Renato é grilo falante de Marco Aurélio e fracassa: e você ouve os seus?

Ler resumo da notícia
"Acho que meu filho é bicha", diz Marco Aurélio (Alexandre Nero) com voz baixa, meio envergonhado e preocupadíssimo. "E daí?", retruca Renato (João Vicente Castro).
O empresário, dono da Tomorrow, tem sempre uma palavra de coerência para oferecer ao primo, com quem divide apartamento. Como um conselheiro razoável, ele afirma, por exemplo, que seria bom para seu filho, Tiago (Pedro Waddington), ver a mãe, Paolla Oliveira.
Renato parece um cara legal, daqueles que, apesar de muito rico, vê os outros seres humanos que o cercam. Enquanto Marco Aurélio está tripudiando em cima do jeito de se vestir de uma secretária — a quem quer demitir apenas por esse motivo —, o primo ouve o feedback negativo de Leila (Carolina Dieckmann) sobre um procedimento na empresa e muda para melhorar o conforto do prestador de serviço. E, por ser assim, acha que Marco também poderia ceder um pouco.
É o que rola quando ele pede ajuda para Rubinho (Julio Andrade). O músico precisa de uma passagem para Nova York e Marco, que é proprietário de uma companhia aérea, se nega a oferecer auxílio. Renato fica indignado. "Não acredito que estamos falando de uma passagem. Isso pode ser a oportunidade da vida de uma pessoa", explica. O vilão não quer nem saber. Garante que não é uma ONG — depois muda de ideia, pois levar Rubinho em seu jatinho pode trazer vantagens em seus trambiques para levar uma mala cheia de dólares para o exterior.

Marco Aurélio, apesar de corrupto caricato e desalmado, pode ser comparado com muitos de nós. Quantas vezes "grilos falantes" travestidos de familiares ou amigos se posicionam em nossos ombros e dão boas recomendações que simplesmente ignoramos?
Como o bandido da novela, a gente também conta nossos supostos problemas e pouco está aberto para os Renatos que vão dizer: "e daí que seu filho é gay?" Apegados às crenças que estipulamos como nossas, não há margem para mudança.
O assunto me lembra uma frase da minha mãe enquanto reclamava do meu egocentrismo na adolescência: "Você pensa assim: primeiro eu, depois eu, e, se sobrar um pouquinho é para mim também". Não era mentira. Na juventude, a gente realmente se coloca na frente de tudo e de todos e está pouco aberto aos alertas dos sensatos ao redor. O problema é, na vida adulta, fechar os olhos e ouvidos para qualquer lição só para manter a própria crença de que está com a razão.
Tem muito Renato por aí dizendo coisas certas e ponderadas. A gente tem duas opções: parar e ouvir para repensar o próprio caminho ou seguir pelo lado que julgamos ser o único possível, mas é errado.
Você pode discordar de mim no Instagram. Aliás, é ouvindo quem discorda que a gente cresce, sim.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.