Paula Gama

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Moto empinada: tragédia em SP reacende discussão sobre 'cultura do grau'

Uma tragédia trouxe à tona a discussão sobre o 'grau', manobra de empinar motocicletas que ganha adeptos na periferia de grandes cidades e que provoca controvérsias.

Em 4 de janeiro, Leonildo Ferreira Silva, 55, morreu após ser atropelado por uma moto empinada enquanto atravessava a Avenida Doutor Frederico Martins da Costa Carvalho, em Sapopemba, zona leste de São Paulo. Ele estava ao lado do neto, de apenas 6 anos, que também foi atingido, mas se recupera bem.

Uma câmera de segurança capturou o momento do acidente. A gravação mostra que Leonildo se inclina para verificar o trânsito antes de atravessar bem próximo à faixa de pedestres, ocupada por uma van estacionada. Nesse instante, foi atingido pela motocicleta conduzida por Marcos Ribeiro Dias da Silva, 25, que empinava o veículo. Marcos teve a prisão em flagrante convertida para preventiva e será investigado por tentativa de homicídio.

O 'grau': esporte ou infração perigosa?

O "grau" é uma prática que divide opiniões. Entre jovens motociclistas da periferia, a manobra ganhou status de cultura, moldando o vocabulário e até inspirando letras de funk. Para muitos, é uma expressão de lazer e adrenalina, muitas vezes realizada nos raros momentos de folga de entregadores e trabalhadores informais.

Por outro lado, empinar motocicletas é uma infração gravíssima de trânsito, prevista no artigo 244 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa, suspensão da habilitação e remoção do veículo pela "boa ordem administrativa", para que o infrator não continue desrespeitando as regras após a abordagem. Além disso, em casos como o de Sapopemba, a prática pode resultar em acusações criminais graves.

Marco Fabrício Vieira, advogado e conselheiro do Cetran-SP, explicou que o acidente pode ser enquadrado como homicídio culposo na direção (quando não há intenção de matar), com penas de reclusão de 2 a 5 anos e suspensão ou proibição de obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

No entanto, há uma corrente jurídica divergente que defende a aplicação do conceito de dolo eventual. Nesse caso, argumenta-se que, ao realizar manobras perigosas como empinar a moto em via pública, o condutor assume conscientemente o risco de provocar mortes ou lesões graves, podendo responder por homicídio doloso, com penas mais severas previstas no Código Penal, podendo chegar a 20 anos de reclusão.

"Quando há desrespeito flagrante às normas de trânsito, como o caso de condução arriscada em via pública, algumas interpretações consideram que o risco assumido pelo condutor é suficiente para configurar dolo eventual", explicou Vieira.

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O caso segue em investigação, enquanto a polêmica sobre o 'grau' - visto por alguns como uma manifestação cultural e por outros como uma prática de alto risco - continua dividindo opiniões.

A regulamentação é um tema que já chegou ao Congresso Nacional. Ex-deputada federal Alessandra Silva (PSL-MG), apelidada "madrinha do grau", defendeu em plenário que a prática seja reconhecida como esporte e realizada em espaços próprios.

Ela argumenta que, além de lazer, o 'grau' é uma manifestação cultural enraizada nas periferias. Porém, iniciativas para a criação de áreas exclusivas dependem da vontade de gestores municipais, o que torna o avanço lento e desigual.

Impacto nas comunidades e segurança

Enquanto uns defendem o 'grau' como parte da identidade cultural de jovens periféricos, outros apontam o risco de sua prática indiscriminada. Dados mostram que a condução imprudente, incluindo manobras perigosas como esta, é uma das causas de acidentes fatais envolvendo motocicletas.

No caso de Sapopemba, familiares de Leonildo descreveram sua tentativa de proteger o neto como "heroica". Ele teria se colocado na frente do menino para amortecer o impacto. A tragédia reacende o debate sobre limites entre cultura, esporte e segurança pública.

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57 comentários

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Cesar Baldon

Chamar o grau de "manifestação cultural" é de doer...

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Wellington Carrilho Reis

Que artigo ridículo. Grau é crime previsto na lei de trânsito, e é gravissímo. É uma manobra muito perigosa, que impõe risco de morte a quem faz e aos outros que estão próximos. Quem mata alguém fazendo isso já considera dolo eventual direto. Não tem nem o que discutir. Essa deputada que diz  que é esporte e lazer é uma idiota, assim como quem acredita nisso. As pessoas de bem da perifería não concordam com isso.

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Davi de Almeida Rezende

Só no Brasil do presidente presidiari0 um ato criminoso que causa mortes e perturbação vira cultura. E com a beneplácito da própria polícia!

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