Paula Gama

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Novas regras mudam carros zero km vendidos no Brasil; veja como ficou

Desde 1º de janeiro de 2025, todas as montadoras que operam no Brasil estão enfrentando um marco significativo com a entrada em vigor do Proconve L8, que estabelece limites mais rigorosos para as emissões de poluentes de veículos.

Essa mudança legislativa exige não apenas atualizações tecnológicas em motores, mas também força mudanças no portfólio de algumas marcas. Com a virada do ano, a lei passou a obrigar que os veículos produzidos no país sigam as novas normas - até 31 de março, a exigência será maior: todas as unidades comercializadas precisarão atender às regras.

Um dos casos mais marcantes é o da Mitsubishi, que encerrou as operações de sua fábrica de motores em Catalão (GO). O local, ativo desde 2013, produzia o 2.4 Turbodiesel que equipa versões da picape média L200 Triton.

Diante dos altos custos e longo tempo necessário para adequar este propulsor às exigências do Proconve L8, a marca optou por importar um conjunto motriz mais moderno para a nova geração da picape, apresentada recentemente e batizada apenas de Triton.

A Hyundai também realizou mudanças para se adequar às novas normas. Em outubro de 2024, introduziu no Brasil a versão 1.6 turbo a gasolina do Creta, com 193 cv, já em conformidade com o Proconve L8. Além disso, o 1.0 turbo, utilizado em modelos como o HB20 e o próprio Creta, foi atualizado para melhorar a eficiência térmica, resultando em um consumo até 6% mais econômico. A potência máxima, no entanto, foi ajustada: com gasolina, o motor passa a entregar 115 cv, enquanto com etanol continua gerando 120 cv.

A Chevrolet conseguiu atualizar seus propulsores 1.0 e 1.2 turbo com injeção direta de combustível, garantindo conformidade com o Proconve L8 sem retirar modelos de linha. Com a atualização, os carros ficaram mais potentes e econômicos: o 1.0 turbo flex, anteriormente com 116 cv de potência, agora alcança 121 cv. O torque também foi incrementado, passando de 16,8 kgfm para 18,3 kgfm.

Já o propulsor 1.2 turbo flex teve sua potência aumentada de 133 cv para 141 cv, enquanto o torque máximo foi elevado de 21,4 kgfm para 22,9 kgfm.

Além de motores, alguns modelos já estão saindo de cena. O Citroën C4 Cactus, por exemplo, teve sua produção encerrada, assim como o Creta Action 1.6.

O Citroën C4 Cactus saiu de linha
O Citroën C4 Cactus saiu de linha Imagem: Divulgação
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Stellantis retira motores e adapta modelos tradicionais

A Stellantis, que reúne marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot, será uma das mais impactadas pela nova fase do Proconve. Cinco motores serão descontinuados: 1.0 Fire EVO, 1.4 Fire, 1.6 EC5, 1.6 THP e 2.0 Turbodiesel. Para substituí-los, a montadora está promovendo atualizações em seus motores Firefly e Turbo, que passarão por melhorias em eficiência e emissões.

Modelos populares, como o Fiat Mobi e o Fiorino, deixarão de usar os Fire EVO, adotando versões atualizadas da família Firefly (1.0 e 1.3). Já o Jeep Compass e a Fiat Toro migrarão para o novo propulsor 2.2 Turbodiesel, enquanto o futuro do Compass a diesel ainda é incerto.

Outro reflexo do Proconve L8 é o avanço na eletrificação. A Fiat lançou recentemente os modelos Pulse e Fastback com motorização híbrida leve, alinhando-se às exigências de redução de emissões.

Além disso, o mercado brasileiro se prepara para receber novos híbridos flex de marcas como Toyota (Yaris Cross), Volkswagen (Tera), Nissan (Kicks), Honda (WR-V) e Chevrolet, que ainda guarda em segredo detalhes sobre o modelo.

Os carros vão ficar mais caros?

As novas tecnologias nos motores são um passo importante para termos carros mais limpos e eficientes no Brasil, mas é claro que elas custam dinheiro, pois demandam investimento das montadoras. De nada adianta esses avanços ficarem só nas vitrines das concessionárias ou na garagem de apenas uma parte da população, enquanto carros com mais de 15 anos de uso são maioria nas ruas.

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Sem um programa de renovação de frota que torne esses modelos novos viáveis financeiramente, a maioria dos brasileiros continuará presa a carros antigos e poluentes.

E aí entra uma discussão delicada que está nas mãos do Congresso: a aplicação do imposto seletivo (destinado a produtos que fazem mal à saúde ou ao meio ambiente) nos veículos, que pode piorar ainda mais o acesso a esses modelos mais modernos. Se isso acontecer, vamos acabar com uma sustentabilidade que só aparece para "inglês ver" — ou seja, na teoria tudo lindo, mas, na prática, os carros menos poluentes não chegam às ruas de verdade.

O desafio é achar um equilíbrio: incentivar as montadoras a avançarem na tecnologia, mas garantir que esses avanços também sejam acessíveis para quem realmente precisa. Afinal, não faz sentido falar em sustentabilidade se ela não for para todos.

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