Grupo de Textor enfrenta desafio financeiro e crise em clube-chave
O grupo Eagle Football, de propriedade de John Textor, enfrenta um desafio para obter financiamento em meio a uma crise financeira do clube-chave, o Lyon, da França. Trata-se do grupo do qual pertence o Botafogo. Os efeitos para o clube carioca, finalista da Libertadores, ainda são incertos.
Com sede no Reino Unido, o Eagle formou um grupo de clubes liderados por Textor que teve ajuda de dinheiro externo para se financiar. No MCO (Multi-Club Ownership), estão o Botafogo, o Molenbeek, o Lyon, Crystal Palace e o FC Florida.
No final de outubro, o Eagle anunciou um plano de recaptalização para obter US$ 1,1 bilhão (R$ 6,4 bilhões). Como tradução, o objetivo é levantar dinheiro para reestruturar a empresa, seus débitos, e tentar alavancar mais investimentos.
Do total deste plano, US$ 600 milhões (R$ 3,5 bilhões) envolvem cessão de participação no grupo. Uma parte ocorreria por negociação de uma fatia do grupo diretamente e outra por IPO (lançamento de ações em bolsa).
O restante é dinheiro a ser obtido com a venda do Crystal Palace (45%) e novos refinanciamentos para pagar dívidas antigas. Esses débitos incluem compromisso grande com o grupo Ares Management, que pode tomar as ações do grupo Eagle se não for pago. É dessa ameaça que Textor quer se livrar.
Não está claro quanto percentualmente Textor está disposto a ceder da fatia de seu grupo de clubes dentro do IPO. Atualmente, uma parte já não pertence a ele, embora ele seja majoritário com em torno de 60% das ações.
Opa, então o Botafogo vai ter mais dinheiro para investir?
Não é bem assim, porque a situação do principal clube do grupo, o Lyon, exige bastante recurso para ser recuperada. Em novembro, como o clube é listado na bolsa de valores, foi publicado o relatório financeiro do time francês para 2023/2024.
Há uma dívida de 505 milhões de euros (R$ 3,1 bilhões), valor bem superior à receita de 361 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões). Há empréstimos que somam 330 milhões de euros (R$ 2 bilhões). O Lyon, na prática, foi comprado com a geração de débito por Textor. O empresário prometia resolver em dois anos, mas a dívida aumentou 47 milhões de euros (R$ 288 milhões) na primeira temporada completa sob o empresário norte-americano.
Assim como ocorre no Botafogo, o Lyon fechou o seu primeiro ano com déficit de 25 milhões de euros (R$ 153 milhões), valor inferior ao buraco anterior, mas ainda significativo.
Risco de punição ao Lyon
Na imprensa francesa, como no tradicional L'Equipe, fala-se abertamente sobre a possibilidade de punição ao Lyon pela DNGC, orgão regulador do Campeonato Francês. As penas são de perda de pontos, proibição de contratar e rebaixamento. Isso se a situação financeira não for resolvida.
Para sanar o caso, no relatório financeiro, o clube aponta as seguintes soluções: venda de 75 milhões de euros (R$ 460 milhões) em jogadores e participações do grupo Eagle. Isso significa que outros clubes do grupo teriam de ajudar na venda, e aí entra o Botafogo, pois teria de gerar receita com transações de atletas.
Ressalte-se que há uma grande interação de jogadores e movimentação financeira entre os clubes do Eagle.
Além disso, seriam usados 140 milhões de euros (R$ 858 milhões) do plano de recaptalização, venda do Crystal Palace e levantamento do IPO. Mais, o Lyon ainda promete vender mais jogadores no meio de 2025. Ou seja, o clube precisa negociar muitos atletas.
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Mas há incertezas sobre o plano. No documento financeiro do Lyon, está escrito: "Os auditores externos consideraram que o trabalho de auditoria realizado nas premissas de estruturação por conta das preocupações não permitem a eles juntar suficiente evidência para expressar uma opinião sobre a razoabilidade das várias premissas". Segundo John Textor, essa ressalva só foi feita porque os auditores não fizeram o trabalho de análise de contas na emrpesa-mãe e portanto não podiam se pronunciar sobre o plano.
O plano de Textor de ter um time na Premier League está travado. Tem que primeiro vender o Crystal Palace, o que não é fácil por ser uma participação minoritária sem poder. E precisaria de um novo refinanciamento para obter o dinheiro para comprar outro clube - a aquisição do Everton deu errado.
O documento sobre a recaptalização destaca os crescimentos de receitas do Botafogo e do Lyon. E fala principalmente sobre o sucesso esportivo do clube carioca - líder do Brasileiro, então semifinalista da Libertadores (agora está na final) -, além da cessão de atletas à seleção.
O sucesso esportivo é uma forma de convencer potenciais investidores a colocar o dinheiro necessário a Textor para seguir seu plano de avançar com a MCO. A negociação anterior, com a empresa Iconic, deu errada. Sem esse dinheiro, o empresário norte-americano tem um buraco grande para cobrir no seu clube europeu e dentro da Holding.
Ou seja, a final da Libertadores tem um papel importante para Textor demonstrar que seu projeto tem sucesso esportivamente e possa se tornar atrativo.
Questionado pelo blog, Textor não respondeu sobre possíveis impactos ao Botafogo, nem sobre a alternativas ao seu plano de recaptalização.
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