Por que desfile da Victoria's Secret com modelos paradas no tempo encanta?
Alessandra Ambrósio, Isabelli Fontana e Adriana Lima estão na passarela como as "angels" da Victoria's Secret. A marca de lingerie bombava no início dos anos 2000 justamente por levar modelos magérrimas à passarela — Gisele Bundchen fazia parte do bonde de asinhas de anjo até 2006. Em 2024, após hiato de sete anos de desfiles, as três brasileiras aparecem novamente e chamam a atenção por todo o borogodó, com exatamente a mesma cara e corpo de antes.
Neste século, evoluímos um pouco na discussão acerca de corpos perfeitos. Tivemos campanha de marcas que defenderam o corpo real e influencers anti-gordofobia que pregaram o que era inimaginável nos anos 90. Corpos não-magros apareceram não em contexto de humor, mas na realidade, mesmo. Daí para a passarela, foi um pulo. Mas, sem hipocrisia aqui para o nosso lado, a gente sabe que o mundo fashion privilegia a magreza como única forma de existir e ser aceita. Bem, com certo atraso, a Victoria's Secret entendeu que não dava para parar no tempo. Não dá para dizer que não havia mulher gorda, trans, idosa na passarela. Mas quem chamou a atenção mesmo?
As mesmas Alessandras, Adrianas e Isabellis de 20 anos atrás. E o mais impressionante, como pontuou a produtora Gabriela Bruzzi no Instagram, elas tinham a mesma cara de 20 anos atrás. O que aconteceu, gente? Congelou?
Gabriela explicou que se trata de uma nova geração de rejuvenescimento: saem o ácido hialurônico e suas polêmicas e entra uma novidade de procedimento que parece ser feito com a gordura do próprio corpo da pessoa. É isso, você rejuvenesce uma gordurinha que está naquelas bolsas abaixo da pálpebra que você odeia — é confuso explicar. Lindsay Lohan virou símbolo desse movimento e chega como quem tivesse saído do Fusca que falava (o filme que a revelou é de 2004, quando ela tinha 18 anos). Christina Aguilera parece estar cantando "What a Girl Wants" em um video de 1998, quando ela tinha 18 também. Só que ela tem 43.
O que uma garota quer? O que uma garota precisa?
Bem, se o negócio é dar uma postergadinha no envelhecimento, a resposta para o refrão grudento de Christina é dormir, usar protetor solar, fazer exercício físico, não fumar e cortar açúcar. As soluções aparentemente mais baratas estão na boca de qualquer médico razoável que se filme na vertical para colocar no Tik Tok. Se tem dinheiro no bolso, dá para tentar outros artifícios.
Mas é impressionante mesmo que o fascínio das moças de padrão de beleza inalcançável tenha dividido a militância na internet. De um lado a galera do "que absurdo ainda isso", de outro a turma do "deixa elas serem mais magras do que é humanamente possível". E há ainda um grupo cuja reação impressiona: "é isso que queremos para sair da realidade", eles defendem. Não sei se é esse tipo de fuga que quero, se cada vez em que olhar para o espelho ou para uma selfie sem filtro, verei a realidade estampada.
Entendo o frisson. É gostoso ver filme antigo e dá uma segurança interessante saber como as coisas são. Adriana Lima e a Lindsay, olha só, estão iguaiszinhas! Mas, claro, é privilégio de uma classe social ficar como era com 18 anos. Congelar a cara custa caro.
Não gostar do próprio envelhecimento porque todo mundo que a gente vê na TV está congelado, porém, custa mais caro ainda. Pode custar a nossa liberdade de sorrir cheia de rugas para quem bem entender. Aí não tem jeito: terapia nelas (eu estou falando da gente mesmo). Quanto custa a nossa autoestima?
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