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Bigode em alta! Belchior faz a cabeça de seus seguidores também no Carnaval

Analu Pitta recria foto famosa de Belchior - Nelson Antoine / UOL
Analu Pitta recria foto famosa de Belchior Imagem: Nelson Antoine / UOL

Sara Puerta

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/02/2020 20h25Atualizada em 02/02/2020 23h35

Vinil clássico entre os mais vendidos atualmente, músicas com mais de 10 milhões de execuções nas plataformas de streaming e (re)conhecido como grande poeta e músico por rappers, hippies, Santa Ceciliers, estudantes, diversas tribos e de todas as idades... Belchior reina soberano - inclusive no Carnaval - quase três anos após sua morte.

O bloco de rua "Ano Passado Eu Morri, Mas esse ano eu não Morro", que homenageia o músico cearense - o nome do bloco é um trecho da música "Sujeito de Sorte" -, fez um ensaio hoje na Casa Natura Musical, em Pinheiros (Zona Oeste de São Paulo), com ingressos esgotados.

O músico Fernando Mungioli, de 41 anos, um dos fundadores do bloco, opta por não divulgar a data do desfile durante o Carnaval. "Queremos que o bloco continue sendo de rua, não é nossa intenção levar quinhentas mil pessoas na Faria Lima", diz ele.

O bloco surgiu na Vila Anglo, também Zona Oeste da capital, em 2017, ano que Fernando considerou muito difícil diante da situação politica.

"O Brasil já vinha de anos muito duros de retrocessos. Nós já gostávamos de Belchior antes de ser 'moda', e a frase tinha e tem todo sentido. Ano passado, por exemplo, eu terminei acabado, exausto. A frase, para mim, dá ânimo, e remete à resistência, seja no amor ou na política", diz.

"Belchior é um ícone"

Simone Cyrineu, 35 anos, empreendedora, considera o verso um manifesto sobre a renovação e o renascimento que acontece a cada dia.

"Belchior é um ícone. Como tudo que é cíclico, ele está aí influenciando pessoas. E como essa geração atual está buscando novos valores, é natural olhar para o passado para evoluir."

Vestindo uma camiseta com outra frase clássica do Belchior "Amar e mudar as coisas me interessa mais", Carlos Torkomian, 50 anos, servidor público, diz por que ela é importante.

"É para lembrar que a gente muda as coisas pelo amor, e não pela porrada", esclarece.

Manifestações políticas

Crianças e um público de vinte e poucos anos, trinta e poucos, quarenta, cinquenta, sessenta, e por aí vai, protegidos totalmente da chuva e de qualquer aglomeração, ouviram os clássicos de Belchior em diferentes arranjos, com uma levada carnavalesca.

O verso "Sempre desobedecer, nunca reverenciar", da música Como o diabo gosta, foi entoado diversas vezes, seguido por "Lula Livre".

Bandeiras "Moradia é direito", "Eu não vou sucumbir", "Floresta de pé, fascismo no chão", entre outras de protesto e reivindicações, foram levantadas durante a apresentação.

Fã desde os tempos de Chacrinha

Marisa Rodrigues, 52, socióloga, ouve Belchior desde os anos 1970. Lembra, inclusive, de vê-lo no Programa do Chacrinha.

"Como era criança, não entendia muito bem as letras, mas hoje percebo que tinha relação total com o contexto da época e o considero maravilhoso".

Quanto ao bloco, ela é uma seguidora: "A banda é ótima, o clima é sempre muito bom, cheio de amigos, e escuto só o que eu gosto muito".

Nem todo mundo conhece

Sem conhecer profundamente a obra do cantor, Vanessa Castro, 24, advogada, falou que escolhe a dedo blocos no pré-Carnaval para curtir, se enfeitar e fantasiar.

"No Carnaval oficial eu corro de São Paulo, porque odeio muvuca. Do Belchior eu conheço umas duas ou três músicas, mas já haviam me contado que esse era sossegado e divertido".

O bloco Batuntã fez o seu cortejo acústico e cheio de batuques para a abertura do evento, trazendo um pouco do Carnaval "raiz" para a Casa Natura.

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