'The White Lotus': sem celular nem sexo, a viagem de Saxon é para dentro

Ler resumo da notícia
O jovem adulto muito rico está na Tailândia, em um resort que a gente provavelmente não conseguiria pagar nessa encarnação. Antes de completar 30 anos, Saxon (Patrick Schwarzenegger) é o estereótipo do herdeiro sem noção nenhuma de vida real. Trabalha na empresa de seu pai e afirma que não tem nada que importe para ele além disso. Nem percebe o quanto isso é triste.

Ao chegar no hotel, é estimulado, como todos os hóspedes, a deixar o celular sob os cuidados de uma das funcionárias. A vida no resort tailandês é offline. Saxon não dá muita bola para a regra e parece acreditar que não é esse pequeno empecilho que vai lhe impedir de conseguir o que quer —e ele quer transar com tudo que for do sexo feminino.
Curtir a vida tem bastante a ver com sexo para ele. Todas as suas conversas dizem respeito às pessoas com quem ele pode transar. Mulheres, nessa retórica, são potenciais vítimas de seu instinto de predador sexual.
O discurso, entretanto, não bate com a prática. As investidas de Saxon são frequentemente desprezadas e quase ridicularizadas pelas hóspedes de "The White Lotus". Mesmo com toda a grana, com toda fama, ninguém está assim tão a fim do nepobaby. A falácia, somada às noites que terminam com masturbação solitária, acaba deixando o belo rapaz em uma situação meio patética.
Menos celular, mais diálogo
A ausência do celular obriga a busca pelas relações reais. Primeiro, com o irmão mais novo, a quem, com ares professorais, ele busca ensinar como conseguir uma mulher. Dá certo e quem consegue sexo é o caçula, em uma farra repleta de vazio e sobre a qual ninguém consegue conversar direito depois. "Por que você não quis transar comigo?", ele pergunta para Chelsea, uma moça a quem conhece por lá e que se mantém fiel ao namorado. Ela explica que seria sem significado e ele demora a entender o que isso quer dizer. Sexo sem conexão não faz sentido para ela, mas ele nem sabe que poderia ser diferente.

"Por que você me escrotiza tanto?", ele pergunta em outro diálogo, já realmente interessado no crescimento pessoal que a troca com a moça oferece, por menos fluidos que tenham trocado entre eles. Sem sexo, ele se vê obrigado a olhar para si. Deixa de bater seu shake de gosto duvidoso para ficar musculoso e troca o ritual por livros. Quer fortalecer outras partes de si.
Sem a oportunidade de tapar os buracos que carrega com trabalho, confronta o pai sobre seu futuro profissional. Quer entender um pouco mais e prevê que a vida como era antes não vai mais existir quando for embora do resort. Aí, é preciso alicerçar a si mesmo para se segurar no terremoto que virá. O desespero não é só por gozar, como no começo e, sim, por ter uma relação profunda como a de Chelsea e Rick. Mas antes, precisa saber lidar consigo mesmo.
O arco do personagem me lembra um meme antigo que dizia mais ou menos assim: "Todo mundo gosta um pouco de permissividade. Mas e na alminha? Não vai nada?". Ninguém foi permissivo com Saxon e o jeito foi dar uma atenção para a alma mesmo.
Quem não largou o celular na recepção de "The White Lotus" e está aí scrollando um app loucamente em busca do match que resolva momentaneamente o vazio, poderia mirar-se no exemplo de Saxon. Mesmo com toda cama, há outro jeitinho de ir levando. Para depois, sim, ainda bem, entender o que é se conectar verdadeiramente com alguém, como Chelsea sugere. Saxon, quem diria, foi quem saiu da série melhor do que entrou.
Você pode discordar de mim no Instagram.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.