Luciana Bugni

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Opinião

'The White Lotus': sem celular nem sexo, a viagem de Saxon é para dentro

O jovem adulto muito rico está na Tailândia, em um resort que a gente provavelmente não conseguiria pagar nessa encarnação. Antes de completar 30 anos, Saxon (Patrick Schwarzenegger) é o estereótipo do herdeiro sem noção nenhuma de vida real. Trabalha na empresa de seu pai e afirma que não tem nada que importe para ele além disso. Nem percebe o quanto isso é triste.

Alerta de Spoiler Splash
Alerta de Spoiler Splash Imagem: Arte UOL

Ao chegar no hotel, é estimulado, como todos os hóspedes, a deixar o celular sob os cuidados de uma das funcionárias. A vida no resort tailandês é offline. Saxon não dá muita bola para a regra e parece acreditar que não é esse pequeno empecilho que vai lhe impedir de conseguir o que quer —e ele quer transar com tudo que for do sexo feminino.

Curtir a vida tem bastante a ver com sexo para ele. Todas as suas conversas dizem respeito às pessoas com quem ele pode transar. Mulheres, nessa retórica, são potenciais vítimas de seu instinto de predador sexual.

O discurso, entretanto, não bate com a prática. As investidas de Saxon são frequentemente desprezadas e quase ridicularizadas pelas hóspedes de "The White Lotus". Mesmo com toda a grana, com toda fama, ninguém está assim tão a fim do nepobaby. A falácia, somada às noites que terminam com masturbação solitária, acaba deixando o belo rapaz em uma situação meio patética.

Menos celular, mais diálogo

A ausência do celular obriga a busca pelas relações reais. Primeiro, com o irmão mais novo, a quem, com ares professorais, ele busca ensinar como conseguir uma mulher. Dá certo e quem consegue sexo é o caçula, em uma farra repleta de vazio e sobre a qual ninguém consegue conversar direito depois. "Por que você não quis transar comigo?", ele pergunta para Chelsea, uma moça a quem conhece por lá e que se mantém fiel ao namorado. Ela explica que seria sem significado e ele demora a entender o que isso quer dizer. Sexo sem conexão não faz sentido para ela, mas ele nem sabe que poderia ser diferente.

Patrick Schwarzenegger, Sarah Catherine Hook e Sam Nivola interpretam irmãos em 'The White Lotus'
Patrick Schwarzenegger, Sarah Catherine Hook e Sam Nivola interpretam irmãos em 'The White Lotus' Imagem: Divulgação

"Por que você me escrotiza tanto?", ele pergunta em outro diálogo, já realmente interessado no crescimento pessoal que a troca com a moça oferece, por menos fluidos que tenham trocado entre eles. Sem sexo, ele se vê obrigado a olhar para si. Deixa de bater seu shake de gosto duvidoso para ficar musculoso e troca o ritual por livros. Quer fortalecer outras partes de si.

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Sem a oportunidade de tapar os buracos que carrega com trabalho, confronta o pai sobre seu futuro profissional. Quer entender um pouco mais e prevê que a vida como era antes não vai mais existir quando for embora do resort. Aí, é preciso alicerçar a si mesmo para se segurar no terremoto que virá. O desespero não é só por gozar, como no começo e, sim, por ter uma relação profunda como a de Chelsea e Rick. Mas antes, precisa saber lidar consigo mesmo.

O arco do personagem me lembra um meme antigo que dizia mais ou menos assim: "Todo mundo gosta um pouco de permissividade. Mas e na alminha? Não vai nada?". Ninguém foi permissivo com Saxon e o jeito foi dar uma atenção para a alma mesmo.

Quem não largou o celular na recepção de "The White Lotus" e está aí scrollando um app loucamente em busca do match que resolva momentaneamente o vazio, poderia mirar-se no exemplo de Saxon. Mesmo com toda cama, há outro jeitinho de ir levando. Para depois, sim, ainda bem, entender o que é se conectar verdadeiramente com alguém, como Chelsea sugere. Saxon, quem diria, foi quem saiu da série melhor do que entrou.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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