O pior e mais vergonhoso da chegada de Ancelotti é o vídeo que o anuncia
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Ednaldo Rodrigues, o presidente da CBF, gravou um vídeo para anunciar a contratação de Carlo Ancelotti. Uma obra de arte do avesso; uma peça de divulgação que não poderia jamais ter sido distribuída ao público.
Com a voz da morte e a postura da derrota eterna, o mandatário avisa que Ancelotti está contratado com a mesma animação com a qual eu reajo ao receber mensagem da dentista avisando que o tratamento de canal foi agendado. Ednaldo começa agradecendo a paciência e o apoio da torcida - que não existiram. Ele fala a partir de Narnia, o lugar do realismo fantástico. De duas, uma: ou ele acredita no que diz - e isso seria preocupante - ou ele sabe que não está em contato com a realidade e diz assim mesmo - ainda mais preocupante.
A expressão do presidente no vídeo é a da melancolia em seu estado mais puro. As palavras são celebratórias, mas a postura é a do fracasso. Chama a atenção a sujeição da nossa Confederação ao futebol Europeu. Uma colonização desejada, sonhada, buscada. Nossa seleção curvada ao Velho Continente de forma brutal.
Nem falo aqui de Ancelotti. Sabemos de sua qualidade. Falo de uma certa postura entreguista. Não poderia ser assim.
Ao final, o pior: a animação fabricada. Bracinhos para cima e a frase: o hexa vem aí. Exibindo a animação de uma noite sombria e gelada e convocando todos os fantasmas que trabalharão arduamente para impedir que um chamamento como esse - tão inoportuno e arrogante - nunca aconteça. Há ritos que não podem ser quebrados.
Queremos ganhar a qualquer custo ou queremos voltar a jogar bem? Ednaldo deixou claro o que quer de Ancelotti: a taça. O resto que se dane. Mas vejam, o resto é tudo. Precisamos primeiro voltar a ser alguém em campo para depois pensar em ganhar.
Tudo errado. Tudo fabricado. Tudo artificial. Tudo constrangedor.
Pode dar certo? Ué: sempre pode. Vai dar? Não, não vai. Quando começa nesses termos, o destino já foi traçado.
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