível de estresse mais alto, mas também não significa que elas terão depressão pós-parto por causa disso.

Tive depressão pós-parto e quero ter outro bebê. Vou sofrer de novo?

Depende, mas a mulher que teve a depressão pós-parto em uma gravidez tem mais chances de ter na segunda ou terceira vez, segundo as especialistas.

Quem tem depressão ou outro transtorno pode ter depressão pós-parto?

Sim, as chances são maiores para pessoas com quadros de depressão antes da gestação ou também para quem tem a doença de forma crônica.

A depressão pós-parto pode se tornar crônica?

Se não tratada, a depressão pós-parto pode, sim, se tornar crônica. Por isso é importante buscar o tratamento o quanto antes.

Filhas de mães que tiveram depressão pós-parto podem ter também?

Sim. Segundo a psiquiatra perinatal do Centro de Medicina Integrativa da Pro Matre (SP), uma das causas da depressão pós-parto é que mulheres com histórico da doença na família —não necessariamente apenas no pós-parto — têm mais chance de desenvolvê-la também.

"Isso a gente chama de transmissão intergeracional e estamos vendo que, sim, é possível. A filha dessa mãe deprimida tem maior chance de deprimir no pós-parto dela também", explica Campagnaro. Mas não é motivo para pânico, essa informação é importante para levar ao médico durante a gestação, para que se acenda um alerta durante esse período.

Supere a depressão pré e pós-parto

Campanha depressão pós-parto - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Supere a Depressão Pré e Pós-parto, que tem como objetivo chamar a atenção para o transtorno e os impactos que ele pode trazer para a mãe e o bebê. Ao longo da semana, uma série de reportagens e conteúdos especiais serão publicados com o objetivo de ajudar a identificar e tratar o problema. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.

Fique ligado: a campanha é a primeira de uma série de VivaBem que, ao longo do ano, trará conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.

A doença pode afetar o desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida?

Sim, pode afetar o desenvolvimento psicológico do recém-nascido até a fase adulta. Desde a fase intrauterina, o bebê pode sentir as alterações da mãe. "A gente sabe que uma mulher deprimida causa alterações no bebê. Ele pode vir com um temperamento mais irritado, com mais choros, alteração na qualidade do sono e até mesmo ter mais dificuldade para se alimentar na amamentação", afirma a psiquiatra da Pro Matre.

A longo prazo, esse adulto também pode ter mais chances de desenvolver uma doença psiquiátrica ou ter alterações comportamentais.

Fonte: Layla Campagnaro, psiquiatra perinatal do Centro de Medicina Integrativa da Pro Matre (SP); Renata Azevedo, chefe do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e supervisora do ambulatório de transtornos mentais do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (SP); Rita Géssia Patriani Rodrigues, ginecologista, obstetra e uroginecologista com especialização em saúde da mulher pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Fundamentação teórica sobre depressão no puerpério, elaborado pela UNA-SUS (Universidade Aberta do SUS); Ministério da Saúde.