Duelo com Alcaraz é primeiro grande teste para parceria Djokovic-Murray

Quando Novak Djokovic anunciou a contratação de Andy Murray, surpreendendo boa parte do circo viajante tenístico, o objetivo não demorou a ficar cristalino. O sérvio queria alguém com experiência e tamanho - leia-se "campeão de slam" - e recém-saído do circuito. Na lista de requisitos de Nole, era essencial conhecer o cenário de hoje e seus principais nomes.
Em bom português, Djokovic queria - e quer! - alguém que lhe ajudasse contra dois nomes específicos: Jannik Sinner e Carlos Alcaraz. Nole vê os dois como seus principais obstáculos para chegar ao 25º título de slam, seu maior objetivo atual no tênis. O sérvio quer ser, de forma isolada, o maior campeão de simples da história. O atual empate com os 24 de Margaret Court não basta.
Sinner e Alcaraz, é bom lembrar, privaram Djokovic diretamente de três títulos de slam. O espanhol bateu Novak em duas finais de Wimbledon (2023 e 2024). O italiano eliminou o sérvio no Australian Open do ano passado. São os melhores tenistas da atualidade (ainda que Alexander Zverev seja o atual #2 do ranking). Juntos, abocanharam os quatro slams de 2024.
Djokovic enfrenta Alcaraz nesta terça-feira, em um duelo precoce, válido ainda pelas quartas de final. E será aí que veremos em que Andy Murray consegue fazer a diferença a favor de Djokovic. Até agora, Nole vem fazendo um torneio bem a seus moldes, jogando do fundo de quadra, apostando na sua consistência e na sua capacidade física. Não mostrou nenhuma novidade tática realmente relevante. Porém, se a ideia é colocar em prática algo novo contra Alcaraz, talvez esconder essa novidade durante a primeira semana do Australian Open tenha sido inteligente.
Dois grandes pontos de interrogação
Murray passou os últimos anos de sua carreira brigando contra tenistas mais jovens, mais ágeis, que batiam mais forte na bola e que tinham a capacidade de resistir fisicamente por mais tempo. Ainda assim, foi competitivo aqui e ali. Anotou vitórias importantes em jogos longos. Encontrou maneiras de igualar-se (ou quase isso) diante das dificuldades de quem precisava jogar com um quadril de metal.
O desafio que Djokovic encontra aos 37 anos não é tão diferente assim. Sinner e Alcaraz voam em quadra. Batem fortíssimo na bola quando querem. Sacam bem e têm ótimas devoluções. Nole tem vivido altos e baixos físicos, inclusive com quedas consideráveis durante trechos de certas partidas. Tecnicamente, ainda é um grande devolvedor e tem dois excelentes serviços. Em jogos longos, contudo, talvez esse pacote não seja mais o bastante contra Alcaraz e Sinner, e a tendência é que essa diferença física aumente à medida em que Nole se aproxima dos 40, e seus rivais têm 21 e 23 anos, respectivamente.
Há dois pontos de interrogação interessantes antes do duelo desta terça. O primeiro é justamente sobre Nole e seu plano de jogo. Que armas diferentes o sérvio vai usar para surpreender e, possivelmente, evitar que seu condicionamento físico (que deu um susto no jogo contra Machac) lhe impeça de jogar pontos longos contra Alcaraz? Vai encurtar os pontos? Como? Curtinhas não são habitualmente seu forte. Nole subirá mais à rede? Chamará os rivais à rede? Difícil prever no momento, sobretudo porque Djokovic não fez nada disso até agora em Melbourne. O duelo com Alcaraz será o primeiro teste real para a contribuição de Andy Murray.
A segunda questão diz respeito ao movimento de serviço de Alcaraz. O espanhol vem colocando em prática um movimento novo, diferente, mais fluido. É algo que vem sendo implementado desde a pré-temporada, e como esse período no circuito mundial é curtíssimo, Carlitos ainda está se familiarizando com o novo serviço. Colocar em quadra um novo serviço, sem 100% de consistência e confiança, diante da melhor devolução do planeta, é um grande risco. Um risco necessário, evidentemente, porque 1) Carlitos teve lesões no braço recentemente; e 2) não há tempo de fazer esse tipo de ajuste fora dos torneios. Ainda assim, trata-se de um cenário perigoso para Carlitos. Como seu novo movimento vai funcionar nos 30/30 e nos 30/40 da vida? Será que Alcaraz arriscará menos o primeiro serviço? E se jogar assim, não abrirá as portas para as devoluções mortais de Djokovic? Difíckl prever no momento, afinal Alcaraz não foi realmente exigido no torneio até agora. Nole será seu primeiro teste real.
Coisas que eu acho que acho:
- Veio aqui atrás de uma previsão? Não tem. Alcaraz é o favorito das casas de apostas, mas é difícil imaginar que, na prática, ele tem essa vantagem toda sobre Djokovic. É difícil até julgar que o espanhol vem fazendo um torneio melhor do que o sérvio. Os dois foram muito pouco testados até agora e não precisaram jogar muito além de seu basicão por enquanto.
- Os dois últimos jogos (finais de Wimbledon e Paris 2024) não são grandes referências. No primeiro, Djokovic estava longe de sua melhor forma, ainda recuperando-se da cirurgia no joelho. No segundo, o sérvio esteve brilhante, mas o saibro ensolarado de Roland Garros é bem diferente da sessão noturna e do piso duro da Rod Laver Arena.
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