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Recuo da Volvo mostra que mundo só de carros elétricos era utopia

Qual montadora foi pioneira da ideia de que o carro elétrico seria a única resposta para a mobilidade do futuro? A Volkswagen foi uma das primeiras, na década passada. Mas a alemã não instituiu essa diretriz para todas as suas marcas. A Porsche, que faz parte do grupo, sempre foi uma das que afirmaram que vão manter os a combustão em suas gamas.

A Volvo, pioneira ou não, sempre esteve no time das mais entusiasmadas e decididas. Anunciou que venderia apenas elétricos e colocou a mão na massa. Era esperada para o início da próxima década o fim dos carros a combustão na gama da sueca.

E, embora mantenha modelos sem eletrificação, ou com auxílio leve de motor elétrico, em alguns mercados, aqui no Brasil a Volvo só vende EVs e híbridos. Porém, desde meados do ano passado, por razões diversas (leia mais abaixo), algumas montadoras estão voltando atrás.

Mercedes-Benz e GM estão entre as que já anunciaram que, ao menos a longo e médio prazo, não vão mais partir para uma gama 100% elétrica. A Volvo, porém, se mantinha firme no propósito. E, embora voltar atrás seja agora praticamente obrigatório para empresas que pretendam sobreviver, eu imaginei que esta seria a última a desistir.

Não foi. No início de setembro, a Volvo anunciou que vai manter não apenas os híbridos, mas também os híbridos leves (que na verdade são modelos a combustão) na linha após 2030. Considerando esses dois grupos e os EVs, a marca pretende ser 90% eletrificada na próxima década.

A Volvo informou também que ainda acredita em um futuro com gama 100% elétrica. Porém, não definiu novos prazos para que essa ideia se transforme em realidade.

E qual será a próxima a anunciar mudança de planos, entre as que estão engajadas no universo 100% EV? Minha aposta: Audi. A marca ainda não voltou atrás oficialmente, mas em 2026 ingressa na Fórmula 1. Na data, a categoria até aumentará a participação do motor elétrico em seu conjunto.

Porém, sempre será uma competição movida pela combustão. O que uma marca que pretende ter apenas modelos elétricos faria nessa categoria? É uma pergunta que já fiz diversas vezes a executivos da Audi, sem resposta convincente. Em 2026, saberemos. Ou antes.

Razões

A Volvo apontou a demora no desenvolvimento da infraestrutura como razão para mudar os planos. Imaginou que o desenvolvimento de rede de recarga fosse ocorrer mais rapidamente. Apontou também a aceitação do cliente ao EV como razão.

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E o segundo ponto é fundamental para entender por que o universo 100% elétrico não deu certo. De nada adianta produzir um tipo de veículo se o consumidor não quer comprar. Isso até poderia funcionar, se todas as marcas se comprometessem a ter apenas EVs em sua gama.

Mas, desde o início do debate, várias montadoras já disseram não à ideia. Além da Porsche, a BMW sempre foi defensora da continuidade do produto a combustão em sua linha, junto ao EV. Esses são exemplos de duas empresa que se propuseram a oferecer várias soluções, não apenas uma.

Resistência

Nos Estados Unidos, segundo mercado do mundo e país de proporções continentais, há resistência ao EV. O governo tem planos de reduzir a emissão de poluentes, mas sem leis federais que proíbam o veículo a combustão.

A curto e média prazo, há planejamento de aumentar a participação de elétricos. Porém, nenhum que contemple um mercado apenas com EVs. Marcas americanas como Tesla e Rivian aumentam o interesse do consumidor por esse tipo de produto.

No entanto, a maior parte dos clientes dos Estados Unidos é adepta do carro a combustão, especialmente os grandalhões - tanto que as picapes F-150 e Silverado são os veículos mais vendidos do país.

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O que o americano quer é ampla autonomia para viagens longas e nenhuma preocupação com tempo de recarga, bem como com infraestrutura. Em um contexto assim, como a Mercedes-Benz manteria, somente com EVs, a competitividade diante da BMW, que sempre terá carros a combustão para oferecer? O mesmo vale para Volvo, que acaba de voltar atrás, como para a Audi, cuja mudança de direção é inevitável.

Brasil

E não é só o gosto do consumidor americano que leva à mudança de direção das montadoras. Se analisarmos o mercado brasileiro, Volkswagen (a marca) e Stellantis (o grupo) foram as primeiras a voltar atrás. Respectivamente em 2021 e 2022, anunciaram que a estratégia no Brasil será focada nos híbridos flex, não apenas nos EVs.

