Djokovic x Alcaraz, capítulo VIII: sobre Murray, mente e motivação

Quando escrevi antes do jogão de quartas de final entre Novak Djokovic e Carlos Alcaraz, destaquei a importância do encontro para a parceria Andy-Nole. Seria o primeiro grande teste para o sérvio com Andy Murray em seu box, e o resultado foi o melhor possível: uma vitória em quatro sets com uma dose extra de pimenta porque veio de virada e incluindo um problema físico.
Não vou especular aqui sobre quais elementos táticos foram aplicados por influência do britânico porque é o tipo de comentário impossível de fazer sem que uma das partes envolvidas (técnico ou jogador) fale abertamente sobre quem teve qual ideia. São duas mentes privilegiadas trabalhando em conjunto e, por enquanto, não parece justo fazer esse tipo de comentário "de fora". Dito isto, a importância de Sir Andy Murray se fez notada quando Djokovic foi imediatamente abraçá-lo após o jogo.
Especificamente sobre o embate, foi um daqueles clássicos casos em que o mental de um jogador fez a diferença. Djokovic, lidando com uma questão física, foi mais forte e consistente mentalmente do que Alcaraz. O espanhol mostrou mais uma vez que tecnicamente, golpe a golpe, é capaz de superar o sérvio. Fisicamente, idem. No entanto, Djokovic, lesionado, gerou dúvidas na cabeça de Carlitos que o distraíram o suficiente para provocar uma queda em seu nível de tênis. Diante disso, o veterano foi superior até quando tudo apontava que Alcaraz deveria ter aberto vantagem.
De certo modo, o duelo de Melbourne lembrou o de Cincinnati 2023, quando Alcaraz vencia por um set e uma quebra enquanto Djokovic passava mal com o calor. O espanhol bobeou, jogou um game ruim e perdeu a dianteira. Nole se recuperou fisicamente, voltou para o jogo e venceu dois tie-breaks para ficar com o título: 5/7, 7/6(7) e 7/6(4).
A chave do duelo, obviamente, foi o segundo set, quando Nole se mostrou mais vulnerável, sentindo mais dor e nem sempre se movimentando bem - sobretudo quando precisava correr para a direita. Foi justamente na reta final dessa parcial que Alcaraz cometeu erros graves. No 4/4, com Djokovic sacando em 0/15, inventou uma subida à rede horrorosa depois de uma boa devolução. Foi jantado pelo sérvio, que confirmou o saque sem drama em vez de, quem sabe, ver-se com 0/30 no placar. No 4/5, Carlitos abriu o game errando uma esquerda simples. Depois jogou uma direita alta que facilitou a vida de Djokovic. Uma ótima devolução depois, e Nole já tinha três set points. A quebra, que parecia inevitável, veio com outro winner de devolução.
O terceiro set começa com um Djokovic afiado diante de um Alcaraz que, se ainda protagonizava jogadas espetaculares aqui e ali, não parecia entender o que acontecia em quadra. E o que acontecia em quadra era um Djokovic melhor, sentindo menos dor (uma hora depois do tempo médico, tempo suficiente para os analgésicos fazerem efeito) e, mentalmente, senhor da partida. Era questão de tempo para que a vantagem técnica e tática de Nole ficasse nítida também no placar. Alcaraz batalhou, mas quando deixou o veterano sobreviver ao segundo set, perdeu também o controle das ações, e de forma definitiva.
"Eu sinto por ele. Entendo que não é confortável enfrentar alguém que você não sabe se vai abandonar a partida ou não. Ele está se movendo? Ele está correndo? O que está acontecendo? Senti que ele estava olhando mais para mim do que para si mesmo. Eu só estava tentando observar o que estava acontecendo com meu corpo e, ao mesmo tempo, focando em cada ponto e em cada game, tentando confirmar meu saque e pressioná-lo, colocar-me em uma posição em que eu podia quebrá-lo. Quebrei no 5/4 e foi bom o bastante para fechar o set. Depois, com 1 set a 1, comecei a me sentir melhor, e ele começou a jogar com mais hesitação do fundo de quadra, errando um pouco mais", foi o que disse Djokovic após a partida (veja no vídeo acima).
O que vem pela frente agora? Depende de como o corpo de Nole vai se recuperar antes da semifinal contra Alexander Zverev, que será só na sexta-feira. A julgar por lesões passadas, o cenário mais provável pinta um Djokovic em boas condições. E se isso acontecer, como ele mesmo declarou, ele não precisará de motivação extra para batalhar contra o alemão. Faltam apenas duas vitórias para o 25º slam, e essa é toda motivação que Nole precisa.
Coisas que eu acho que acho:
- Taticamente falando, Djokovic usou e abusou do saque na direita de Alcaraz. O mundo inteiro do tênis já percebeu que ele tem muita dificuldade até de recolocar a bola em quadra quando precisa se esticar para devolver o saque desse lado. Nole ganhou muitos pontos assim, "de graça" - inclusive alguns bem importantes.
- Do outro lado, como já era de se esperar, Djokovic foi brilhante em algumas devoluções de direita, até mesmo de dentro para fora, do lado de "iguais". Jogada que faz diferença, sobretudo no segundo set, nos momentos em que sua movimentação não era das melhores.
- Djokovic não foi específico, mas disse que a lesão é muito parecida com a que ele teve durante o Australian Open de 2023. Durante a coletiva com os jornalistas, Nole disse que o efeito dos analgésicos estava passando e que ele vinha sentindo "coisas diferentes", mas que veria nos dias seguintes como seu corpo evoluiria.
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