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Lucas Pasin

REPORTAGEM

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Como Anitta virou ícone contra Bolsonaro 4 anos após vídeo viral 'Ele Não'

Anitta publicou o primeiro "Ele não" contra Jair Bolsonaro há exatos quatro anos - Reprodução/Instagram
Anitta publicou o primeiro 'Ele não' contra Jair Bolsonaro há exatos quatro anos Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

23/09/2022 04h00

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Há quatro anos, em 23 de setembro de 2018, Anitta dizia seu primeiro "Ele não". Provocada por Daniela Mercury, a cantora se mostrou contrária ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL, hoje PL), mas sem sair em defesa de algum candidato.

A iniciativa foi tímida, um pouco criticada, mas marcou o início de uma mudança na imagem da cantora, que atualmente, além de se posicionar claramente e fazer campanha para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se tornou um "ícone pop" da oposição ao atual governo.

Esta coluna de Splash destaca o que mudou no discurso e o modo de se posicionar de Anitta nos últimos quatro anos.

A artista, que estimula que seus fãs nem pronunciem o nome de Jair Bolsonaro para não aumentar o engajamento do político - batizando o presidente de Voldemort, em referência ao vilão da saga "Harry Potter" - já bateu boca com apoiadores ao governo, pregou contra o presidente em entrevistas pelo mundo, e está preste a subir em um palanque ao lado de outros artistas.

Vale lembrar que em 2018, bem diferente da Anitta atual, a cantora não queria participar de qualquer movimento político e não agradou com seu posicionamento afirmando apenas que "não vota em candidato machista, homofóbico e racista".

Naquele vídeo, no entanto, iniciava a campanha de Anitta contra Jair Bolsonaro. Se para muitos fãs, o simples "ele não" não foi suficiente, para bolsonaristas a cantora já surgia como inimiga.

No ano seguinte, em 2019, no Rock in Rio, Anitta virou meme por uma piada política de Titi Müller. Enquanto o público gritava "Ei Bolsonaro vai tomar no c?", a apresentadora falou: "Vamos ouvir, olha lá, eles chamando a Anitta". Mais um episódio envolvendo o nome do político e da artista, que mais uma vez optou por não se envolver diretamente.

Anitta enfrentava um desafio. Famosa por "rebolar a bunda" - como dizem muitos quando querem diminuir a artista - a cantora sabia que para realmente entrar em uma briga política precisava mostrar conhecimento. Foi aí que, em 2020, com a ajuda de Gabriela Prioli, fez aulas ao vivo, nas redes sociais, sobre o assunto.

A cantora começou com perguntas básicas, como "o que são os três poderes?". De forma humillde, mostrou publicamente que política é um assunto inacessível a milhões de brasileiros, mas que ela estava atrás de informações para poder questionar.

Depois disso, a "poderosa" fez diversas lives em que falava de economia, direitos autorais e políticas de minorias, entre outros temas. Anitta, que domina bem o marketing, soube mostrar para quem quisesse ver que estava se informando e que, por isso, ganhava cada vez mais notoriedade para comentar assuntos.

Ganhando reconhecimento na música pelo mundo, Anitta também aproveitou para levar suas preocupações com o país para eventos internacionais e entrevistas em programas fora do país. No MET Gala, em Nova York, por exemplo, conversou com Leonardo DiCaprio sobre democracia e a importância da Amazônia. A cantora encontrou seus aliados.

A mudança final de Anitta veio este ano, com uma nova eleição. Alvo de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores, a cantora, mesmo sem morrer de amores por Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Partido dos Trabalhadores, declarou apoio ao ex-presidente. E mais: se ofereceu para fazer campanha. Vimos outra versão da artista que há quatro disse não "querer ser obrigada a fazer campanha".

Anitta em vídeo de 2018 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Anitta em vídeo de 2018
Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo Splash apurou, Anitta concluiu que não há outra candidatura viável para derrotar Bolsonaro e, diante dos sucessivos ataques que recebeu dos apoiadores do atual presidente, decidiu se engajar para ajudar a derrotá-lo.

Na próxima segunda-feira (26), Anitta poderá abrir mão até mesmo da "rivalidade" com Ludmilla — com quem já teve desavenças profissionais — para dar o passo mais significativo de sua mudança política nos últimos anos: subir ao palanque de Lula em um grande ato batizado de "Brasil da Esperança".

A Anitta desafiada por Daniela Mercury, que parecia mais "obrigada" a sair de cima do muro, não é a mesma, e, muito provavelmente, não reconheceria a atual.