Futmesa é bom ou ruim? O que se fala sobre febre que gerou rixa no Flamengo
A presença de um futmesa no Ninho do Urubu gerou a primeira rixa entre José Boto, diretor de futebol, e José Luiz Runco, chefe do departamento médico do Flamengo. Febre entre os jogadores e cada vez mais comum dentro dos CTs dos clubes, o objeto acabou levantando uma polêmica nos primeiros dias dos novos rostos do rubro-negro.
Segundo Mauro Cezar Pereira, colunista do UOL, Runco perguntou ao fisioterapeuta Fábio Marcelose se aquilo servia para algo. Diante da negativa do ponto de vista de sua especialidade, mandou tirar. Ao descobrir, Boto mandou que a mesa fosse mantida.
O futmesa conquistou o coração dos boleiros e é usado pelos clubes geralmente para momentos de descontração. Nem todos utilizam, mas rivais do Fla, como São Paulo, Internacional e Palmeiras, têm uma dessas no CT. Em 2018 já havia registros dos jogadores rubro-negros brincando entre si. Há uma corrente no Flamengo que diz que o problema de Runco foi causado unicamente pelo piso duro onde fica a mesa, que pode forçar o joelho. Outro lado diz que o médico foi taxativo sobre não servir para nada.
O UOL consultou especialistas sobre os benefícios ou problemas dessa prática. No futmesa, as partidas são disputadas em mesas de Teqball curvadas com uma bola de futebol e geralmente em duplas. Cada dupla pode dar até três toques, mas nunca com mãos ou braços.
O que dizem os especialistas?
Segundo Flávia Magalhães, médica do esporte, há controvérsias sobre o futmesa.
Existem controvérsias em relação ao futmesa: riscos e benefícios. Os movimentos e atividades ao jogar futmesa podem ser úteis para o aquecimento de atletas, especialmente quando praticado de forma dinâmica e controlada, pois envolve movimentos, como deslocamento lateral, saltos, giros e coordenação motora fina. Há movimentos de flexão, extensão, rotação das articulações como tornozelos, joelhos, quadris e ombros. Além disso trabalha coordenação e agilidade. Contudo, trata-se usualmente de um momento de recreação e que deve ser realizado de forma dinâmica e controlada para que de fato traga algum benefício para aquecimento e ser analisado no controle de carga do atleta de forma individualizada. Tratado dessa forma, evita-se lesões e pode se ter uma boa relação para a transição para os exercícios específicos do futebol Flávia Magalhães, médica do esporte
Kauê Lima, fisioterapeuta, não vê problemas na práticas.
Não vejo problema [no futmesa]. Talvez, tenha uma questão quanto a localização dessa mesa dentro do departamento de fisioterapia. Não sei se, de repente, estava em um local que atrapalhava alguns aspectos quanto a reabilitação de outros atletas, mas, no que tange a recreação e até mesmo na fase de transição durante a recuperação, ela pode e vem sendo utilizada há praticamente uma década, por alguns clubes. O São Paulo, o Atlético-MG, o Corinthians e até mesmo a seleção brasileira são alguns exemplos que usam ou já usaram o futmesa de forma recreativa e no processo de transição da recuperação, quando o atleta sai da fase do departamento médico e ainda não está em campo realizando atividades com bola. Ainda, ajuda na parte de percepção do corpo do atleta no espaço, auxiliando no retorno de movimentos mais rápidos e, ao mesmo tempo, sem tanto esforço. Trabalha também a parte cardiorrespiratória, importante para reinserir o atleta nos gramados de forma moderada, nos casos de lesões nos membros inferiores. Deste modo, embora pareça apenas um recurso meramente recreativo, tem funcionalidades em parte do processo de reabilitação. Kauê Lima, fisioterapeuta
João Barboza, fisioterapeuta, cita benefícios do futmesa, mas alerta para alguns riscos.
O futmesa pode ser uma atividade útil para o aquecimento dos atletas. Como é uma atividade que mimetiza muitos gestos que eles vão executar em um jogo de futebol ou em um treino, quando realizada de uma forma gradual e controlada, ela pode preparar, sim, as articulações, os músculos, para situações que o atleta tende a encontrar no período de treinamento ou de competição. É uma atividade que traz riscos durante a sua execução. Como ela exige extremos de amplitude de movimento e de movimentos explosivos, se esse atleta não realizar uma ativação prévia, que inclui preparação muscular e articular, ele pode estar sendo exposto a um risco, sim, porque o corpo dele não está com as articulações e com a musculatura preparada para aquela exigência. Uma forma ideal de jogar o futmesa, em um pré-jogo, pro exemplo, seria fazer com que os atletas passem por um período de pré-aquecimento, com alguns exercícios de atividade articular e ativação muscular, para que depois eles fossem para o futmesa. Então, para ficar mais claro, eles fariam essa ativação, iriam para o futmesa, depois para o aquecimento com o preparador físico e, após isso, já estariam preparados para o jogo João Barboza, fisioterapeuta
Hélio Nichioka, fisioterapeuta, destaca o lado recreativo do futmesa.
O futmesa atualmente vem crescendo como uma modalidade recreativa muito usada por jogadores profissionais e amadores de futebol com a vantagem de demandar poucos recursos e espaço para a sua prática. Do ponto de vista de preparação física para atletas, não faz sentido. O futmesa tem uma característica mais lúdica e competitiva e geralmente provoca competições divertidas com jogadores muito engajados Hélio Nichioka, fisioterapeuta
Para Felipe Tadiello, fisioterapeuta, o futmesa não auxilia tanto na reabilitação de jogadores profissionais.
O futemesa pode ser uma ferramenta interessante em contextos recreativos ou até mesmo para a melhora de habilidades coordenativas específicas no futebol. No entanto, quando falamos de propósitos preventivos e de reabilitação dentro da fisioterapia no ambiente do futebol, sua aplicação é bastante limitada. Isso ocorre porque a fisioterapia preventiva e reabilitadora exige uma abordagem mais integrada e direcionada às demandas biomecânicas e funcionais dos atletas. Trabalhamos com protocolos baseados em evidências, que incluem exercícios específicos de força, estabilidade, mobilidade e controle neuromuscular, visando tanto prevenir lesões como reabilitar o atleta para que ele retorne ao esporte com segurança e desempenho otimizado. Embora o futemesa possa contribuir de forma leve para coordenação motora e interação entre os jogadores, ele não atende às necessidades complexas que a fisioterapia se propõe a resolver no futebol profissional Felipe Tadiello, fisioterapeuta
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