Autoexame ajuda na prevenção? Explicamos 8 mitos sobre o câncer de mama
Os últimos dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) estimam que 73.610 novos casos de câncer de mama serão diagnosticados a cada ano entre 2023 e 2025. É o tipo de tumor mais frequente entre as mulheres (perdendo apenas para o câncer de pele do tipo não melanoma) e o que mais causa mortes.
Mesmo assim, o tema ainda é pouco conhecido pelas mulheres —que não sabem com certeza quais os fatores de risco para a doença, por exemplo. É o que indica uma pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), em que 71% das entrevistadas acreditam que a principal causa da doença é a herança genética —sendo que ela só é determinante em 5% a 10% dos casos.
Além do desconhecimento sobre a doença, alguns mitos seguem sendo considerados verdadeiros. Cerca de 37% das entrevistadas, por exemplo, ficaram em dúvida sobre a relação entre o uso de sutiã com bojo (estruturado) e o risco de câncer de mama (spoiler: o uso não causa a doença).
Nesse sentido, existem outros mitos que ainda seguem provocando dúvida nas mulheres. VivaBem selecionou os principais para esclarecer, confira:
1. O autoexame previne o câncer de mama?
Esse mito é um clássico: a própria pesquisa do Ipec indica que 63% das mulheres ouvidas estão convictas de que o autoexame seria a principal medida para a detecção precoce do câncer de mama. Mas isso não é verdade. Primeiro porque o autoexame não previne a doença de aparecer: ele ajuda a detectar o tumor, se e quando aparecer.
Segundo que o autoexame só é capaz de identificar nódulos maiores, o que pode indicar um estágio mais avançado. Por isso, ele não substitui os exames clínicos, como a mamografia, que podem detectar alterações menores que um centímetro —antes de serem palpáveis — e, por isso, são fundamentais para a detecção precoce da doença.
Por outro lado, o autoexame é importante para o autoconhecimento da mulher e acompanhamento de qualquer alteração das mamas (mesmo que não envolva sintomas de câncer). Por isso, a recomendação de muitos médicos atualmente é combinar o autoexame com a realização de exames de rastreio para a sua faixa etária e risco.
2. Câncer de mama só acontece em mulheres?
Não. Embora seja uma doença majoritariamente feminina, o câncer de mama também pode acometer homens. Mas são casos raros: estima-se que apenas 1% de todos os casos diagnosticados ocorram em homens e, geralmente, têm relação com herança familiar e/ou questões genéticas.
3. Usar antitranspirante aumenta o risco de câncer de mama?
Outro mito clássico que não é verdadeiro. A história surgiu porque os antitranspirantes possuem sais de alumínio para impedir a transpiração, mas que são absorvidos pela pele. São esses sais que poderiam provocar o câncer na região das axilas e mamas.
Mas até hoje, não existe comprovação científica de que isso possa ocorrer. A própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que não existe relação entre o uso desse tipo de produto e o câncer de mama.
4. Não tenho familiares com câncer de mama, então não corro risco
Não é bem assim. Embora ter parentes de primeiro grau (como mãe, irmã ou filha) com câncer de mama seja um fator de risco considerável, estima-se que apenas 10% dos diagnósticos envolvem hereditariedade. Ou seja: 90% das mulheres com a doença não têm familiares com a doença.
Isso ocorre porque, assim como outros tipos de câncer, os tumores de mama ocorrem por questões multifatoriais e sofrem influência de fatores como idade, estilo de vida e exposição a hormônios.
Por isso, mesmo sem histórico familiar, é importante realizar exames regulares e estar atenta a qualquer mudança nas mamas.
5. Reposição hormonal aumenta o risco para câncer de mama?
Essa é uma pergunta polêmica. Enquanto alguns especialistas ouvidos por VivaBem disseram que sim, outros disseram que ela é segura —desde que feita em mulheres que não tenham histórico pessoal de câncer.
