'Macaco me mordeu na Tailândia e gastei quase R$ 6.000 para evitar raiva'
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A influenciadora digital e atriz Paloma Souza, 28, viajou para a Tailândia entre as semanas de Natal e Ano-Novo. Em um dos passeios que fez no país, a baiana de Feira de Santana acabou mordida por um macaco silvestre.
Paloma iniciou uma corrida contra o tempo para ser vacinada corretamente contra a raiva, doença transmitida pela saliva do mamífero —a rapidez no tratamento é essencial porque a doença causa morte na grande maioria dos casos após o surgimento dos sintomas.
A VivaBem, ela conta sua história.
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'Me desesperei'
"Sempre quis conhecer a Tailândia —gosto do clima tropical e das praias que tem lá. Comecei a viagem pela Coreia do Sul, China e, no dia 26 de dezembro, fui para a Tailândia porque queria passar o Ano-Novo lá. Fiquei no país até dia 11 de janeiro.
A ideia do passeio em que macacos surgiu porque estava pesquisando na internet programações legais para fazer em Krabi, uma província da Tailândia, e apareceu uma trilha no Google.
Chegando no início da trilha, os macacos já ficam todos soltos na praia. Pensávamos que iríamos vê-los apenas no percurso, de longe.
Eu não dei comida para o macaco, nem nada. Me mantive sentada, afastada. Só que ele veio até onde eu estava e fiquei parada, para não provocá-lo. Até que, do nada, ele pegou no meu braço e me mordeu.
Na hora em que fui mordida, achei que tinha sido uma besteira, porque você olhava para o meu braço e não tinha quase nada. Até dei risada porque fiz um escândalo quando o macaco me mordeu.
Paloma Souza
Mas quando entendi a gravidade da raiva, uma doença 100% mortal e que pode ser transmitida pela saliva do macaco, caso ele esteja infectado, me desesperei.
'Não tem como saber se estava infectado'
Fui ao posto mais próximo e tanto a médica quanto todas as enfermeiras afirmaram que eu teria de ser vacinada [para evitar a raiva] porque os macacos na Tailândia são selvagens. Não tem como saber qual está infectado com raiva ou não.
Tive de tomar três vacinas: a de tétano, a da raiva e a imunoglobulina. Gastei R$ 4.200 em tudo [segundo Paloma, os tailandeses não pagam pelo serviço, mas ela, como estrangeira, teria de arcar com o custo].
No dia 11 de janeiro, fui para o Japão e tinha de tomar a segunda dose no dia 12, mas estava tudo fechado porque era domingo e no dia seguinte era feriado.
@palomasouza.s Respondendo a @Paatty Hadassa ? som original - Paloma Souza
Então, tomei a segunda dose na terça-feira, dia 14, e depois a terceira. Gastei mais R$ 1.700 com elas [no total, foram quase R$ 6.000]. Eu estava com seguro de viagem, mas no Japão não aceitava.
@palomasouza.sacho que essa vai ser a melhor decisão, voltar pra casa. Tô muito triste, tô tendo um prejuízo muito grande, mas preciso de cuidados melhores agora, porque aqui no Japão ta muuuuito difícil
? som original - Paloma Souza
Decidi voltar ao Brasil [ela antecipou o retorno; pelo plano original, só voltaria no dia 5 de fevereiro] quando comecei a ter uma reação alérgica muito severa no Japão e não estava conseguindo uma consulta para saber o que era. Fiquei com medo.
Quando vi as manchas no meu corpo, não fiquei com medo de ser raiva, mas de ser reação à vacina e eu não poder continuar o tratamento
Não consegui remarcar a passagem, porque estava mais caro fazer isso do que comprar uma nova. Então, comprei uma nova.
Chegando aqui, descobri que as reações não eram por causa da vacina, mas dos remédios que eles me deram para tomar. Eram antibióticos.

'Conselho é ficar longe de animais selvagens'
Fiz uma consulta com um médico brasileiro e parei de tomar os remédios que receitaram na Ásia. Estou usando só um antialérgico por orientação dele.
Vou também tomar normalmente as duas últimas doses que faltam do tratamento, pelo SUS. Uma no dia 23 de janeiro e outra no dia 6 de fevereiro.
Depois de tudo o que aconteceu, o conselho que fica para as outras pessoas é para elas fazerem seguro de viagem e tomarem todas as vacinas que cada país exige e, claro, ficar longe de animais selvagens."
Os perigos ao ser mordido por um macaco
A saliva do macaco silvestre é capaz de transmitir raiva e diferentes bactérias por meio da mordida, arranhão e/ou lambida. A depender da espécie do mamífero, pode ocorrer também a transmissão do vírus da Hepatite B..
A raiva é uma encefalite aguda (inflamação do cérebro) causada por um vírus —a transmissão pode ocorrer não só por macacos, mas cães, gatos, morcegos e saguis. Ao ser mordida por um animal, a pessoa deve procurar imediatamente uma unidade de saúde para receber o tratamento adequado, que inclui soro e vacina.
Os sintomas da raiva começam a aparecer, em geral, entre duas semanas e três meses após o ataque e incluem mal-estar, febre, dor de cabeça, náusea, dor de garganta, fraqueza, dormência e mudanças de comportamento. A doença causa morte na grande maioria dos casos depois do surgimento dos sintomas. Segundo o Ministério da Saúde, a letalidade da doença é de aproximadamente 100%. Na história dos casos de raiva humana no Brasil, apenas dois pacientes sobreviveram.
Ao ser mordido por um macaco, lave o ferimento com água e sabão intensamente. Depois, use álcool 70% ou clorexidina 2% para limpar o local. Se a região da mordida estiver com sangramento intenso, o ideal é comprimir o ferimento com um tecido, com o intuito de estancá-lo. Em seguida, procure imediatamente o serviço de pronto-atendimento.
Como é o tratamento para evitar a raiva?
A pessoa primeiro recebe a soro antirrábico ou imunoglobulina humana antirrábica. Depois, ela é submetida às doses da vacina antirrábica no dia da mordida e 3, 7 e 14 dias após a mordida, via intramuscular. Após a vacina contra raiva, ainda pode ser necessário utilizar antibióticos e antivirais (em especial contra o vírus da hepatite B). A vacina da raiva pode ter efeitos colaterais como dor no local de aplicação, febre, prurido e manchas vermelhas pelo corpo.
O que não fazer na presença de um macaco
Ainda que a interação com o macaco pareça inofensiva, ela é incerta porque o mamífero é um animal silvestre. Veja cuidados:
Não se deve alimentar o macaco para não criar uma relação de dependência do animal com o ser humano. O mamífero pode se tornar agressivo para conquistar a comida e nem sempre o que é oferecido ao animal é o melhor para a saúde dele. Não se deve ficar próximo do animal e muito menos tocá-lo porque ele pode ficar agressivo ao interpretar a aproximação como ameaça.
É preciso atenção principalmente nos locais em que os macacos são utilizados para atrair turistas. Os guias podem ser familiares aos animais por estarem sempre lá e, consequentemente, não serem atacados. Mas quem está visitando o local pela primeira vez é totalmente desconhecido para o mamífero, correndo perigo.
Fontes: Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, infectologista e diretor técnico do Hospital São Paulo, e Pedro P. Rizzato, professor e pesquisador do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP.
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