COP30, a indústria e a transição justa

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A COP30 é uma vitrine para o Brasil. O evento, que ocorrerá em Belém em novembro deste ano, será uma chance de o país demonstrar que a neutralidade de carbono só será atingida em 2050 se houver uma reorganização, ao menos parcial, das cadeias produtivas globais, num movimento que também garanta a transição energética justa.
Essa reorganização compreende principalmente o deslocamento de estruturas fabris para regiões que dispõem de recursos estratégicos para a descarbonização, como energia renovável em condições competitivas, minérios e outros materiais críticos.
Essas regiões se encontram principalmente no Sul Global, tendo o Brasil como um de seus principais expoentes. Afinal, o país também reúne predicados como a disponibilidade de infraestrutura, mão de obra qualificada e uma diplomacia da paz.
Tal reorganização é chave para promover a descarbonização da produção de bens industriais tanto nos países periféricos como naqueles que dispõem de matrizes majoritariamente térmicas, mas que hoje concentram a maior parte das cadeias produtivas e da renda e poderiam passar a adquirir bens com baixa pegada de carbono do primeiro grupo de nações.
Seria, portanto, um processo ganha-ganha, que também estimularia o desenvolvimento socioeconômico de regiões hoje voltadas à produção de commodities e bens minimamente processados.
Com investimentos produtivos, geração de empregos de qualidade e aumento da complexidade da economia, esse processo tem tudo para melhorar a distribuição de renda e a qualidade de vida nos países de renda média e baixa.
Dessa forma, vai permitir a verdadeira transição energética justa, um conceito que também deve englobar a questão da requalificação e realocação dos trabalhadores hoje dedicados à indústria de petróleo, gás natural e carvão mineral.
Mas essa estratégia só vai funcionar se a implementação de medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas estiver presente de maneira transversal em toda a pauta da COP30, com foco nas ações efetivas que os países podem aplicar o mais rápido possível.
No caso do Brasil, isso pressupõe um engajamento da indústria nessa direção, de modo que a conferência proporcione benefícios concretos em favor da descarbonização, de acordos globais de fomento ao comércio de produtos industriais com baixas emissões e, ao fim e ao cabo, do desenvolvimento socioeconômico e verde de países do Sul Global.
Esse engajamento tem de contemplar uma participação ativa do setor produtivo na apresentação de ações concretas a serem implantadas em favor do net zero. Em paralelo, no evento, as empresas brasileiras têm a oportunidade de colocar sob os holofotes internacionais o nosso potencial de atendimento ao mercado nascente de produtos fabricados com baixas emissões de carbono.
Nesse contexto, merece destaque o estudo da PwC para a Abrace Energia, que estima que a transformação do país num hub global de descarbonização poderia proporcionar um retorno da ordem de US$ 1 trilhão ao PIB do país, bem como a geração de 3 milhões de empregos de qualidade até 2030.
Para a entidade, isso depende de um pacto nacional envolvendo setor público, privado e sociedade civil, com a adoção de medidas estruturais como a regulação do mercado de carbono e a criação de mecanismos de ajuste de fronteira para produtos fabricados com baixas emissões, redução estrutural do custo de capital e estímulo ao financiamento da transição dos processos industriais, investimentos em infraestrutura voltadas à indústria verde, racionalização competitiva do preço da energia elétrica e incentivo às cadeias produtivas nacionais, entre outras.
Mas, mais do que isso, a indústria pode desempenhar um protagonismo importante na condução diplomática dessa agenda, com a defesa, no contexto internacional, de que rotas "jabuticabas" de descarbonização sejam reconhecidas e aceitas no resto do mundo.
É que, enquanto na maioria dos países a descarbonização equivale a eletrificar processos ou usar hidrogênio produzido a partir de potenciais limitados de energia eólica e solar, aqui temos amplo cardápio de opções.
Lá fora, no entanto, falar em biomassas, como carvão vegetal sustentável, biocombustíveis ou mesmo biometano, é sinônimo de desmatamento da Amazônia. Por desconhecimento ou motivações econômicas protecionistas, ignora-se que nós temos condições de produzir energia limpa usando territórios seculares de agricultura tradicional, resíduos urbanos e agrícolas, áreas degradadas, numa estratégia que pode inclusive ser fundamental para a descarbonização de pequenas e médias indústrias que dificilmente terão acesso, tecnologia e capital para usar o hidrogênio de baixas emissões.
Essa defesa do potencial brasileiro tem, portanto, de fazer parte do pacto nacional proposto pela indústria, garantindo uma contribuição mais eficiente do setor produtivo no combate às mudanças climáticas e no desenvolvimento do país. A COP30 é o grande momento dessa agenda em favor da transição energética justa e do nosso desenvolvimento socioeconômico.
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