Inundações na Espanha foram 12% mais intensas devido à crise climática

A duas semanas da COP29, quando líderes mundiais discutirão a crise climática, um novo estudo da WWA (World Weather Attribution) mostra que as mudanças climáticas provocadas pelo homem intensificaram as dez piores catástrofes globais das últimas duas décadas. Esse impacto aumentou a intensidade de eventos climáticos extremos e foi responsável por mais de 570 mil mortes desde 2004.

Além disso, os pesquisadores estimam que as chuvas torrenciais que caíram na Espanha foram 12% mais intensas e duas vezes mais prováveis do que antes do aquecimento do clima. Até o momento, 205 mortes foram confirmadas.

A análise ressalta como a elevação de 1,3°C na temperatura global já é um perigo para a humanidade e destaca as medidas urgentes de mitigação e adaptação às consequências do aquecimento global.

A WWA, uma entidade científica que analisa o papel das mudanças climáticas nas catástrofes meteorológicas, revisitou eventos como o ciclone Nargis, que matou cerca de 138 mil pessoas em Myanmar em 2008, para avaliar como o aquecimento global tem influenciado desastres naturais.

As descobertas destacam que nenhum lugar está seguro. Tanto países ricos quanto pobres têm registrado grandes perdas de vidas, sendo os mais pobres os mais afetados. "A mudança climática não é uma ameaça distante," disse Friederike Otto, cofundadora da WWA. "Ela já está piorando eventos extremos que deixam centenas de milhares de mortos."

Para Roop Singh, chefe de Atribuição Climática do Centro de Clima da Cruz Vermelha, "os altos números de mortes em eventos extremos mostram que não estamos preparados para um mundo com 1,3°C de aquecimento, muito menos para um de 1,5°C ou 2°C." A preparação para eventos climáticos extremos inclui atualizar infraestruturas obsoletas e adotar políticas que priorizem os mais vulneráveis.

Tragédia na Espanha

A rede de especialistas, que sistematizou um método científico para estimar a relação entre fenômenos meteorológicos extremos e a mudança climática, alerta, no entanto, que, dada a natureza muito recente das inundações na Espanha, sua "análise não é um estudo de atribuição completo e detalhado" como é habitual, "pois os cientistas não usaram modelos climáticos para simular o evento em um mundo sem aquecimento provocado pelo ser humano".

Um estudo de atribuição completo geralmente é realizado em vários dias ou semanas.

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Desta vez, os cientistas do WWA se concentraram apenas na comparação entre o que ocorreu na Espanha desde terça-feira (29) e "estudos meteorológicos históricos".

Eles examinaram dados do passado sobre as precipitações em um único dia no sul da Espanha para entender como esses eventos evoluíram desde o clima pré-industrial (1850-1900), quando a temperatura do planeta era 1,3 ºC menor do que agora.

A conclusão é que "os estudos meteorológicos históricos indicam que as precipitações em um único dia nesta região aumentam à medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima".

Os cientistas estimam que "a mudança climática é a explicação mais provável" para a intensidade das precipitações na Espanha "já que uma atmosfera mais quente pode conter mais umidade, o que provoca chuvas mais intensas".

Estudo parcial

Estudos anteriores já estabeleceram que, com 1,3 ºC de aquecimento global, a atmosfera pode conter cerca de 9% mais umidade.

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Trata-se de um "estudo parcial", comenta à AFP Sonia Seneviratne, integrante do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

"O relatório do IPCC também mostra que se espera um aumento das precipitações extremas em nível global, por isso essas conclusões são consistentes com as tendências gerais observadas", acrescentou.

Segundo uma análise do grupo Climate Central, a mudança climática fez com que as temperaturas quentes do oceano Atlântico fossem entre 50 e 300 vezes mais prováveis, adicionando umidade à atmosfera.

E o aumento das precipitações observado na Espanha é coerente com estudos anteriores de atribuição de precipitações intensas na Europa, apontou a WWA em um comunicado.

Esse impacto aumentou a intensidade de eventos climáticos extremos e foi responsável por mais de 570 mil mortes desde 2004.

A análise ressalta como a elevação de 1,3°C na temperatura global já é um perigo para a humanidade e destaca as medidas urgentes para mitigar e adaptar-se às consequências do aquecimento global.

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