'Morrendo por sexo', na Disney: importância do desejo quando tudo se quebra

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Molly (Michelle Adams) tem 40 anos, fez mastectomia após um câncer nos seios e quer voltar à vida sexual com o marido, que cuida dela muito bem, mas não é exatamente interessado em transar. A situação é complicada, mas piora. No meio de uma sessão com uma psicóloga, ela recebe uma ligação do médico informando a reincidência da doença. É metástase. Ela vai entrar em cuidados paliativos porque não tem mais retorno. Molly vai morrer.
A partir daí, ela compra cigarros e refrigerante daqueles bem baratos que — dizem — dão câncer. Quem se importa a essa altura? O fim é também liberdade de ser o que sempre quis.
Ela chama a melhor amiga. Não quer mais ficar casada, quer transar. A amiga entende o impasse e faz o que se espera de alguém nos ame tanto: cuida da moça com toda a atenção do mundo, a ponto de esquecer de si. Se falta pouco tempo para a despedida, que esse tempo seja o mais feliz, na medida do possível, em uma situação que é triste demais.
Molly tem mais que células cancerígenas espalhadas por todo o corpo. Tem um profundo trauma de infância relacionado à violência sexual que a impede de ter orgasmos com outra pessoa. Além do casamento frio, tem uma relação triste com a mãe e nenhuma promessa de melhora. Como motivação para os poucos anos de vida que lhe restam — com sorte — ela tem apenas o próprio desejo. A vontade de gozar. O amor da amiga. E pouco tempo para viver o tempo que lhe resta.
As aventuras sexuais e descobertas de Molly são apenas o pano de fundo da autodescoberta. Como na música, ela descobre o que faria se lhe restassem (alguns) dias. A cura de um trauma é um orgasmo? A morte é fim ou começo? É possível fazer graça da metástase? Tem também um jeito de se cercar de amor sem causar mais dor, especialmente no caso da inevitável despedida?
Quando o cronômetro regressivo acelera, a gente não tem muito tempo para perder com aquilo que evitamos fazer para não magoar os outros. Deixar um marido bom e cuidadoso? Sim, ela tem outros interesses. Perdoar a mãe? Não, ela que se perdoe. Não tem abraço, não tem redenção, não tem nada que seja mais importante do que rir de si e descobrir o prazer.
A tradução do titulo da série perde um pouco do original "Dying for sex". Morrendo, sim. Mas morrendo de vontade de viver ao máximo o próprio desejo enquanto um tumor irreversível se espalha por aí.
A história é real e sua protagonista já faleceu. A amiga ficou. Eles sempre ficam. No fim das contas, não há nada mais importante que amigos e amor — nem para a mais excitada das criaturas.
Depois dos oito episódios, uma sensação de ternura misturada com o incômodo: o que você tiraria da sua vida quando lhe restasse pouca vida? Será que a gente precisa disso tudo mesmo? Vai ver é um orgasmo aqui, uma amiga ali e um saco de amendoim apimentado o que precisamos para ser feliz. A gente cria tanta história...
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