Paula Gama

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Nada de dois homens em uma moto: bandidos têm novas táticas para assaltos

Durante anos, bastava avistar dois homens em uma moto vindo em sua direção — especialmente em uma rua deserta ou parado no trânsito — para acender o alerta. Esse tipo de abordagem se tornou o pesadelo do motorista urbano, principalmente em grandes cidades como São Paulo, onde a imagem da "dupla na moto" virou sinônimo de assalto à mão armada.

Mas a realidade mudou. O que antes era um padrão facilmente reconhecível virou alvo direto da polícia — e os criminosos, por sua vez, se adaptaram. O modus operandi evoluiu. E hoje, os assaltantes apostam em estratégias mais elaboradas para surpreender a vítima e escapar da vigilância das autoridades.

Operação Impacto apertou o cerco

Desde 2023, a Polícia Militar intensificou as ações por meio da Operação Impacto, que já resultou em mais de 220 mil prisões, 11 mil armas apreendidas e 2 milhões de motocicletas vistoriadas em todo o estado. A pressão surtiu efeito: só no primeiro bimestre de 2025, os roubos de motos na capital caíram 3% em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Na prática, a vigilância constante sobre motociclistas em dupla tornou esse tipo de abordagem cada vez mais arriscada para os bandidos — o que forçou as quadrilhas a repensarem sua forma de agir.

Agora, o crime vem disfarçado

"O cidadão não pode mais confiar apenas no estereótipo dos dois na moto", alerta o policial federal e especialista em autodefesa Fábio Henriques. "Eles continuam usando esse formato quando necessário, mas hoje já atuam sozinhos, com motos diferentes e até com carros de apoio, fingindo ser entregadores, usando mochilas e capacetes alugados."

A nova configuração envolve uma logística complexa: veículos que cobrem a fuga, motociclistas que se aproximam pela lateral ou traseira da vítima e até o uso de múltiplas motos aparentemente desconectadas. "Tudo que foge ao padrão legítimo do motociclista precisa acender um alerta: moto na contramão, subindo na calçada, surgindo repentinamente no trajeto", explica Henriques.

Como se proteger? Estratégia e atenção

Henriques reforça que a segurança urbana não pode mais ser totalmente terceirizada à polícia. "O protagonista da sua segurança é você mesmo. A defesa eficaz começa com atenção, comportamento consciente e prevenção."

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  • O especialista ensina técnicas simples que podem fazer toda a diferença no cotidiano:
  • Evite distrações, especialmente o uso do celular nos minutos finais antes de chegar em casa ou parar o carro;
  • Use os retrovisores de forma ativa, especialmente em momentos de desaceleração;
  • Mude trajetos e rotinas para não ser previsível;
  • Evite paradas longas em ruas pouco movimentadas;
  • Adote o "protocolo dos 100 metros finais": cabeça erguida, checagem do entorno, contato visual com o ambiente e atenção redobrada ao desacelerar para entrar em casa ou acessar garagens.

"O que o criminoso busca é a surpresa e a facilidade. Se ele percebe que você está atento, alerta, a chance de ataque diminui muito", conclui Henriques. A analogia é simples: como no mundo animal, predadores preferem presas distraídas e vulneráveis.

Em tempos de urbanização intensa e alta circulação de motocicletas, a consciência situacional se tornou uma ferramenta tão essencial quanto o próprio cinto de segurança. Afinal, antecipar riscos pode ser a melhor forma de evitá-los.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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