Luciana Bugni

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Opinião

'Amores Solitários': por que mulheres tendem a simpatizar com o cara dodói?

Você começa a ver "Amores Solitários", filme que está entre os cinco mais vistos da Netflix, achando esquisito que o mocinho da história seja Owen, interpretado pelo lindíssimo Liam Hemsworth. O cara não apoia a mulher, que é escritora, critica tudo, fica incomodado o tempo todo, acha as coisas dela chatas... isso porque foi acompanhá-la em um retiro de escritores. O que ele está fazendo lá, aliás?

Mas uma hora de filme e de indignação depois, eu já estou no modo Owen. "Como é gentil, olha a maneira como coloca a mão na cintura dela, gente, que bonitinho, ele não sabe nada de literatura..." O que acontece com a gente que protege esses caras?

No filme, Laura Dern é Katherine, uma escritora de mais de 50 anos que está no tal retiro, no Marrocos. Bem mais jovem, a namorada de Owen, Lily (Diana SIlvers) é uma escritora também, em ascensão. Acaba de fechar contrato para dois livros e está empolgadíssima. Owen não está nem aí: parece querer ser protagonista da vida dela. Elogia de maneira irônica e irritado. Quando os presentes brincam de um jogo relacionado à literatura, fica nervosinho porque não consegue ganhar. Aquela, claramente, não é a turma dele, mas não é culpa da namorada, ué.

Em um momento, ela mesma percebe isso. De tão ensimesmado, Owen diz que as coisas que agora a incomodam sempre foram inerentes a ele. Ela corrige: sempre incomodou o fato de ele não ler ficção e não gostar de arte. "Essas coisas são essenciais para mim", explica. Garota, sai fora desse cara. Ele é bonitinho e tal, mas mais vale uma sintonia real do que selfies bacanas de casal para postar.

Vem spoiler aqui:

Para que as presepadas do galã pareçam menos graves, o roteiro coloca uma traição de Lily. Aí pronto, não tem perdão. Nossa, que grave. Pronto, podemos enterrar essa mulher independente e bem-sucedida que não serviu o homem que estava ao seu lado 100% do tempo (ele nunca esteve ao seu lado de verdade, é bom lembrar).

Katherine nesse momento já está caída na de Owen. "Qual o jeito certo de viver sua vida?", ele pergunta meio bêbado. A filosofia barata poderia ligar o alerta de roubada na mulherada, mas o efeito é oposto. Sem que percebamos, estamos lá de novo no modo: "Vem cá, meu bem, a gente explica tudo o que sabe para você, te ajuda a aplacar essa tristeza e faz você se sentir importante". A paixão, realmente, é um negócio miserável.

A partir daí, o romance da mulher mais velha com o "garoto", como ela diz, engata. E ele começa a mandar bem de fato. Se oferece para deixá-la sozinha para que possa escrever, respeita seus limites e transa com ela aparentemente de maneira satisfatória. "Ser vista, compreendida e amada é realmente assustador", ela explica depois. Faz sentido? Não muito.

Owen é o símbolo do homem que a gente valoriza mais do que deve. Não precisa nem de 60 minutos na tela para você perceber que está fazendo isso de novo, via Netflix. Tem solução? A ex-namorada dele acha que sim: focou em si mesma e sua arte, arrumou outro que entendia o que ela estava falando e seguiu. Bom, o filme não é sobre ela. Mas deveria.

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