O tratamento consiste na administração de hormônios femininos as mulheres para aliviar os sintomas do climatério, período que antecede a menopausa. Além disso, ainda teria efeito preventivo para problemas típicos dessa fase, como perda de massa óssea e aumento de risco cardiovascular.
Em 2024, a Sobrac (Sociedade Brasileira de Climatério) divulgou um novo consenso, elaborado em parceria com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), detalhou menor as contraindicações para essa terapia e focou em "cânceres sensíveis ao estrogênio". Ou seja, mulheres com histórico pessoal de tumores na mama e endométrio não devem recorrer ao tratamento.
No geral, estima-se que menos de uma para cada mil mulheres que fazem a reposição terá câncer de mama, o que é considerado um risco baixo. Mesmo assim, as mulheres que desejam realizar a terapia de reposição hormonal devem buscar orientação médica e avaliar os riscos e benefícios de forma individualizada, além de seguir rigorosamente as recomendações médicas e manter as reavaliações periódicas.
6. Anticoncepcional provoca câncer de mama?
Depende. Alguns estudos sugerem que sim, o uso de anticoncepcionais hormonais pode estar associado ao aumento de risco para o câncer de mama, especialmente em mulheres que usam esse método por muitos anos e/ou têm histórico familiar da doença.
No entanto, esse risco é muito baixo em mulheres sem histórico familiar ou pessoal da doença, sendo que os benefícios do uso superam os riscos potenciais.
Ainda, de acordo com a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia), pacientes com menos de 40 anos que não tem um alto risco para a doença podem usar o medicamento sem problemas. A partir dos 45 anos, quando o risco passa a ser mais significativo, aí sim, recomenda-se usar anticoncepcionais não hormonais, como o DIU de cobre.
Mas é sempre importante lembrar que a automedicação não é recomendada e um médico precisa ser consultado para avaliar cada caso individualmente.
7. Estresse, mágoa e raiva podem causar câncer de mama?
Não. A pesquisa do Ipec mostrou que cerca de 8% das entrevistadas ainda associam o surgimento do câncer de mama a fatores subjetivos, como as emoções negativas. Mas não há dados científicos que comprovem que isso é verdade.
Por outro lado, doenças como a depressão podem, sim, interferir em uma rotina de vida saudável, prejudicando a alimentação e impedindo a prática de atividade física, por exemplo — esses sim, fatores que aumentam o risco para câncer e outras doenças, como as cardiovasculares.
7. Se eu amamentei, corro menos risco de desenvolver câncer de mama.
É verdade, especialmente se a gestação ocorreu antes dos 30 anos. Há evidências ainda de que, quanto maior o tempo de aleitamento, maior a proteção conferida.
A principal explicação para isso é que a amamentação reduz o número de ciclos menstruais e, consequentemente, a exposição aos hormônios femininos que têm ligação com o câncer de mama, como o estrógeno.
Mas vale lembrar que a amamentar não é garantia de proteção, já que este é um dos muitos fatores que podem influenciar o risco de câncer de mama. Questões como histórico familiar, idade e estilo de vida, também desempenham um papel importante.
8. Manter o peso saudável e praticar atividade física reduzem o risco de câncer de mama.
Verdade. A obesidade e o sedentarismo são fatores de risco para desenvolver não só câncer de mama como vários outros tipos de tumores —para não falar das doenças cardiovasculares.
Especificamente no caso do câncer de mama, o risco entre mulheres obesas é maior, pois o tecido adiposo influencia nos hormônios femininos, aumentando o estímulo para que as células mamárias se multipliquem.
Fontes: Ana Calazans, profissional da área de Ginecologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, das unidades de Laranjeiras e Cariacica (ES); Amanda Lima, radiologista especialista em imagem e procedimentos mamários do Exame Medicina Diagnóstica, laboratório da rede Dasa no Distrito Federal; Gerson Said Cespedes Andia, médico cirurgião da área de Oncologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, da unidade de Apucarana (PR); Paula de Camargo Moraes, radiologista e coordenadora de imagem mamária do laboratório Salomão Zoppi.
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