Rodrigo Mattos

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OpiniãoEsporte

Por que eleição no Flamengo derrotou situação apesar de títulos e estádio

Não é possível classificar as duas gestões de Rodolfo Landim no Flamengo como ruins, foram administrações exitosas. Houve aumento de receita para além do bilhão, títulos como duas Libertadores e o início de um projeto de estádio.

Mas por que, neste cenário, ele não conseguiu eleger seu escolhido - Rodrigo Dunshee - como sucessor? Por que o eleitor rubro-negro escolheu Luiz Eduardo Baptista, que era seu antigo aliado e virou opositor?

Primeiro, apesar do sucesso esportivo e financeiro, a gestão de Landim estagnou em seu final. Não por acaso o clube de maior orçamento conquistou apenas uma Copa do Brasil de relevante em dois anos.

O caixa reforçado para contratar reforços se perdia na falta de um projeto esportivo mais bem desenhado, com um Norte certeiro. Não é correto dizer que o departamento de futebol é todo ineficiente porque acerta mais do que erra em contratações de jogadores, amarra bem contratos.

Mas os resultados se tornaram só dependentes do técnico de plantão. Quando se errava a escolha, era uma catástrofe. Quando se acertava, nunca havia um projeto estável de time.

Em paralelo, ao escolher o sucessor, Landim optou por um candidato que é identificado com um Flamengo de antes da revolução de 2013. Não vai aqui nenhum prejulgamento de Dunshee, que, como outros candidatos, tem méritos e defeitos. Mas é um fato que sua rejeição era alta. Até pelo pai que vendeu Zico na década de 80.

Em sua gestão à frente do jurídico, Dunshee ainda saiu mas cedo de um encontro para negociar indenização com as famílias dos 10 jovens mortos no incêndio do CT do Ninho do Urubu. O tratamento do caso, por sinal, foi um ponto falho da gestão Landim pela falta de sensibilidade.

Neste sentido, Bap pode ser visto como mais parecido com Landim do que o próprio candidato de situação. Por que, como Landim, era um dos cabeças que atuou na gestão desde 2013, com idas e vindas no clube. Mais, uma boa parte dos líderes daquele movimento estava do seu lado, Rodrigo Tostes, Cláudio Pracowinick, Flávio Willeman, etc.

Na chapa de Maurício Gomes de Mattos, estava o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello. E, com Landim, estava Landim, que se tornaria CEO. A imagem era de um projeto personalista.

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O atual presidente encaminhou ainda o projeto de estádio rubro-negro com a compra do terreno do Gasômetro. Era o grande sonho da torcida, ponto para ele, que teve méritos na articulação com o poder público para viabilizar a aquisição.

Mas o projeto ainda carece de dar respostas sobre como será seu financiamento, nenhuma das três chapas provou, por A+B, que é possível pagar o mínimo de R$ 2 bi sem comprometer financeiramente o Flamengo. E o uso eleitoreiro do projeto foi tão escancarado que talvez tenha limitado seu efeito positivo para a chapa.

O aperto financeiro do clube no final de 2024 - longe da crise de outros clubes, mas real - demonstra essa situação. O terreno pesou, as contratações de meio de ano também. Landim - que teve boa gestão financeira por cinco anos e meio e reduzira a dívida a patamares baixíssimos - vai entregar um clube com os cintos apertados para 2025. Houve um crescimento da dívida que reduziu a capacidade de investimento futura.

Aliado a isso, houve uma campanha sangrenta e um uso da máquina do clube pela situação em níveis inéditos. Sim, houve erros também da chapa de Bap em questões eleitorais.

Mas Dunshee chegou a falar em um cadastro para compra de cativas do novo estádio que nunca foi público, isto é, ninguém sabe quem eram os 300 que se inscreveram para garantir lugar e quais os critérios. Fora que nunca se gastou tanto dinheiro em uma eleição de time de futebol.

Landim tornou-se curiosamente um presidente impopular na arquibancada apesar de títulos e feitos na gestão, uma raridade no futebol brasileiro. Dentro do clube, seu candidato ficou bem distante do eleito. E nem foi pela não-renovação de Gabigol, um dos seus acertos, diga-se, já que baseada em desempenho esportivo.

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Eleito, Bap tem um desafio enorme. O Flamengo deu dois saltos de gestão (nas duas administrações Bandeira ao arrumar as contas) e nas de Landim (com salto de receitas e eficiência esportiva por quatro anos).

Agora, o novo presidente terá de viabilizar um projeto de R$ 2 bilhões (mínimo) em cinco anos enquanto atende às altas exigências esportivas do clube. Não é algo fácil. Certamente terá de olhar para o antecessor para tentar replicar acertos, e principalmente evitar os erros.

Opinião

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