E, para ambas, mudar a direção no Brasil tem um grande significado. O País superou no ano passado os Estados Unidos para ser o terceiro maior mercado da Volkswagen no mundo, atrás de China e Alemanha, respectivamente.

No caso da Stellantis, o Brasil é número 1 para uma de suas marcas mais importantes, a Fiat. Da Jeep, é o segundo mercado mundial. Assim, no momento que definiram a estratégia para um país de tamanha relevância, esse conglomerado e a Volkswagen já abriam mão do futuro 100% EV.

Aqui, os elétricos estão ganhando relevância por causa de marcas chinesas, principalmente a BYD, que oferece modelos a preços atraentes. Mas não é só o preço que importa. Como os EUA, o Brasil é um país de dimensões continentais, e a maior parte dos consumidores quer um veículo que resolva tudo, não só uma parte de suas necessidades.

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O EV vem se mostrando mais eficiente como solução urbana. Mesmo que houvesse infraestrutura já avançada de recarga, o que não é o caso, ainda há problemas como o tempo para recarregar a bateria. Este é bem maior que o para abastecer um carro com gasolina, etanol ou diesel.

Mas não é só o Brasil. Outro país com grande território, a Índia não é adepta à total eletrificação. É um dos locais, aliás, em que a Volvo oferece modelos 100% a combustão. E, aqui, não estamos falando de qualquer coisa não: trata-se do terceiro maior mercado global.


Ideia fadada ao fracasso

Como bloco, a Europa é um dos mais importantes mercados do mundo. Além disso, atualmente tem quatro países no "top 10" do ranking: Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Outro dado importante: parte importante das montadoras mundiais é europeia.

A União Europeia havia determinado a morte do carro a combustão a partir da próxima década. E a aposta das montadoras para cumprir essa imposição foi o elétrico recarregável na tomada. Mas, globais, essas empresas decidiram que aquela solução não seria apenas local.

Até porque a demanda pela eletrificação mundial é também é do maior mercado automotivo do mundo, a China, que detém a tecnologia de baterias. E essa vantagem vem dando cada vez mais relevância global às fabricantes do país asiático.

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As montadoras que apostaram exclusivamente no elétrico, porém, erraram o cálculo. Para que o plano de globalização dos EVs desse certo, teriam de ter apoio de governos de países como EUA, Brasil e Índia. Apoio em forma de proibição do veículo a combustão. Isso não ocorreu.

Aliás, a própria Europa recuou. Os modelos a combustão poderão ser vendidos nos países da União Europeia na década que vem. Por enquanto, estão liberados apenas os combustíveis sintéticos, neutros em carbono. Mas se a proibição total já caiu, isso também pode mudar.

EV: uma das respostas

Todo o investimento que vem sendo feito na última década no carro elétrico não é em vão. Esse tipo de automóvel continua sendo uma das respostas para a mobilidade. Talvez, em um futuro próximo, até a principal.

Mas o recuo da Volvo deixa claro uma realidade: o EV jamais será a única resposta. O futuro 100% elétrico não passou de uma utopia. Talvez, isso até ocorra em um ou outro mercado. No mundo, jamais. Cada país tem sua demanda e particularidade.

O EV, porém, é uma eficiente solução de mobilidade. Embora não resolva a questão da descarbonização (principalmente em locais que não têm fornecimento principal de energia elétrica por fontes limpas, como EUA e a maior parte da Europa), são fundamentais para ajudar a reduzir a poluição nos grandes centros urbanos. Isso porque não emitem gases no escape.

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Mas, além dos 100% elétricos, há outras respostas. Uma delas é o híbrido plug-in, que pode funcionar como EV na cidade sem depender da bateria quando é preciso percorrer longas distâncias na estrada. Outra é o híbrido HEV a etanol, combustível com pegada de carbono quase nula.

Soluções menos comuns atualmente, como hidrogênio e gasolina sintética, também têm grandes chances de ganhar protagonismo no futuro. A mobilidade aponta respostas em várias frentes, não em apenas uma.

Quanto às montadoras que ainda insistem na ideia do mudo 100% elétrico, não está na hora também voltar atrás, e seguir em frente? O investimento no EV não foi em vão. Por outro lado, já se perdeu muito tempo sem desenvolvimento de motores a combustão melhores e mais sustentáveis, que possam ser combinados de maneira eficiente a soluções de eletrificação.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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