Soluções buscam destravar recarga de elétricos no Brasil

A infraestrutura para carros eletrificados no Brasil dobrou de tamanho nos últimos anos, mas ainda é um grande gargalo no desenvolvimento da eletromobilidade.

Atualmente, a frota de carros elétricos e híbridos no país ultrapassa 210 mil unidades e os números mais recentes mostram que existem por aqui quase 5 mil estações de recarga. Ou seja, ainda é uma proporção pequena: um carregador para cada 14 veículos.

A expansão, no entanto, segue, basicamente, com empresas privadas buscando parcerias, estudos e também outras formas de atender quem já está na jornada da eletrificação e os próximos a entrar nela.

A Ultracharge é uma delas. A iniciativa surgiu dentro da Scania Latin America, a partir da observação das dificuldades que os proprietários de veículos elétricos enfrentam para encontrar pontos de recarga confiáveis e acessíveis.

A empresa utiliza unidades móveis de recarga, que são picapes ou Veículos Urbanos de Carga (VUCs) equipados com bancos de energia de alta capacidade (80 a 500 kWh) e carregadores rápidos de até 60 kW.

Esses modelos operam como uma espécie de power bank gigantesco e auxiliam o consumidor, especialmente, na chamada recarga emergencial. "Quando o cliente se programou e ficou sem bateria em um local sem ponto de carregamento próximo", explica José Berretta, engenheiro de produto da Scania Latin America.

A Ultracharge oferece ainda a recarga programada, para quem deseja carregar o carro sem precisar buscar um posto, e o atendimento a empresas com frotas elétricas que não podem ou não planejam investir em infraestrutura fixa.

Segundo Berretta, um plano de quatro atendimentos mensais de 30 kWh custa R$ 400. Já o atendimento emergencial de 10 kWh custa R$ 200 e o atendimento programado, R$ 3,50/kWh.

Atualmente, a empresa está em fase de testes em São Bernardo do Campo e São Paulo, com planos de expansão para toda a região metropolitana e, posteriormente, para outras cidades da América Latina.

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A recarga desses bancos de energia é feita em pontos estratégicos com energia de fontes renováveis — e não usa geradoras a diesel.

Sem sobrecarga

Na esteira dessa ampliação surgem também soluções e iniciativas que precisam caminhar junto para gerenciar e não sobrecarregar a rede.

A Neoenergia, responsável pela geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia em 18 estados do Brasil e no Distrito Federal, atende mais de 35 milhões de usuários.

A companhia tem um projeto piloto junto ao governo e, mais precisamente, com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica): o "bônus para carregadores inteligentes de veículos elétricos".

O projeto tem o objetivo de estimular o carregamento em horários alternativos, para evitar picos de demanda no sistema de distribuição. Além disso, quer incentivar a adoção de carregadores inteligentes que permitam o monitoramento e gerenciamento remoto para acompanhar e otimizar o consumo de energia.

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Em contrapartida, oferece um bônus aos clientes que adotarem os carregadores inteligentes — serão 500 inicialmente — que consiste em 60% do valor do equipamento, limitado a R$ 4.689,49 e dividido em 24 meses.

Caso o cliente altere seu perfil de consumo e não gere mais o ganho energético esperado, não receberá o valor referente àquele mês. O custo total estimado do projeto é de quase R$ 5,5 milhões.

"O momento em que o consumidor decide mudar a fonte energética e a forma de abastecer seu veículo, quebrando um costume de décadas, é uma oportunidade de introduzir conceitos importantes para o uso mais eficiente da energia elétrica", diz Daniel Sarmento, supervisor de eficiência energética da Neoenergia.

O objetivo da companhia é estabelecer práticas que se antecipem às dificuldades já experimentadas em outros países que tiveram um aumento significativo de carga em decorrência da conexão de carregadores de veículos elétricos à rede.

Outra solução promete simplificar a cobrança do uso de carregadores de carros em prédios e condomínios.

A Tyr Energia desenvolveu uma plataforma de gestão de energia que integra medidores inteligentes. A proposta é permitir que o consumo de energia dos condomínios seja monitorado em tempo real para que as unidades possam cobrar seus moradores de maneira proporcional ao consumo individual.

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"Essa demanda adicional pressiona as contas de energia e pode gerar um impacto nos custos mensais dos condomínios, especialmente com a taxa entre moradores. Em média, um carro elétrico consome entre 10 a 30 kWh por dia, o que pode representar um aumento substancial na fatura mensal", aponta Eduardo Miranda, CEO da Tyr. "Isso pode ser feito em qualquer local do país, independentemente da distribuidora que detenha a concessão", completa.

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