Léo Batista encarnou pioneirismo na TV e deixou exemplo eterno de dinamismo
A morte de Léo Batista encerrou hoje uma trajetória brilhante que marcou a televisão brasileira. Vindo do rádio, a fonte dos grandes profissionais que construíram a TV em nosso país, João Baptista Belinaso Neto já trazia na bagagem experiências importantes, como a cobertura da morte do presidente Getúlio Vargas, quando coube a ele dar a notícia em 1954.
As gerações mais novas sempre se lembrarão de Léo Batista como uma figura histórica da TV Globo, presente em diversos programas, como o 'Globo Esporte', o 'Fantástico', entre outros, sempre colocando a 'Voz Marcante' em gols e momentos importantes do esporte brasileiro. Mas o profissional foi muito além disso. Léo Batista ajudou a criar o que conhecemos como televisão no esporte.
O 'Esporte Espetacular', por exemplo, no ar até hoje na TV Globo, foi criado para Léo Batista apresentar. A Fórmula 1 teve as primeiras narrações na Globo com Léo Batista, que em tempos sem computadores e cronometragem ao alcance em poucos cliques já dava os seus jeitos para contar a história das corridas usando e improvisando ferramentas manuais para saber onde estavam os carros, quem liderava, qual era a distância entre os pilotos.
Talvez seja ainda mais surpreendente para os jovens saber que Léo Batista já cobria surfe décadas antes de a modalidade se tornar olímpica e render medalhas ao Brasil. A 'Zebrinha' no Fantástico com os resultados da loteria esportiva, as apresentações no 'Jornal Nacional', o maior telejornal do país, até mesmo as incursões na TV paga, com o programa 'Gol a Gol', exibido no sportv entre 2007 e 2008. Era muito dinâmico. Fazia o que fosse preciso e cumpria a missão que dessem a ele.
Foi assim que Léo Batista narrou até o primeiro gol transmitido ao vivo em uma Copa do Mundo para o Brasil. Em 1970, quando a Globo se juntou em pool de emissoras com a Rede de Emissoras Associadas (Tupi) e a Rede de Emissoras Independentes (Record e Bandeirantes) para exibir o Mundial que terminaria com tri da seleção brasileira, os profissionais de todos os canais se revezavam nas narrações.
A primeira partida, entre México e União Soviética, terminou sem gols. Na segunda transmissão, dias depois, um Peru x Bulgária, houve um problema que impediu a equipe brasileira de chegar ao estádio a tempo de comandar a transmissão. No Rio de Janeiro, Léo Batista, então freelancer da TV Globo, foi destacado para a missão de narrar com as imagens que chegavam das terras mexicanas. Abriu um jornal com as escalações dos dois times e 'mandou ver'. Teve a sorte de narrar o gol da Bulgária que marcou a história da televisão esportiva no Brasil. Dermendjiev foi o autor do gol. Mas no placar final deu Peru, 3 a 2.
Léo Batista também foi um dos primeiros apresentadores do 'Jornal Hoje', comandou o 'Copa Brasil', primeiro programa diário esportivo da TV Globo, uma espécie de embrião do que seriam as atrações futuras, com o próprio 'EE' lançado em 1973. Contava ter dado a ideia do nome 'Globo Esporte' para o noticiário lançado em 1978 e que até hoje faz parte da grade diária.
Ainda sobrava tempo e disposição para compor músicas, outra de suas paixões. No documentário 'Léo Batista - A Voz Marcante', exibido no ano passado pelo sportv e disponível em streaming pelo Globoplay, foi muito legal ver a emoção de Léo ao encontrar pessoalmente a dupla Chitãozinho & Xororó, de quem era fã. Narrou apurações de carnavais na TV Globo.
Na década passada, lançou até o quadro 'Canal do Seu Léo', mostrando que uma pessoa que viveu o rádio dos anos 1950, a televisão em seus primórdios, inventou e ajudou a criar formatos de sucesso na telinha, também conseguiria, mesmo depois dos 80 anos, se adaptar à linguagem dos tempos de internet.
Em um mundo no qual vemos tanta gente se queixando das mudanças de linguagens, formatos, maneiras de fazer conteúdo e jornalismo, Léo Batista era figura rara não apenas pela experiência acumulada e por tudo o que criou, mas também por até o fim de sua vida uma pessoa aberta a mudanças e disposta a encarar o novo. Vai fazer muita falta.
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