Allan Simon

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Com cara de TV paga, programa de Galvão na Band ainda patina na audiência

O programa "Galvão e Amigos" estreou no último dia 31 de março com ares de nostalgia fortíssimos. Além de ser um retorno do narrador à Band, casa que praticamente o revelou para o cenário nacional e de onde saiu para ser a maior referência do esporte na Globo por mais de 40 anos, também era uma volta do formato que marcou a vida de uma geração de espectadores na TV paga ao longo de quase 20 anos no sportv, o "Bem, Amigos".

Por razões de marca, o "Bem, Amigos" não voltou com o nome original, que é o bordão usado historicamente por Galvão Bueno na abertura de suas transmissões. Mas, na prática, o "Galvão e Amigos" é praticamente a mesma coisa. Mas tem detalhes que atrapalham o desempenho no Ibope, muito mais falado na TV aberta do que nos tempos da TV por assinatura.

Na edição de estreia, quando recebeu Ronaldo como convidado principal, a atração marcou 1,4 ponto de média. Na semana seguinte, já caiu para 0,9, chegando a 0,8 na segunda-feira passada. Na primeira exibição, esta coluna apontou que um dos problemas era replicar demais o modelo dos tempos de sportv sem ter os mesmos recursos.

Sem falar na impossível comparação de alcance entre TV por assinatura e TV aberta, o canal pago da Globo quase sempre tinha uma partida de futebol entregando uma audiência mais alta para o 'Bem, Amigos' servir como uma espécie de pós-jogo. A 'Segunda Campeã' era uma marca do sportv. E o programa de Galvão chegou a ter até como atração fixa uma posição de entrevistas com jogadores no estádio onde aconteciam esses jogos.

A Band sequer tem os direitos de transmissão do Brasileirão. Até as análises dos lances da rodada ficam sujeitas às regras limitadas para uso das imagens para não detentores. O campeonato também não possui mais jogos tão fortes nas noites de segunda-feira, já que hoje em dia o calendário ainda mais apertado tem constantemente partidas de terça na Libertadores e Sul-Americana que impede os principais times do país de atuar no primeiro dia útil da semana.

É como se o 'Galvão e Amigos' já entrasse com a pauta envelhecida, discutida por todos os outros programas em emissoras como a própria Band, que tem o 'Jogo Aberto' e 'Os Donos da Bola', mas também na Record, que faz na noite de domingo o 'Esporte Record', além de atrações com bem mais audiência, como o 'Globo Esporte'.

O público mais fanático e com acesso a outras mídias ainda tem chance de ver toda a discussão no próprio domingo com TV paga e internet. Há uma profusão de canais falando da rodada. Mas isso não explica sozinho a audiência do programa de Galvão Bueno na Band.

Até há pouco tempo, o SBT tinha seu programa esportivo de debates nas noites de segunda-feira, o 'Arena SBT', que já foi apresentado por nomes como Téo José e Cleber Machado, e recentemente voltou ao comando de Benjamin Back, mas mudou para as quartas-feiras atuando como pós-jogo de rodadas que são da TV Globo e da Record. Havia um público para isso, tanto que as médias ficavam entre 2 e 3 pontos. Bem mais do que Galvão consegue entrando no ar até mais cedo na Band.

O problema é que a Band tem uma grade extremamente prejudicada por razões financeiras. Há uma faixa entre 21h25 e 22h20 negociada com uma igreja evangélica, que exibe o 'Show da Fé' e despenca os índices de audiência do canal. Sair desse 'limbo' é uma missão muito complicada. O telespectador que não quer ver programação religiosa simplesmente muda de canal e só volta no dia seguinte para ver atrações mais consolidadas, como 'Brasil Urgente' e 'Jornal da Band'.

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Internamente, o rendimento ainda não provoca pânico. O 'Galvão e Amigos' tem patrocinadores fortes, conseguiu pautar a mídia com entrevistas importantes, como a do próprio Ronaldo, mas também de Muricy Ramalho e Emerson Leão. E a aposta na fórmula segue firme. Hoje, por exemplo, Renata Fan será a convidada especial, assim como Neto já apareceu na semana passada.

O programa também vai separar um tempo para falar dos 40 anos da primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1, com participação de Reginaldo Leme. Um assunto histórico, importante, mas que não tem exatamente a ver com o que rolou na rodada quente do fim de semana. É um modelo que tem cara de TV paga e cabia perfeitamente nos tempos do sportv. Na Band, ainda precisará se provar diante de todos os desafios, inclusive de grade, e também se adequar melhor ao público da TV aberta.

O 'Galvão e Amigos' é um programa tecnicamente bonito, a cenografia ficou incrível e há forte nostalgia de fato com os tempos do sportv. A reunião de nomes como Mauro Naves, Casagrande, e outros profissionais que fizeram história com Galvão Bueno na Globo também tornam a atração imperdível para quem gosta de TV. A pergunta que fica é: o grande público também se move apenas com isso? Serão cenas dos próximos capítulos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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