A crise climática já chegou: onde estamos nesse tabuleiro?
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Na semana passada, o observatório Copernicus, da União Europeia, anunciou que 2024 foi o ano mais quente já registrado, bem como o primeiro a ultrapassar 1,5ºC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. A cifra é considerada pelos cientistas como a fronteira para evitar consequências mais drásticas das mudanças climáticas.
O recorde veio acompanhado por índices igualmente preocupantes compilados pela Nasa e pela Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas). No Brasil, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) também apontou que 2024 foi o ano mais quente desde o início das medições (1961).
Há vários anos os cientistas alertam para o fato de que as temperaturas médias mais altas provocarão o aumento e a intensidade dos eventos climáticos extremos. Ou seja, os incêndios que ainda queimam a Califórnia, as enchentes catastróficas do ano passado, e as ondas de calor por toda parte são apenas amostras do que um mundo mais quente e desequilibrado nos promete para os próximos anos.
Para a grande maioria dos países, esse caos climático exige uma completa transformação na forma como se produz e consome energia, com a substituição de fontes fósseis por outras, menos prejudiciais ao meio ambiente. Trata-se de um processo extremamente custoso, num contexto ainda mais desafiador porque a própria crise agrava as condições econômicas - seja pelos custos da recuperação de áreas atingidas por desastres, seja pelos efeitos do clima nas atividades econômicas, como a agricultura.
O Brasil está entre os pouquíssimos países com condições de se beneficiar desse cenário. Apesar das ameaças dos extremos climáticos a diferentes áreas da economia - como a agricultura e a infraestrutura (em particular no caso do setor elétrico, dados os impactos das secas nas condições dos reservatórios das hidrelétricas) -, a qualidade das nossas matrizes energética e elétrica e o potencial de fontes limpas nos permitem contribuir, para a nossa descarbonização e com a de outros países.
Isso pode ser feito por meio do aumento da produção de baixo carbono por parte da nossa indústria, combinando o impacto internacional positivo com o nosso próprio desenvolvimento socioeconômico.
Mas, para transformar esse potencial em realidade, temos de preservar a qualidade das nossas matrizes elétrica e energética. Neste momento, a primeira delas está sob forte ameaça de "jabutis" inseridos no projeto de lei sobre as eólicas offshore. Embora tenham sido vetadas pela Presidência da República na semana passada, numa demonstração de grande consciência do Executivo em relação às pautas energéticas e ambientais, tais determinações alheias ao projeto original agora passam por novo escrutínio no Congresso.
Ainda corremos o risco, portanto, da derrubada do veto presidencial e da consequente prorrogação de subsídios à geração com carvão mineral e de que se facilite a contratação de novas térmicas a gás natural com altos índices de inflexibilidade (ou seja, previstas para operar na maior parte do tempo), ambas medidas injustificáveis tanto do ponto de vista técnico e econômico, além do ambiental.
Outra ameaça à renovabilidade das nossas matrizes é a possibilidade de retomada do ciclo de investimentos em exploração e produção de petróleo e gás natural. Neste momento, o setor deveria estar pisando fundo em usar sua expertise e capacidade de investimento para acelerar a transição e se posicionar globalmente como provedor competitivo de soluções de baixo carbono. Um exemplo disso seriam as rotas brasileiras para produzir os SAF (combustíveis sustentáveis de aviação).
Como já destacamos em outras oportunidades, novos ciclos de investimentos em fontes fósseis vão prolongar a expansão de uma infraestrutura de longa vida útil associada a uma alta taxa de emissão de poluentes, ampliando nossa contribuição para as mudanças climáticas.
E mais: são investimentos que tendem a dar resultados efetivos apenas em médio prazo, quando as fontes fósseis devem estar perdendo espaço em favor do protagonismo da energia limpa e de outras soluções de descarbonização.
O fato é que podemos contribuir no enfrentamento das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, buscar um futuro com mais desenvolvimento e aumento do bem-estar da nossa população.
E temos todas as chances para tanto, pois está ao nosso alcance contribuir com a obrigatória transição energética global transformando-a num ativo para o nosso próprio crescimento econômico. Não podemos, no entanto, cair em armadilhas que comprometam essas possibilidades.
6 comentários
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Arthur Eduardo Freitas Heinrich
Nem tudo o que parece é de fato o que pensamos ser. A geração de energia limpa, como gostam de dizer, não é tão limpa assim. A hidrelétrica inunda uma imensa área com suas barragens, desmatando uma área que deixa de absorver CO2. As eólicas dependem de áreas descampadas, produzem barulho, interferem na fauna e causam transtornos em moradores da região. A solar danifica o solo e sua permeabilidade, provocando desvio da água da chuva e alagamentos. Além disso, estas formas de geração dependem da natureza e não funcionam continuamente. Só a energia nuclear pode ser considerada mais limpa, constante e confiável. Além disso, reduzir a emissão de CO2 é uma bobagem. Nossa produção é insignificante se comparada à natureza e o CO2 é essencial para a vida. Sem ele morremos de fome.
Walmor Barbosa Martins Jr
O tabuleiro é esse: População da Ásia + África = 6 bilhões. População das Américas + Europa = 1,7 bilhões.
Ricardo Santa Maria Marins
O BRASIL vai bem nessa foto. Mas, precisa ter como acompanhantes nas negociações em geral referentes ao tema meio ambiente e clima, o suporte científico além do político. E o peso dado ao suporte científico deve ser maior que o político. Se o Governo LULA não errar nessa, estará ajudando o Brasil para frente. Caso contrário, será uma decepção a mais. O meio ambiente e o os fatores que envolve o clima devem ser tratados a luz da ciência. Ideologias devem ficar de fora. E parar essa FRESCURA de direita e esquerda. O meio ambiente não está nem aí para o que pensam os ideólogos políticos. O Meio ambiente quando quer vai lá e TOMA e toma na porrada ou na queimada. Los Angeles é um bom exemplo pra reflexão afora o que aconteceu no Brasil em 2024. Especialmente, ao Sul, Rio Grande do Sul, quando pensaram politicamente e abandonaram a ciência, deu no que deu. Os eventos vão PIORAR e MUITO. ATENÇÃO! PALAVRA DE ORDEM: PREVENÇÃO com ação! OPINIÃO!