As maiores 'famílias' automotivas do Brasil (e quem faz parte delas)

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Você sabe o que é a plataforma de um veículo? Também chamada de base ou arquitetura, é a principal estrutura de um chassi de um carro. Todos os componentes estão ligados a ela. Na indústria atual, cada vez mais são usadas para dar origem a diversos veículos, permitindo compartilhamento de peças e inúmeras tecnologias com redução de custo.
Assim, essas plataformas dão origem a diversas "famílias" automotivas, formadas, em alguns casos, por mais de cinco produtos. O mais comum é que estes sejam de uma mesma marca. Porém, no universo dos grandes conglomerados (em que um grupo é dono de diversas montadoras), podem ser base de veículos de bandeiras diferentes.
Mais que isso: muitas vezes diferentes grupos automotivos firmam parceria para compartilhar plataformas de seus produtos. Um exemplo é a Mercedes-Benz e o Grupo Renault-Nissan. A Classe X, picape já fora de linha da alemã, usou a base da Nissan Frontier.
No universo das picapes, há outro bom exemplo. Na Europa, Ranger e Amarok usam a mesma arquitetura, embora Ford e VW sejam grupos automotivos totalmente diferentes. Na América do Sul, a partir de 2027 a Amarok terá plataforma de uma parceira chinesa da Volkswagen, a SAIC.
Aliás, é essa parceria que permitirá à Amarok sul-americana (confirmada para o Brasil) ter tecnologias que a plataforma atual não permite - como assistências à condução ADAS, por exemplo. Isso porque as arquiteturas já são planejadas para receber inúmeros recursos. Quando elas vão ficando mais antigas, fica difícil, ou até impossível, implementar alguns novos sistemas tecnológicos.
Mas, até nesse aspecto, as plataformas, que são a parte mais cara de um desenvolvimento de um carro, estão evoluindo. O avanço já ocorreu em diversos outros aspectos. Há duas décadas, era complicado mudar o entre-eixos de uma base. Atualmente, elas já são planejadas para ter inúmeras variações de distância entre os eixos. São modulares.
No Brasil, a maioria das fabricantes usam plataformas que dão origens a diversos carros. Aqui, listei as três principais, em ordem de importância. Para chegar a essas bases, considerei o número de modelos feitos sobre elas, e também quanto representam em vendas - de janeiro a abril de 2025, com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
3ª Small Wide
Esta é a família mais "multicultural" do Brasil. A plataforma modular Small Wide foi desenvolvida por Claudio Demaria, italiano da Fiat que passou anos na liderança da engenharia no Brasil. Já de volta à Itália, o engenheiro criou essa arquitetura para o SUV 500X.
Na mesma época, era criada a FCA, em aliança entre Fiat e Chrysler. Então, a Small Wide foi usada globalmente no Renegade, e depois no Compass. Mas foi no Brasil que a base alcançou a sua maior e mais variada aplicação.
Além de Renegade e Compass, deu origem a produtos desenvolvidos no Brasil da empresa que agora é chamada de Stellantis (após união entre FCA e PSA Peugeot Citroën). Eles são as picapes Fiat Toro e RAM Rampage e o SUV Jeep Commander.
Assim, a Small Wide dá origem a cinco produtos, de três marcas. Todos os modelos são de médio e alto valor agregado, o que faz desta uma base bastante lucrativa. Em 2025, seus veículos registraram, até agora, 58.215 emplacamentos.
2ª GEM
O nome da plataforma é a sigla para Global Emerging Markets, ou mercados emergentes globais. É usada em diversos países por duas marcas do Grupo General Motors: Chevrolet e Buick. Aqui no Brasil, dá origem a quatro modelos: Onix, Onix Plus, Tracker e Montana.
Neste ano, seus produtos já tiveram 60.072 unidades vendidas. Base modular, a GEM dará origem, em 2026, a um quinto veículo. Trata-se de um crossover que será produzido em Gravataí (RS), e vem para concorrer com Kardian, Pulse e o Tera (que a VW lançará no dia 25 de março).
1ª MQB0
Ela já é a maior plataforma do Brasil. E, em breve, ficará ainda mais importante. A MQB dá origem a Polo, Virtus, Nivus e T-Cross, que este ano somaram 82.722 emplacamentos. O crossover Tera está prestes a se reunir a esse grupo.
Mas não para por aí. Em 2026, chegará uma picape para concorrer com modelos como Montana e Toro. Então, a MQB0 passará a dar origem a seis produtos diferentes. Esta base, versão da MQB usada em carros compactos, é uma das mais modernas e versáteis do País.
Um detalhe importante é que, mesmo sendo já uma veterana, foi preparada para receber tecnologias de conectividade, automação e eletrificação.
E a Fiat?
Por que nenhuma plataforma individual da líder de vendas Fiat está nessa seleção? É que, oficialmente, os produtos da marca usam bases variadas. A de Argo e Cronos é a MP1, com 38.124 emplacamentos este ano. A de Pulse e Fastback, a MLA (28.512 unidades vendidas).
De acordo com a Fiat, são plataformas diferentes. Mas detalhes como as portas, idênticas nos quatro modelos, deixam claro que as bases têm muito em comum. Muito mesmo. Se oficialmente fossem a mesma arquitetura, teríamos quatro produtos e 66.636 unidades vendidas - ficando à frente da GEM.
O mesmo ocorre com Strada e Mobi. De acordo com a Fiat são bases diferentes. Detalhes, porém, evidenciam muita familiaridade - entre eles, portas e o quadro de instrumentos. Os dois produtos juntos têm 59.797 emplacamentos em 2025 (menos que GEM, mas mais que Small Wide).
Menções honrosas
A Hyundai tem uma plataforma extremamente importante no Brasil. Trata-se da PB, evolução da base que era usada no i20. Ela dá origem aos modelos HB20, HB20S e Creta. Este ano, seus produtos tiveram 48.983 emplacamentos.
A CMP é discreta em volume, mas importantíssima em número de produtos. Dá origem aos Citroën C3, C3 Aircrross e Basalt e aos Peugeot 208 e 2008. Neste ano, seus modelos registraram vendas de 19.887 exemplares.
A plataforma CMP, no entanto, está prestes a crescer, e ganhar protagonismo no Brasil. Será usada no Avenger, novo modelo da Jeep. Além disso, deverá ser a base da próxima geração do Argo. Assim, em breve pode começar a disputar com Small Wide, GEM e MQB0 o posto de mais importante do Brasil.
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