Como Ednaldo Rodrigues passou de aclamado a abandonado em 52 dias
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Gilmar Mendes afirmou ao UOL na tarde de quinta-feira: "Sou sócio do IDP". Aqui sempre se tratou o ministro do STF como fundador do instituto, controlado por seu filho Francisco e que tem sociedade com a CBF Academy, parceria assinada durante a gestão de Ednaldo Rodrigues. "Não há nenhum conflito de interesses meu", prosseguiu o ministro.
Durante as oito tentativas de votação do mérito da liminar concedida por Gilmar Mendes e que devolveu Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF, em janeiro de 2024, dois ministros do STF declaram-se impedidos de votar. O presidente Luiz Roberto Barroso julgou haver conflito de interesses porque seu sobrinho, Rafael Barroso Fontelles, participou da defesa, no início do processo. O ministro Luiz Fux entendeu-se impedido porque seu filho, Rodrigo Fux, advogou a favor da CBF no passado.
Cada um, cada um...
O constrangimento causado pela parceria entre a CBF e o IDP é parte do processo de abandono de Ednaldo Rodrigues. Só um pedaço. Há acordos descumpridos, frases mal colocadas ou mal interpretadas, tratamento pouco cordial nas relações políticas e de trabalho de Ednaldo, em Brasília e no Rio de Janeiro.
O manifesto das dezenove federações que largaram a mão do (agora) ex-presidente da CBF indica como muitos deles se sentiram incomodados pela informação de que colegas receberam aumentos de mesadas e passaram a receber até R$ 215 mil mensais. A generosidade não foi igual para todos.
Das oito federações ausentes do manifesto, cinco estão ligadas a vice-presidentes eleitos há 52 dias, para o segundo mandato de Ednaldo, Reinaldo Carneiro Bastos (SP), Leomar Quintanilha (TO), Roberto Góes (AP), Ricardo Nonato (BA) e Gustavo Oliveira Vieira (ES).
Neste momento, não parece haver chance de reviravolta.
Há 52 dias, o cenário era outro. As 27 federações estaduais e os 40 clubes de Séries A e B votaram maciçamente na continuidade de Ednaldo Rodrigues. Entre os presidentes de clubes, o discurso era de que o presidente já estava reeleito e, se fossem os únicos heróis a votar contra, correriam risco de retaliação.
Ednaldo é visto como um homem vingativo.
A questão central é se há irregularidade. Se a assinatura do Coronel Antônio Carlos Nunes é falsificada, Ednaldo cai! Sem choro nem vela.
Se não for falsificada, não cai.
Não importa se a Fifa vai ameaçar, se Ancelotti vai desistir (não vai!), se o Brasil vai ganhar ou perder a Copa, se iria ou não disputar as Olimpíadas, como justificativa da liminar de dezesseis meses atrás.
O debate tem de ser sobre legalidade. Tem de ser jurídico.
Mas é político.
As 19 federações, agora na oposição, sabiam que Ednaldo estava prestes a cair. Ou alguém ingenuamente acredita que é possível unir 19 descontentes e elaborar um documento em apenas quatro horas? Ednaldo caiu às 17 horas de quinta-feira. Às 21h, o documento está redigido, assinado e divulgado.
Os clubes, enquanto isso, observam. Sem liderança nem unidade.
O Brasil está perto demais de construir um futebol de alto nível, moderno e competitivo, dentro de campo. Perto demais para ficar tão longe, jogado ao coronelismo, votando por medo de retaliações.
Nas federações, sempre haverá alguém para gritar "Viva" e logo depois soltar: "Morra!" Como Nezinho do Jegue, personagem de O Bem Amado, de Dias Gomes. Bêbado, ora exaltava, ora condenava Odorico Paraguaçu, o prefeito corrupto e autoritário da cidade fictícia de Sucupira.
"Viva, Odorico!" Isto faz 52 dias!
"Morra, Odorico!" Esta é a certeza de agora.
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