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Ao som de tambores afro, bloco Agytoê traz a Bahia ao Rio no dia de Iemanjá

Thiago Camara

Colaboração para o UOL, no Rio

02/02/2020 19h57Atualizada em 02/02/2020 22h35

Sob as bênçãos das águas e ao som dos tambores afro, o ensaio aberto do bloco de rua Agytoê incendiou o início da noite chuvosa de hoje no Rio de Janeiro.

Gratuito e fazendo memória aos grandes carnavais baianos da década de 1990, o evento atraiu foliões fantasiados em homenagem a Iemanjá e aos faraós do Egito.

"Decidi vir em homenagem à Rainha do Mar, mas cheio de brilho e dourado para lembrar as divindades do Egito", explica o cabeleireiro Felipe Fabris.

Junto com o amigo Arthur Sartório, Felipe conheceu o Agytoê no Carnaval de 2019 e resolveu atravessar a Baía de Guanabara, vindo de Niterói, para conferir o ensaio do bloco. E nesse pré-Carnaval a ordem é reaproveitar no estilo. "Meu foco era pegar coisas antigas de outros carnavais. Esse ano decidimos que não vamos comprar muitos itens, mas vamos reciclar muita coisa que já tínhamos", conta Arthur.

Completando hoje seis anos na folia carioca, o Agytoê conta com 130 ritmistas e uma banda que tem Ana Bispo como vocalista. A cantora está confiante na animação do público e promete uma festa inspirada no samba-reggae baiano.

"A gente está muito feliz com esse aniversário. Hoje vai ser um grande baile de muito axé", afirma ela.

Conexão Rio-Salvador

Uma das ritmistas mais antigas das oficinas do bloco, Marina Maia realizou o sonho de tocar num bloco como se fosse uma integrante da banda baiana Timbalada.

"A história do samba-reggae e do axé é de muita luta e resistência do povo negro. A gente nunca está tocando de qualquer maneira. Estamos sempre estudando muito para aprender a história dos blocos afro e dos ritmos que levamos nas apresentações", conta ela, que toca surdo de terceira no bloco.

Pedro Amparo, um dos professores das oficinas de percussão do bloco, revela que a ligação Rio-Bahia vai além da inspiração no ritmo baiano.

"Trouxemos os mestres de Salvador e trocamos experiências com alguns mestres de blocos afro do Rio de Janeiro, e eles nos deram o aval. Eles também participam dos nossos carnavais. Temos muitos amigos no Olodum, no Ilê Ayê", explica.

Fantasiado de homem das cavernas, o empresário Guilherme Ferreira, de 29 anos, diz que vai para Bahia no Carnaval e quis viver uma prévia no pré-Carnaval do Rio

"Vou pro Carnaval de Salvador e vim aqui conferir se será a mesma vibe e o mesmo clima", conta ele.

Chuva e liberdade

A chuva que começou pouco minutos antes do bloco iniciar a sua apresentação e continuou durante todo o evento não dispersou os foliões. A psicóloga Michele Xavier dançava feliz e sem se preocupar em se molhar.

"É dia de Iemanjá, né? Vamos nos entregar. Já que o bloco é afro, por que não?", declara ela.

Democratizar o Carnaval é o objetivo dos integrantes do Agytoê. Por isso eles estão investindo nesses ensaios gratuitos, para, com a renda da venda do bar, conseguir colocar o bloco na rua.

"Pedimos desculpa a quem está na chuva, mas estamos fazendo o esforço de realizar esse evento, pois ele faz nosso Carnaval acontecer", disse Ana Bispo no palco.

Além disso, o bloco se mantém financeiramente levando a história dos blocos afro-baianos em apresentações pagas, em diversas casas de show da cidade.

Confira a programação até o Carnaval:

Verão na Varanda
06 de fevereiro, quinta-feira, às22h
No Vivo Rio

Carna On-pier
08 de fevereiro, sábado, às 16h
No Pier Mauá

Abertura do ensaio do Monobloco
21 de fevereiro, sexta-feira, às 22h
Na Fundição Progresso

Cortejo do bloco Agytoê
26 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, às 7h
Na Praça dos Expedicionários, Centro do Rio

Bloco Agytoê toca Olodum

Thiago Camara

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